Você vê Robben arrancar com a bola dominada feito velocista cortando quem lhe passa à frente em inabalável carreira em direção ao gol e não acredita que esse cara, por isso mesmo, já foi considerado egoísta, individualista, egocêntrico. Ele até tentou mudar, ficou mais solidário em campo e não deu certo. Então, assumiu de vez a fome de bola e hoje é candidato a melhor jogador da Copa.

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Contra o México neste domingo no Castelão, pelas oitavas, Robben terá outra chance de correr e driblar à vontade. A fama agora é só folclórica, mas já foi nociva. Chegou ao ápice nas primeiras temporadas do seu Bayern de Munique.

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O centroavante Mario Gomez havia muito penava por marcar um gol e, em determinada partida, houve dois pênaltis a favor. Robben converteu um. No segundo, minutos depois, os companheiros viram ali a chance de Gomez bater e espantar a má sorte. Mas Robben tomou a frente e fez a cobrança. Ribéry o criticou publicamente:

– Eu pensei que o Mario fosse chutar. Teria sido bom para sua autoconfiança. Acredito que temos de ter maior consciência coletiva.

O jornalista esportivo Philip Verminem conferiu da redação da Deutsche Welle, em Berlim, esse momento delicado por que passou o grupo do Bayern, em 2011. E olha que Robben chegara a Munique em 2009 atormentado por lesões musculares e problemas no tornozelo, outra marca registrada que o acompanhava desde os tempos de PSV Eindhoven e Chelsea.

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– Houve um momento que a pressão contra sua individualidade era tão intensa que ele se prontificou a driblar menos e até passar a bola. Mas aí desapareceu, não era o seu jeito, o seu estilo. Acabou voltando atrás e se tornou mais decisivo ao Bayern do que o francês Ribéry, que o criticava – lembrou Verminem.

Contribuía para a má fama de Arjen Robben o fato de o holandês ser uma pessoa caseira, introvertida, voltada à família, pouco afeito às brincadeiras no grupo do Bayern patrocinadas por Muller e pelo próprio Ribéry.

– Ele não é o cara da piadinha, fica recolhido, e isso lhe dá um ar de arrogância – contou o jornalista.

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Quando ele perdeu o pênalti ao final da Liga dos Campeões de maio de 2012, e o Bayern viu a festa do Chelsea em plena Allianz Arena, em Munique, um fardo lhe caiu sobre os ombros: o arrogante também amarelava em grandes decisões.

Havia mais: à época, afetado por lesões, participara até então de apenas 55% dos jogos no clube, talvez devido ao seu desprendimento físico. Sua arrancada é uma das mais velozes do mundo. Agora, na Fonte Nova, no quinto dos 5 a 1 da Holanda sobre a Espanha, ele partiu atrás do zagueiro Sergio Ramos, chegou à frente e marcou o gol.

O espanhol correu muito no lance, a 30 km por hora, mas Robben zuniu a 37 km e ainda teve fôlego para driblar o goleiro Casillas e deixá-lo estarrecido no gramado – a imagem da humilhação na Copa.

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Com autoridade, Robben se tornou o centro técnico do Bayern, embora a palavra final pertença a Lahm e a Schweinsteiger. Ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung, o holandês declarou em dezembro de 2013:

– Se eu não arriscar, se não driblar e usar a velocidade, não serei o Robben.

É esse o atacante que vem decidindo para a Holanda no Brasil, com o compadrio do amigo Louis Van Gaal. O mínimo de desencontros que havia entre os grupos dos jogadores brancos e negros da seleção foi dissolvida com a mão forte do técnico, que impôs uma lei marcial na equipe, segundo a qual todos devem trabalhar para as estrelas de Sneijder, Van Persie e Robben, o trio forte dos laranjas.

– Como dizem os alemães e holandeses, o Robben pratica um “futebol de tempo”, ou seja, de velocidade. Para eles, acelerar é ganhar tempo, e isso é valioso – comentou Verminem.

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O canhoto Robben nasceu sob a fria brisa do Mar do Norte na pequena Bedum, norte da Holanda. Cedo transferiu-se para Groningen e se tornou profissional na cidade de vastos estacionamentos de bicicletas e canais que acompanham as ruas arborizadas, os carros estacionados ao lado de pequenas embarcações e prédios centenários de três pisos e trens elétricos na zona central.

Foi para o PSV Eindhoven aos 18 anos e, aos 19, sofreu o maior susto de sua vida. Médicos do clube suspeitaram de um tumor nos testículos, o que foi logo descartado.

Assim o holandês voador transferiu-se para o Chelsea em 2004 por 18 milhões de euros, pulou para o Real Madrid em 2007 por 36 milhões de euros e chegou ao Bayern em 2009 em troca de 24 milhões de euros. Ao final da Copa poderá valer o dobro, apesar dos 30 anos e da leve fama da arrogância.

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