De riso fácil e gestos delicados, a jovem catarinense Letícia Brito transborda tranquilidade. Tudo muda quando ela veste o quimono e entra no tatame. No último fim de semana, tornou-se a melhor carateca sub-21 das Américas, na categoria até 68 kg, ao vencer o Campeonato Pan-Americano, no Peru.
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Além do ouro individual alcançado após uma sequência de quatro vitórias, a última diante da também brasileira Ana Carolina Gariglio, do Rio de Janeiro, Letícia voltou a Florianópolis com a medalha de bronze por equipes, sendo uma das únicas três escolhidas para defender a equipe do Brasil na competição.
Bem antes disso, aos nove anos, a pequena e delicada Letícia até pensou em seguir por um caminho bem diferente, o da dança. Dividia-se entre as aulas de jazz e os treinos de caratê. Até que teve de escolher apenas um, e optou pela intensidade dos golpes.
Porém, da dança veio um dos pontos fortes da carateca: a elasticidade necessária para os chutes altos, que garantem a maior pontuação na modalidade. Foi com dois chutes, um na cabeça e outro no tronco, que ela garantiu a vitória na final pan-americana do último sábado.
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Depois da conquista, a catarinense de 18 anos já tem o próximo objetivo definido: quer ser campeã mundial. E tem respaldo de seu principal mentor, o professor Eduardo Porchat, que a acompanha desde os primeiros socos:
– Conversei com ela sobre isso essa semana, tem que sonhar mesmo, colocar como objetivo ser campeã mundial e ir passo a passo. Ela tem condições.
Como o próximo Campeonato Mundial será realizado apenas em 2015, na Indonésia, o título atual não é suficiente para classificá-la à disputa. No ano que vem, primeiro terá que passar pela seletiva do Pan-Americano, para então defender seu título. Classifica-se ao Mundial a melhor brasileira no Pan de 2015 por categoria e peso.
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Diário Catarinense – Como descobriu o karatê?
Letícia – Comecei por causa de uma amiga que decidiu treinar na escola. Comentei com meu pai e ele ficou muito empolgado, sempre quis que eu fizesse alguma arte marcial. Fui lá só para conhecer, mas gostei desde o primeiro dia. As primeiras lutas foram horríveis, mas fui aprendendo.
DC – E como foi parar na Seleção Brasileira?
Letícia – Entrei pela primeira vez em 2012, em uma seletiva para o Sul-Americano. Ano passado fiquei fora do Sul-Americano, mas passei em outra seletiva, a do Pan-Americano. Com o bronze no Pan, fui para o Mundial na categoria de 16 a 17 anos.
DC – Depois do terceiro lugar, a expectativa era por um ouro este ano?
Letícia – Desta vez estava bem confiante, mas Pan-americano é Pan-americano, sempre tem que ter cuidado. Como mudei de categoria, não conhecia minhas adversárias. Foram quatro lutas, contra Estados Unidos, México, Chile e, na final, contra outra brasileira. A primeira foi a mais difícil, estávamos indo ponto a ponto, até que no último segundo dei um soco e consegui vencer. Na final, quando parecia que a luta complicaria, encaixei um chute alto, que vale três pontos, e depois um baixo, que vale dois. Tentei segurar a comemoração, por ser uma atleta do mesmo país, mas não deu.
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DC – Qual seu próximo objetivo com o karatê?
Letícia – Pretendo ser campeã mundial. Acho que todo mundo pretende, mas meu objetivo maior é esse, treinar bastante para chegar ao topo.
DC – Dá para conciliar o esporte com os estudos?
Letícia – Comecei a fazer faculdade de Ciência Contábeis este ano, na UFSC. Foi bem tranquilo, fiz tudo certinho, mas não gostei do curso. Agora estou no cursinho e vou prestar vestibular para a faculdade de direito. É difícil, mas tem como conciliar. Não vai dar para ser 100% na faculdade, você vai faltar, ter que pegar matéria atrasada. Mas se der, continuo lutando.