A resposta está na ponta da língua de muitos florianopolitanos. A mobilidade urbana é uma das maiores preocupações dos moradores da Capital e um dos principais temas da campanha municipal. Para a estreia da série Vida Real, o Diário Catarinense convidou os seis candidatos à Prefeitura de Florianópolis para responder duas perguntas sobre o tema.

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Com grande parte de seu território localizado em uma ilha, Florianópolis tem limitações físicas que, somadas ao crescente número de veículos, gera congestionamentos diários. Para especialistas, uma saída é tirar o foco do transporte individual (carros e motos) e passar a apostar no transporte de massa. A conta é simples, um carro pode transportar, em média, até cinco pessoas, enquanto que um ônibus tem capacidade média de 75 passageiros.

Hoje, a cidade conta com apenas um tipo de transporte coletivo, o ônibus, em um sistema integrado que gera polêmica sobre sua eficácia. Neste contexto, uma das discussões gira em torno da aposta em novos modais, como transporte marítimo e o BRT. Para o professor da Universidade Federal de Santa Catarina e coordenador da Câmara de Mobilidade do Fórum da Cidade, Werner Kraus, a discussão sobre transporte coletivo só faz sentido que envolver a região metropolitana da Grande Florianópolis, sendo que a conexão poderia ser feita por sistema rodoviário (ônibus), transporte aquaviário ou até em soluções a longo prazo, como trens.

Para convencer as pessoas a deixarem seus carros na garagem e optarem pelo transporte coletivo, Kraus avalia que essa troca só ocorre se o cidadão tem certeza que chegará mais rápido no seu destino.

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– Desta forma, ele aceita viajar em pé em troca da comodidade de não precisar dirigir no trânsito caótico. Por isso precisamos de canaletas exclusivas para ônibus – defende.

Os desafios para a mobilidade urbana em Florianópolis é um dos temas debatidos pelo movimento Floripa Te Quero Bem. Durante as discussões sobre o assunto, o comitê consultivo lançou questões como a redução da necessidade de deslocamento das pessoas provocado pela centralização dos serviços básicos. Outro ponto foi a qualificação do transporte, para que se torne mais sustentável e menos poluente, além da priorização do transporte ativo, como bicicletas e caminhadas, e do coletivo, que deve ser de qualidade, confortável e com preço acessível.

Perguntas

1 – O que o senhor (a) pretende fazer, de forma objetiva, para estimular as pessoas a usarem mais o transporte coletivo e deixarem os carros em casa?

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2 – O (A) senhor(a) considera viável o transporte marítimo? Se sim, que percursos poderiam ser implantados em Florianópolis?

ANGELA ALBINO (PC do B)

1 – O cidadão tem que fazer as contas e valer a pena. Tornar o transporte público eficiente, barato e de qualidade é a única maneira de torná-lo competitivo em relação ao carro. Vamos baratear a tarifa com um Fundo Municipal que separe a passagem do custo do transporte. Não podemos mais onerar o cidadão que já contribui com a cidade com um alto valor de tarifa. Vamos melhorar os ônibus e construir vias exclusivas. Não seremos mais reféns de um único modal porque vamos implantar o transporte marítimo e construir e integrar ciclovias investindo no transporte ambientalmente sustentável e integrando os modais.

2 – Florianópolis precisa se voltar de frente para o mar. Vale lembrar que a última tentativa de implantar esse modal foi feita pelo governo de Frente Popular, em 1993, com um projeto piloto que saía do trapiche da beira-mar e ia até Ingleses. Esse modal é uma saída para o dramático problema da mobilidade e uma das maneiras para aliviar o tráfego nas pontes facilitando o deslocamento de moradores e trabalhadores. Definir os trajetos depende de estudos mais criteriosos, que envolva também o tipo de embarcação. Mas nossa determinação política é muito clara: vamos fazer o transporte marítimo.

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CÉSAR SOUZA JÚNIOR (PSD)

1 – Temos hoje um transporte público municipal ineficiente e muito caro. A passagem de ônibus de Florianópolis é a segunda mais cara das capitais do país. Nossa meta é trazer para entre as cinco mais baratas. Como se faz isso? Abrindo o sistema para uma nova licitação. Na nossa administração as obras irão privilegiar o ônibus, e não apenas o automóvel. Não adianta fazer um elevado se esse elevado não conta com uma calha exclusiva para ônibus. Isso é improvisação, e a cidade está cansada de improvisação. Outra proposta é utilizar 20% do Fundo Municipal de Trânsito na implantação de ciclovias.

2 – O transporte marítimo é absolutamente viável, mas para ser eficiente deve estar integrado com o transporte coletivo e também no conceito de região metropolitana. De nada adianta trazer as pessoas de barco e largar em um descampado afastado do Centro. É preciso ter um sistema de ônibus que ofereça um deslocamento rápido e seguro até o destino final. Como prefeito da Capital, vou assumir a responsabilidade de chamar os demais prefeitos das cidades litorâneas da nossa região para fazermos de uma vez por todas um plano de transporte marítimo eficaz e viável, ligando Florianópolis a Palhoça, São José e Biguaçu.

