Os moradores de Jaraguá do Sul estão habituados a observar os rios que cortam a cidade: sempre do alto, a visão aponta para as águas lá embaixo. Inusitado é inverter o olhar e, do nível da correnteza, ver a cidade surgindo pelas margens. É essa experiência, marcada por belas paisagens, que o Canoagem para Todos propicia. O evento, realizado pelo Clube de Canoagem Kentucky em parceria com a Fundação Municipal de Esporte (FME), ocorre uma vez por mês. Sempre de graça.

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O evento começou a ser realizado no ano passado e logo entrou para o calendário oficial do Jaraguá Adventure, programa da FME que abre modalidades esportivas para a participação gratuita dos moradores (ciclismo e caminhada também constam na lista). Neste ano, serão ofertados sete passeios de canoagem. O primeiro, no dia 8 de março, teve lotação esgotada e lista de espera de mais de 20 pessoas. E é assim na maioria das edições: é preciso adiantar-se para conseguir uma vaga em uma das canoas que servem de transporte para o passeio. O limite de participantes é 36, correspondente ao número de lugares nas 18 canoas disponíveis, que são para duas pessoas cada. A disputa por um cantinho em uma das canoas é grande: para o próximo passeio, no dia 25 de abril, já há lista de espera. Quem quiser se programar terá que ficar atento: as inscrições sempre abrem logo após o último passeio realizado.

Como o programa deu certo e a procura é grande, a Fundação de Esporte quer investir e aumentar a participação. A compra de outras dez canoas está sendo orçada e deve fortalecer a modalidade, propiciando a participação de mais 20 pessoas nos passeios.

Não raro é que a participação no Canoagem para Todos se transforme em amor pela água e na imersão no esporte. Muitos dos adeptos repetem o passeio dos fins de semana e depois começam aulas no clube – alguns aderindo como sócios depois. Os preços são módicos. O aluno paga R$ 30 e pode acompanhar quantas aulas quiser por semana por um prazo de 45 dias (os encontros são diários a partir das 17 horas). Já para ser sócio o valor é R$ 20 para a inscrição mais R$ 10 a mensalidade, com validade para toda a família.

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Passeio para todos

Entre os participantes do dia 8 de março havia gente de todos os perfis. Eduardo Mara, 34, já passeou de caiaque no mar. Viu a oportunidade de uma prática esportiva diferenciada, que reúne contemplação da natureza e aventura, além da chance de conhecer novas pessoas – boa opção para quem, como ele, está há pouco tempo na cidade. Esportista adepto de caminhadas e exploração nos morros da região, Eduardo finalizou o passeio já pensando em percursos mais ousados de canoa.

Laércio Müller, 61, também havia vivenciado os passeios de caiaque na praia. Porém, viu a cidade de outra forma após o passeio pelo rio. Com gosto pela aventura, ele saiu do rio com o desejo de voltar, porém na companhia de sua esposa, que desta vez preferiu ficar em terra.

Outros não foram a sós e levaram consigo toda a família. Ida de Andrade, 30, não deu apenas seu nome para a lista do passeio: inscreveu de uma vez toda a família. Nove pessoas foram intimadas e compareceram ao evento, entre casais e crianças.

Todos apreciaram o passeio e garantem que querem voltar. Para eles, não foi apenas a natureza que chamou atenção, mas seu reverso: a poluição do rio foi notada com tristeza, assim como o lixo preso nas margens do leito. Ao chegar à região mais urbanizada do percurso, já nos bairros Rau e Amizade, o cheiro da água mudou e indicava a presença de humanos.

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Vivenciando esse aspecto, os membros do Kentucky realizam limpezas dos rios da cidade: os leitos são percorridos e os entulhos, retirados das margens. A primeira limpeza deste ano ocorre neste domingo no rio Itapocu, do trecho de Nereu Ramos até o Centro.

Cinco quilômetros de remadas

O primeiro passeio de 2015 foi marcado por um clima de alegria e descontração. O domingo reservou um clima ideal para a canoagem: tempo nublado e de temperatura amena. Antes do horário marcado, a maioria dos participantes já aguardava na sede do Clube de Canoagem Kentucky. O presidente do clube, Renato Fritsche, passou as instruções gerais em um clima bem-humorado. E ali já foram entregues os coletes salva-vidas e remos. Tudo em ordem, os participantes foram encaminhados para o ônibus, que levou o grupo até a Ponte do Rodeio, estrutura que liga os bairros Três Rios do Sul e Três Rios do Norte. Foi lá que começou o passeio rumo ao rio, que durou cerca de uma hora e meia.

Em fila, as canoas eram colocadas na água e os participantes achavam um jeitinho de embarcar. Todos a postos, houve a tradicional parada para a foto oficial e, enfim, foi dada a largada. Cada dupla seguiu no ritmo desejado, deixando-se levar pela correnteza ou garantindo velocidade com os remos. Alguns giros ao redor do próprio eixo também ocorreram, sinal claro da categoria iniciante das duplas, que por vezes demoraram a encontrar o ritmo dos remos. Todo o percurso, porém, é acompanhado por membros do clube, que tratam de instruir, ajudar e incentivar.

Os cenários inspiram paz. A água reflete suas margens, pássaros voam sobre o rio, a vegetação das laterais soma-se a pedras e passa toda a sensação de tranquilidade possível. Mas também há aventura. No percurso de cinco quilômetros até o clube, há pequenas corredeiras, pontos nos quais o leito do rio é crivado de pedras, que ativam a correnteza. São os momentos mais divertidos. A velocidade aumenta nas miniquedas-d?água formadas pelas pedras, a canoa balança descendo o rio, a água se espalha. Nada arriscado, porém com um pouco mais de aventura.

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Para os marinheiros de primeira viagem, porém, a correnteza mais intensa pode representar desafios. Um tronco em meio à primeira corredeira foi o ponto de parada de duas canoas, que ficaram presas à madeira. Os navegadores precisaram da ajuda de membros do clube para se verem livres novamente. Tirando isso, não houve incidentes.

Quem quer participar do evento não pode esquecer de escolher a roupa certa. Quem pensa em sair sequinho do rio engana-se. Mesmo que a água das corredeiras não entre nas canoas, as gotas trazidas a cada remada acabam deixando ao menos as pernas inteiramente molhadas. Por isso, equipamentos eletrônicos não são recomendados, a não ser que sejam à prova de água – e possam ser presos ao corpo, evitando que caiam no rio.