*Por Jane E. Brody

Sempre falamos sobre como exames regulares podem nos proteger contra formas de câncer potencialmente mortais. Um simples exame de sangue foi criado em 1994 para detectar a possível presença do câncer de próstata, a segunda principal causa de câncer entre os homens americanos, e não é difícil entender como e por que ele se tornou tão popular.

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Repentinamente, nas décadas que se seguiram à aprovação desse exame conhecido como PSA – ou antígeno específico da próstata, na sigla em inglês –, o número de homens que receberam diagnóstico de câncer de próspera disparou, juntamente com o número de biópsias realizadas nessa pequena glândula entre a bexiga e o pênis, responsável por produzir o líquido seminal para nutrir o esperma.

O objetivo do exame é encontrar formas agressivas de câncer com antecedência suficiente para reduzir o risco de morte, e as estatísticas nacionais de saúde parecem justificar a popularidade do exame PSA. Atualmente, 90 por cento dos casos de câncer de próstata são revelados no momento em que a doença ainda está circunscrita à glândula e a seus vizinhos mais próximos, e praticamente cem por cento dos homens examinados nesse estágio têm expectativa de vida superior a cinco anos. De fato, atualmente a prevalência do câncer de mama caiu mais de 50 por cento desde que o PSA foi aprovado como exame pela FDA (a agência americana reguladora de alimentos e drogas).

Entretanto, a controvérsia a respeito do valor e da necessidade de testes anuais de PSA para a maioria dos homens surgiu por boas razões. No caso de muitos homens com resultados positivos para câncer de próstata após o exame de PSA, a doença não é nem agressiva nem potencialmente fatal. Na verdade, o câncer de próstata é encontrado nas autópsias de mais de um terço dos homens que morrem por outras razões com mais de 70 anos.

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Ainda assim, quando uma biópsia é realizada após um exame de PSA com resultado positivo, até mesmo formas benignas de câncer podem gerar ansiedade e alguns homens optam por tratamentos desnecessários que podem causar impotência, incontinência ou ambos.

Os graves problemas causados pelo excesso de diagnósticos e tratamentos contra formas de câncer que não representam uma ameaça real à saúde ou à vida dos homens levou à tentativa de desenvolver diretrizes mais apropriadas para os exames de PSA, com o objetivo de determinar se homens que não apresentam sintomas relacionados à próstata devem ser submetidos a exames de PSA, com que frequência, como os resultados devem ser interpretados e quando é necessário realizar biópsias e outros testes.

Como escreveu o dr. Henry Rosevear, urologista que defendeu a importância do exame de PSA na revista científica "Urology Times": "Nem todos precisam ser submetidos a exames, nem todas as pessoas com níveis elevados de PSA precisam passar por biópsias e, sem sombra de dúvida, nem todas as pessoas com câncer de próstata precisam ser submetidas a tratamentos agressivos."

Na maioria dos casos, o câncer de próstata se desenvolve lentamente, e níveis de PSA inferiores a quatro nanogramas por mililitro de sangue são considerados normais. Porém, quando os níveis de PSA sobem rapidamente, digamos de 4 para 6 ou mais em apenas um ano, é provável que os médicos sugiram uma biópsia. Cerca de 80 por cento dos homens com níveis elevados de PSA – que foram submetidos a uma biópsia e revelaram a presença do câncer de próstata – apresentam uma forma benigna da doença, que dificilmente traria um risco de morte.

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Em maio de 2018, a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA concluiu que, para homens entre 55 e 69 anos, a decisão de fazer testes de PSA deveria ser tomada em conjunto pelos pacientes e seus médicos, com base nas preferências, valores e fatores de risco.

Os homens com muitos problemas de saúde e expectativas de vida reduzidas, assim como aqueles que optariam por não fazer o tratamento caso o câncer fosse detectado, não devem realizar o exame, de acordo com a força-tarefa. Além disso, o grupo acrescentou que homens com mais de 70 anos de idade deveriam ser informados de que os riscos do exame superam seus benefícios.

Dito isso, existem exceções que podem alterar a balança em favor da realização do teste. O exame de PSA é benéfico no caso de homens jovens com histórico familiar de câncer de próstata ou doenças relacionadas, de homens que carregam a mutação BRCA1 ou BRCA2 e de homens afro-americanos, que têm maiores chances de desenvolver formas agressivas de câncer de próstata. Nesses casos, o exame deve ser realizado regularmente a partir dos 40 ou 45 anos.

Entre os homens idosos, os testes são benéficos para aqueles que têm mais de 70 anos, são muito saudáveis e têm expectativa de vida de dez anos ou mais. O dr. H. Ballentine Carter, urologista do Hospital Johns Hopkins, destacou em um editorial publicado na revista científica "JAMA" que "a idade avançada é associada a formas mais agressivas de câncer de próstata; portanto, um idoso muito saudável com expectativa de vida elevada se beneficiaria do exame de PSA".

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"No entanto, exames de rotina deveriam ser uma raridade entre homens com mais de 70 anos, pois estariam expostos a mais riscos que os jovens na hora de fazer exames, diagnósticos e tratamentos", afirmou.

Em vista das limitações do PSA, os pesquisadores desenvolveram exames mais refinados, que detectam com mais facilidade casos preocupantes de câncer, afirmou o dr. James Eastman, do Memorial Sloan Kettering Cancer, em Nova York.

Um deles é o exame 4Kscore, que combina os níveis de quatro antígenos presentes na próstata com informações clínicas sobre o risco que um homem tem de desenvolver uma forma agressiva de câncer. O outro, conhecido como ou Índice de Saúde da Próstata (PHI, na sigla em inglês), combina três diferentes medidas de PSA para prever com mais precisão a presença do câncer.

Além disso, o uso de uma forma avançada de ressonância magnética está sendo estudado para detectar a presença de câncer com risco mais elevado de se tornar fatal e, ao mesmo tempo, ignorar casos de baixo risco.

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A melhor forma de reduzir o número de biópsias e tratamentos desnecessários contra o câncer de próstata após resultados elevados em exames de PSA talvez seja a crescente popularidade da vigilância ativa, ou seja, o monitoramento periódico de homens com baixo risco de desenvolver câncer. Apenas se o câncer começar a crescer, ou mostrar sinais de agressividade, é que o tratamento deve ser iniciado.

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