O número de candidatos militares e policiais cresceu 28% em Santa Catarina nas Eleições 2022 em relação à disputa de quatro anos atrás. Neste ano, o Estado tem ao menos 36 concorrentes a algum cargo público que exerce atividades nas forças armadas ou de segurança pública. Em 2018, esse número foi de 28.
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Dos 36 candidatos na disputa, 26 indicaram como ocupação no registro de candidatura cargos relacionados à carreira militar ou policial — bombeiro militar, militar reformado, policial civil ou militar. Além disso, outros 10 concorrentes não indicaram essas profissões, mas utilizam nomes de urna que carregam patentes das forças armadas ou cargos da área da segurança, como coronel, soldado, policial e delegado.
A maior parte dos candidatos militares disputam uma vaga na Assembleia Legislativa (Alesc). São 25 em busca deste cargo. Outros 10 tentam uma cadeira na Câmara dos Deputados, em Brasília. A única profissional desta área que não concorre a postos no legislativo é a delegada Marilisa Boehm (PL), candidata a vice-governadora na chapa de Jorginho Mello (PL).
O cenário é parecido com o registrado quatro anos atrás. Na ocasião, o Estado tinha um militar na disputa de um cargo majoritário — o então Comandante Moisés, bombeiro militar da reserva à época do PSL, que concorreu pela primeira vez a governador e foi eleito. Os outros militares e policiais com ocupação declarada ou nome de urna ligado à carreira em 2018 disputaram as vagas de deputado federal (11) e estadual (15).
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Na ocasião, apenas três dos candidatos da época foram eleitos: Sargento Lima e Coronel Moccelin para deputado estadual e Coronel Armando para federal. Todos concorreram pelo PSL, na época o mesmo partido de Jair Bolsonaro.
Entre os candidatos deste ano que utilizam nome de urna ligados ao setor militar ou policial, mas não declaram ocupação nesta área, estão cargos como advogado, aposentado e servidor público.
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Os termos usados por quem quis reforçar a identificação com a categoria no nome de urna são sargento (9), coronel (6), subtenente (4), soldado (1), cabo (3), policial (4) e delegado (3).
A eleição em SC pode ter mais candidatos pertencentes à categoria militar, mas que não declararam essa função como ocupação e nem utilizaram essa condição no nome de urna. O governador Moisés, por exemplo, embora seja coronel da reserva do Corpo de Bombeiros Militar, este ano não utilizou o termo “comandante” como nome na urna, e declarou a ocupação como “governador”.
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Influência dos militares no governo federal
O aumento da presença de militares na política é um fenômeno que voltou a estar em alta no cenário nacional nos últimos anos. A eleição do presidente Jair Bolsonaro, capitão reformado do Exército, com o general Hamilton Mourão de vice e a posterior entrada de militares em postos-chave do governo federal aumentaram a visibilidade destas categorias na política partidária.
A professora de Ciências Políticas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Anaís Medeiros Passos, pesquisadora sobre a relação entre membros das Forças Armadas e a política, confirma que a tendência de maior presença de militares na política ocorre também em outros estados e tem relação com o protagonismo dessa categoria no governo federal sob a gestão Bolsonaro.
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Além disso, a mobilização de movimentos mais conservadores, com bandeiras da direita como família e nacionalismo, também facilitariam a presença dos militares, que segundo ela costumam encarnar esses valores.
Ela afirma que, embora não seja ilegal que militares da reserva sejam candidatos, “não é o desejável” que a carreira política apareça no horizonte de quem decide entrar nas Forças Armadas. Um dos motivos seria o fato de que os militares têm monopólio dos meios de violência, como as armas, o que pode provocar reflexos como o aumento da tensão no campo político.
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O sintoma foi visto nos últimos anos no país, até mesmo com conjecturas de um possível golpe. Outro sinal desta influência pôde ser visto na combinação dos recentes atos de 7 de Setembro e manifestações eleitorais em favor do presidente pelo país.
— Essas candidaturas militares, mais especificamente dos reformados, acontecem em um contexto em que as Forças Armadas, as instituições militares estão politizadas. Não é algo separado desse movimento maior de politização dos militares. Acho que candidaturas episódicas, não há problema, mas neste caso me parece que é um processo mais amplo — pontua.
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Candidatos militares e policiais em SC
2022
Deputado federal: 10
Deputado estadual: 25
Vice-governadora: 1
Total: 36
2018
Deputado federal: 11
Deputado estadual: 15
Governador: 1
Total: 27
Variação: +33%
* Candidatos que declararam como ocupação cargos da carreira militar ou policial ou que utilizam nome de urna com funções destas áreas
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
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