O hábito de fumar faz parte do perfil padrão do paciente atingido pelo câncer de boca, laringe e faringe. A doença acomete predominantemente homens tabagistas a mais de duas décadas. O Márcio André Delfino, 48 anos, é um representante deste perfil descrito pelos médicos, durante 28 anos pelo menos duas carteiras de cigarro eram consumidas por dia. Tudo mudou em 2012, quando foi diagnosticado com câncer de laringe.

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A luta contra a doença só foi vencida em 2017 com uma laringectomia total, e a consequente perda da fala.Márcio se comunica com a ajuda de um aparelho chamado laringe eletrônica, quando precisa se comunicar o encosta na região do pescoço e assim pode-se escutar o que está dizendo. É com esse equipamento que ele diz ter encontrado uma nova voz e vocação.

— Eu entrei em depressão após a cirurgia, chorava muito. Eu não conseguia me comunicar e ao sair na rua era sempre alvo de olhares e comentários. Até que percebi que essa era uma chance de viver e que eu precisava aceitar a nova vida que Deus me deu e abraçar um propósito: ajudar o próximo – conta Delfino.

Hoje viaja o Brasil fazendo contato com pacientes, compartilhando sua história e promovendo atos de prevenção contra a doença com apoio da Associação de Câncer de Boca e Garganta – ACBG, organizadora da Campanha Julho Verde. A mobilização para a conscientização sobre a doença está na sua terceira edição com o tema: “O câncer tá na cara, mas às vezes você não vê”.

— O nosso maior desafio é levar informação às pessoas. Poucos conhecem o câncer de cabeça e pescoço, por isso nós pacientes laringectomizados somos discriminados. Sempre achamos que o problema atingirá o outro nunca a gente, é só através da comunicação que vamos conseguir fazer a diferença na vida de todos – diz Márcio.

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O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que a cada ano o Brasil registra 41 mil novos casos de tumores de cabeça e pescoço que atingem boca, língua, palato mole e duro, gengivas, bochechas, amígdalas, faringe, laringe, esôfago, tireoide e seios paranasais. Em Santa Catarina, o Centro de Pesquisas Oncológicas do Estado (CEPON) aponta que este é o terceiro tipo de câncer mais tratado no setor de radioterapia: representa 11,4% dos atendimentos, atrás apenas dos casos de mama e próstata.

Desenho explicativo dos pontos de câncer de cabeça e pescoço
(Foto: Arte DC)

O cirurgião de cabeça e pescoço do CEPON, Gilberto Teixeira, explica a matemática dos riscos do tabagismo e das bebidas alcoólicas para o desenvolvimento da doença. Segundo ele, se você fumar de 20 cigarros por dia, a chance de desenvolver câncer é quatro vezes maior que a população geral, já se beber mais de três doses a cada 24h, o risco é três vezes maior que para os abstêmios. Porém, se os dois hábitos forem combinados a chance de adquirir a doença passa a ser 15 vezes mais elevada que para o restante da população.

HPV exige atenção

Outro fator que merece atenção é o Papiloma vírus humano (HPV). Existem mais de 200 tipos diferentes de HPV, destes nove são caracterizados como de alto risco para câncer.

— Percebemos um aumento de 50% no número de casos de câncer de garganta HPV induzidos em pacientes mais jovens. Notamos um perfil diferente: são normalmente pessoas com maior número de parceiros e que nunca fumou, mas a incidência ainda é baixa em SC. Porém, esses casos podem ser prevenidos de maneira simples, com o uso de camisinha na prática de sexo oral e por meio de vacinação – comenta Teixeira

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O SUS oferece a imunização contra o HPV para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. Portadores de HIV, com idade entre 9 e 26 anos também tem acesso gratuitamente.

De olho nos sintomas

O cirurgião de cabeça e pescoço do CEPON, Gilberto Teixeira, destaca que os pacientes que fazem parte dos grupos de risco para câncer de boca laringe e faringe devem ficar atentos a alguns sinais importantes, como escarrar sangue e o aparecimento de nódulo sem dor no pescoço. Além destes, outros sintomas também devem ser interpretados como alertas:

Feridas na boca que não cicatrizam por mais de 15 dias;

Dificuldade para mastigar ou engolir, dentes que ficam frouxos ou moles na gengiva;

Perda de peso;

Mau hálito persistente, rouquidão persistente e áreas avermelhadas ou esbranquiçadas em gengivas, língua, bochechas e céu da boca.