Há uns dias, postei no facebook resumida lista com dicas de português, porquanto nossos tropeços gramaticais se multiplicam desconfortavelmente. Mexer nesse assunto é pedir para ser tachado de prepotente. Alguns se incomodam, içam logo a velha bandeira do “o importante é se comunicar”. Ok, para quem me acha chato, ofereço munição: já não domino a análise sintática das orações e, faz pouco, mandei para a rede “messa” em lugar de meça, do verbo medir; além disso, os porque/porquê/por que/por quê sempre me dão cansaço. Nossa língua é madrasta, camuflada, de sutilezas ao gosto do diabo. Mas, daí a cometer barbaridades como “seje”, “menas” ou “pra mim fazer”, é o mesmo que ir sistematicamente a encontros de blusa manchada com shoyo.

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A frase bem escrita ou pronunciada sempre deixará boa impressão. Para tanto, não é preciso ser afetado estudioso da língua. Mas, pelo afrouxamento do ensino e normas no comportamento social, o Brasil tem perdido a capacidade de se expressar a olhos e (se me dão licença) ouvidos vistos. Basta pedir informação na rua para se obter respostas preguiçosas, mal construídas, de pouca objetividade. Se o caro e paciente leitor já visitou o Uruguai – sobre o qual ainda temos equivocado olhar superior – pôde lá constatar o excelente e natural manejo do idioma. Mesmo o humilde uruguaio, de vocabulário seguramente superior ao do brasileiro, conserva leve formalidade, quase poética, no mais abreviado bate-papo.

Indiscutível: o razoável domínio da gramática é forte pilar no sucesso. Não custa nos esforçarmos para evitar o mau julgamento do interlocutor prestes a nos propor bom negócio ou iniciar um convívio social. Também não custa fixar definitivamente: “faz cinco anos”, “houve dias de sol”, “depois de ele discursar, aplaudimos”, “quando vir Paulo, cumprimente-o”.

É questão de interesse. Por força do ofício tenho à mão Os 300 Erros Mais Comuns da Língua Portuguesa (Eduardo Martins, Laselva). Recomendo esse prático pai-dos-burros.

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Esta semana, uma docente universitária conduzia a prova semestral e o aluno pediu auxílio: – Professora, eu entendi toda a questão, só não sei o que é “exceto”. Sentiram? É o teatro do absurdo. O sujeito alcançou o ensino superior sem saber o significado de exceto. Como conseguiu? Desconhecer exceto nesse nível é análogo a ingressar em Matemática sem saber da existência do zero.

Arrematando: em tempos de publicitário, incumbi certa secretária de aferir os espaços de alguns anúncios. Depois de causar grossa confusão, descobrimos que a moça iniciava a centimetragem pelo 1 da régua, pois, segundo ela, “o zero não valia nada”. À noite cursava Administração, exceto quando ia pra balada…