A História é feita por quem se apossa dela. Perdoem o trocadilho, mas é histórico. Sabe-se lá quantos pontos falhos há nos registros da saga humana desde seu hábito em deixar rastros. As mensagens desse remoto telefone sem fio chegam até nós cheias de interferências e ruídos. Claro, grande parte das informações procede, porém, quem garante Maria Antonieta ter dito “pois que comam brioches”? E se havia na corte um infiltrado, assecla de Robespierre, inventor do mote? Outro é Napoleão, sempre com aquela mãozinha dentro do caseado, uma copiosa fonte de fantasias para fuçadores de alfarrábios. E, exceção aos comunistoides, já é senso comum ser aquela foto de Che Guevara, imortalizada por Alberto Korda, sua verdadeira e única revolução: com a pose tirou da miséria milhões de estampadores de fundo de quintal.
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Só imagino a ideia incutida aos norte-coreanos sobre o comportamento das civilizações extramuros e o que Fidel andou contando aos cubanos por mais de meio século sobre os malefícios da tecnologia ianque… E aqui? Quem leu 1808 e 1822, de Laurentino Gomes, já desconfia de que forma foi moldada uma importante fase da História do Brasil.
Em todo caso, a exemplo dos Estados Unidos, Austrália, Cingapura, Canadá – países de reconhecido papel na educação -, o Brasil agora quer criar um currículo comum a 190 mil escolas brasileiras nos ensinos Fundamental e Médio: a Base Nacional Comum. O documento postado na internet pelo MEC (que pode ser modificado com sugestões até 15 de março) mostra o “essencial” a ser ensinado em matemática, linguagens, ciências da natureza e humanas.
É, mas já tem cheiro de ideologia na coisa. Especialistas apontam a ausência de uma série de fatos importantes nas civilizações do Ocidente. Do historiador Marco Antonio Villa: “não teremos mais nenhuma aula de Mesopotâmia ou Egito, nem filosofia grega, nascimento do cristianismo ou Império Romano. A Revolução Industrial não é citada uma vez sequer, bem como a Revolução Francesa”.
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Villa conclui: “Colocaram no lugar a História da África, chamada de Ameríndia, e uma história indígena malfeita, que exclui toda a América do Norte. Todo nosso cotidiano é pautado por essa herança ocidental, e não por essa proposta absurda, absolutamente descolada da construção dos cinco séculos da escola brasileira”.
Já Priscila Cruz, presidente do Todos Pela Educação, é contra uma listagem enorme para cada série, mas apenas “o que nos une como brasileiros”… Hã? Como? Então a tropa de burros desovada pelas escolas a cada ano ainda por cima ficará sem uma visão universal?
A turra ideológica do PT é conhecida. Espero que a partir de março não precisemos engolir que o Brasil foi descoberto em 13 de fevereiro de 1313 e o rei D. Inácio, o Nunca Antes, dividiu democraticamente o país em “CaPTanias Apadrinhadas”…