ELSON PEREIRA (PSOL)

1 – A frente de Esquerda promoverá mudança estrutural no Sistema de Transporte Municipal; priorizará o transporte coletivo de massa intermodal (terrestre e marítimo), com qualidade, confortável, confiável, com acessibilidade universal, financiado pelo conjunto da sociedade, na busca gradativa da implantação da Tarifa Zero; para isto criará o Fundo Municipal de Mobilidade Urbana de modo a financiar as iniciativas de melhoria da mobilidade urbana com recursos oriundos de diversas fontes: recursos orçamentários, retorno do IPVA, Zona Azul, propaganda veiculada em ônibus etc e criará a Companhia de Transporte Coletivo Municipal.

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2 – Nenhuma medida será executada sem profundo planejamento participativo. Será executado um estudo de viabilidade técnica-econômica para a implantação do transporte marítimo nas baías Norte e Sul, integrando a parte continental à ilha de Santa Catarina e buscando a conexão com os demais municípios da área conurbada. Os percursos e a localização dos terminais dependerá de estudos de demandas comunitárias e de pesquisa Origem-Destino; os terminais seguirão o princípio da intermodalidade (terão estacionamentos para carros e bicicletas e conexão com o transporte coletivo terrestre) e terá tarifa integrada com o transporte coletivo terrestre.

GEAN LOUREIRO (PMDB)

1 – Para que as pessoas deixem o carro em casa, precisamos de um transporte coletivo eficiente e barato. A tarifa única, implantada no atual governo, foi um grande ganho para a população e os empregadores. Vou trabalhar para baratear ainda mais este valor. Quanto à eficiência, eu entendo como rapidez e conforto. É neste sentido que vejo o transporte coletivo no meu governo. O sistema de BRT se mostrou o mais eficaz na nossa cidade. Vamos implantá-lo. Ele terá calhas exclusivas, permitindo que se desloque rapidamente. Além disso, vamos investir em outros modais de transporte como o marítimo, além de ampliar ciclovias com segurança.

2 – Com certeza. Neste ano, quando fui secretário de Governo de Florianópolis, articulei a primeira reunião entre os prefeitos e o Governo do Estado para implantação do transporte marítimo na Grande Florianópolis. Está bem encaminhado, e acredito que ainda neste ano saia uma autorização provisória para o modal. Contratamos uma empresa para estudar o melhor ponto de embarque e desembarque: nos fundos do Centrosul. Naquele local, já existe uma passarela integrando com o Centro e o Ticen. No meu primeiro ano de mandato, será realidade, e terá integração com o transporte coletivo rodoviário. O transporte marítimo será, inicialmente, integrado com Palhoça, São José e Biguaçu.

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GILMAR SALGADO (PSTU)

1 – Para as pessoas usarem mais o transporte coletivo, ele tem que ser de qualidade e barato. Tem que ter mais linhas, mais horários, ônibus melhores e passe livre para estudantes e desempregados. Hoje o transporte de Florianópolis enriquece um grupo de empresários, que financiam campanhas eleitorais, e não atende aos trabalhadores e a maioria da população. O PSTU propõe a municipalização dos transportes. A prefeitura deve retirar as empresas das mãos dos empresários e construir uma empresa única, administrada por Conselhos Populares. Só assim poderemos ter um transporte de qualidade.

2 – Municipalizando o transporte é possível sim implantar o transporte marítimo. Uma empresa municipal única que gerencie todo transporte coletivo pode implantar transporte marítimo integrado aos ônibus. E vamos construir Conselhos Populares onde população vai decidir que percursos são necessários. Agora na campanha todos os candidatos vão falar que é preciso ter transporte marítimo, no entanto, mais uma vez a hipocrisia vem à tona, pois há mais de vinte anos fala-se em transporte marítimo, mas quando eleitos, assumem o governo e nada acontece, pois governam para os ricos e poderosos.

JANAÍNA DEITOS (PPL)

1 – Reduzir radicalmente o tempo de deslocamento e o preço da passagem. Incorporamos ao Plano de Governo a proposta do novo Plano Diretor. Será chamado de sistema “Rapidinho”, que será nossa principal obra de infraestrutura. Uma rede ativa de corredores com linhas exclusivas de ônibus Norte-Sul, Ilha-Continente e o corredor circular do centro da cidade, totalmente integrado e informatizado. Uma passagem paga dará direito a usar qualquer ônibus do sistema durante 2 horas sem limite de utilização neste período. Para operar o sistema será criada a Empresa Pública de Transporte Coletivo.

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2 – Sim, é viável. Temos a experiência do transporte lacustre da Costa da Lagoa. O transporte marítimo precisa ser da região metropolitana de Florianópolis porque diminuirá o fluxo de veículos nesta região, melhorando a mobilidade urbana. Os trajetos serão nas baias norte e sul, contemplando a ilha e o continente, com pontos de embarque integrados ao Sistema RAPINHO. Os itinerários demandam um estudo mais completo, mas propomos inicialmente, Ribeirão, Tapera, Aeroporto, Centro, Cacupé, Santo Antônio de Lisboa, Sambaqui, Jurerê, Canasvieiras, Coqueiros, Itaguaçu, Abraão, Estreito e Balneário.