Com apenas 15 dias para o primeiro turno das eleições, os principais candidatos à Presidência da República realizaram somente duas agendas em Santa Catarina desde que tiveram as candidaturas oficializadas nas convenções de junho. O número é inferior ao pleito de 2010, quando Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (então filiada ao PV, hoje PSB) e José Serra (PSDB) vieram, ao todo, seis vezes ao Estado.
Continua depois da publicidade
Neste ano, somente Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) realizam atos públicos em território catarinense, ambos em julho. O candidato tucano programa mais uma agenda em SC no dia 25 deste mês, ainda sem local definido. Já a vinda de Dilma está descartada pelo comitê suprapartidário estadual, ao menos até o primeiro turno. E os apoiadores de Marina, usando como argumento o avanço das intenções de voto da petista em SC, conforme a última pesquisa Ibope, tentam trazê-la dia 23 de setembro.
>>> Leia também
::: Site especial do DC terá apuração em tempo real
Continua depois da publicidade
::: Outras notícias das Eleições 2014
::: Datafolha aponta que Dilma tem 37%, Marina com 30% e Aécio, 17%
Coordenadores de campanha dos presidenciáveis em Santa Catarina alegam que a eleição deste ano é atípica por causa da morte de Campos, a rápida ascensão de Marina e a chance de Dilma ser derrotada pela pessebista num eventual segundo turno. Assim, a estratégia dos candidatos é concentrar esforços nos grandes colégios eleitorais, sobretudo no eixo São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais que, juntos, somam 59,2 milhões de eleitores. Santa Catarina, por sua vez, contabiliza somente 4,8 milhões, 3,4% do eleitorado brasileiro.
Dezessete agendas entre RJ, SP e MG
A tese se confirma nas agendas dos candidatos. Em uma semana, entre os dias 12 de setembro e essa última sexta-feira, eles cumpriram 17 compromissos no Sudeste. Marina esteve quatro vezes em SP e duas em RJ; Dilma duas vezes em SP, três em RJ e uma em MG; e Aécio quatro vezes em SP e duas em MG.
O presidente do comitê suprapartidário da petista em SC, Paulo Eccel, confirma a tese de que Dilma está se focando nos grandes centros eleitorais:
Continua depois da publicidade
– Dilma não veio nenhuma vez ao Estado e não deve vir até o primeiro turno porque ela está se dedicando às regiões com mais eleitores. Sobretudo em São Paulo, onde Marina apresenta uma vantagem que precisa ser superada.
Eccel lembra também que a candidata à reeleição tinha um compromisso agendado em Laguna no mês de agosto, que não se concretizou, segundo o coordenador, por conta de atrasos do deslocamento aéreo. Outro agravante é o constrangimento de Dilma ter dois palanques no Estado, com Claudio Vignatti e Raimundo Colombo.
A ausência de Marina é justificada pela abrupta mudança dos rumos do PSB nas eleições com o falecimento de Campos. Segundo o coordenador de campanha Luciano Formighieri, o cronograma de campanha foi encurtado.
Continua depois da publicidade
– Programas de rádio e televisão tiveram que ser refeitos às pressas. Os novos materiais impressos também tardaram a chegar – disse.
Relembre as visitas dos presidenciáveis a SC:

“Santa Catarina nunca teve força política”, analisa professor
Cientista político e professor da Univali, Eduardo Guerini avalia o desprestígio de Santa Catarina na campanha dos presidenciáveis. Para ele, o Estado nunca teve força política nas eleições nacionais por conta de sua baixa densidade eleitoral. Além disso, aponta coligações pragmáticas e enfraquecimento ideológico como fatores que afastam os candidatos dos eleitores catarinenses.
Diário Catarinense – Qual a posição estratégica do Estado para os candidatos à presidência da República?
Continua depois da publicidade
Eduardo Guerini – Nessa eleição, devida a fragilidade da reeleição de Dilma, existe um foco nos grandes colégios eleitorais. São Paulo, Rio e Minas, além da Bahia, concentram o maior número de eleitores e por isso são Estados decisivos no pleito presidencial. Já SC nunca teve importância política, em termos nacionais, por ter uma densidade eleitoral muito baixa. Hoje há uma estratégia tanto da oposição quanto da situação de priorizar grandes colégios para assim ter arrancada em um contexto de polarização, agora entre Dilma e Marina, ainda mais com a perspectiva de derrota do atual governo.
DC – Outros fatores contribuem para afastar de SC os candidatos?
Guerini – Os colégios com menor importância ou visibilidade para aliança governista ou que tenham coligações que são bastante divergentes da aliança nacional são geralmente descartados, pois ocasionam problemas na montagem dos palanques. Dilma, por exemplo, nem visitou SC ainda. Primeiro porque o PT não tem expressão na eleição ao governo do Estado e não consegue condensar votos para a presidenciável. Segundo porque as principais lideranças catarinenses foram rifadas dentro do Planalto na última reforma ministerial. A vinda de Dilma também poderia até mesmo prejudicar a campanha do governador Raimundo Colombo, dada à rejeição da presidente, mesmo ele declarando apoio a ela.
DC – E quanto aos candidatos de oposição?
Guerini – A oposição também não tem muito interesse uma vez que não tem apoio de candidatos potenciais a governador. Quem puxa voto, na verdade, são candidatos a governador e candidatos proporcionais. Além disso em SC temos uma salada de frutas ideológica na composição das coligações, o que causa um enfraquecimento político para o próximo governo federal, seja ele da continuidade ou de oposição. Aqui não temos personagens políticos vinculados a determinadas ideologias. O que impera são alianças fisiológicas, com partidos de aluguel. Temos famílias de políticos que historicamente não estão associados ideologicamente a certos partidos. Essas ações criam coligações pragmáticas, oportunistas, com pouca densidade ideológica, criando assimetrias com campanhas nacionais.
Continua depois da publicidade
DC – E qual o impacto da morte de Eduardo Campos nas estratégias de campanha?
Guerini – A tragédia que se abateu com a queda do avião foi também uma tragédia par ao governo Dilma, porque daquilo surgiu um candidato com potencial de quebrar o ciclo petista. A tendência, até o momento, é o governo perder uma eleição que até pouco tempo estava garantida. Com o acirramento da disputa, o foco se dirige onde há maior número de eleitores.