Com discrição, André da Silva evitou comentar com muitas pessoas que sairia de Florianópolis para se submeter a exames e ser internado em Curitiba. Era meados de 2013, quando o técnico de infraestrutura, de 30 anos, passou por um procedimento cirúrgico, mesmo tendo medo de agulhas. André não estava doente. Pelo contrário, aproveitou a saúde de sobra para doar voluntariamente sua medula óssea a uma desconhecida.

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Confira como ser um doador de órgãos e medula

SC é referência em doação de órgãos no Brasil

O jovem é um dos mais de 155 mil catarinenses cadastrados no registro nacional de doadores, mas um dos poucos que efetivaram o transplante, já que as chances de encontrar um doador compatível pode chegar a um em cada um milhão de pessoas, dependendo do caso. No total, 67 catarinenses já doaram medula para desconhecidos no país – o número é baixo porque muitos transplantes são entre familiares ou com células do próprio transplantado. O Estado alcançou o dobro da meta de cadastrados já no início de novembro. E há 10 anos a cultura de doação e transplante de órgãos e tecidos posiciona o Estado como líder no Brasil.

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Iniciativa de catarinense estimula doação de sangue no Planalto Norte de SC

Quando o técnico de infraestrutura recebeu uma ligação do Centro de Hematologia e Hemoterapia (Hemosc) avisando que havia possibilidade de sua medula ser compatível com um paciente, aceitou na hora:

– Minha cunhada tinha falecido 15 dias antes por leucemia. Eu estava comovido.

Mas ele tinha um pedido: não gostaria de conhecer o receptor, só queria ajudar. Quem faz parte do Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome) pode conceder a qualquer pessoa no mundo. A medula, inclusive, só pode ser doada em vida.

O Ministério da Saúde determina limites de cadastro por Estado para aumentar a diversidade genética. Em Santa Catarina, é de 10,2 mil por ano. Mas diversas ações, principalmente envolvendo crianças, reforçou a vocação dos catarinenses em ajudar e o Estado ultrapassou os 22,2 mil cadastros já no início de novembro.

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Nesta semana, o ex-tenista Gustavo Kuerten postou uma foto nas redes sociais fazendo o cadastro do banco de medula. E o jogador Neymar gravou um vídeo pedindo ajuda para Biel, o menino de Itajaí que aguarda um transplante:

– Com as campanhas, mais pessoas se cadastram e há mais possibilidade de encontrar um doador compatível – reforça Claúdia Lima, assistente social do Hemosc.

Desafios incluem a desatualização de cadastros e a ausência de leitos

Mas ainda há inúmeros desafios. Um deles é manter o cadastro atualizado, afirma Cláudia, pois muitas pessoas realizam o cadastro por impulso e esquecem das responsabilidades. Estima-se que cerca de 30% dos registros sejam perdidos em função de endereços e telefones inexistentes.

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Outro problema ressaltado pelo coordenador do Redome, Luis Fernando Bouzas, é a falta de leitos e equipes nos centros de transplantes. Ele garante que demora, em média, quatro meses para encontrar um doador compatível. Mas depois disso, muitas vezes esbarra-se na falta de leitos nos centros.

– Estamos encontrando doador para quase 90% de pessoas que procuram medula. Mas a capacidade de achar um doador é maior do que a de realizar o procedimento – explica Bouzas.

Em Santa Catarina, por exemplo, só é realizada a coleta por aférese (coleta de sangue) e o transplante para si mesmo e entre parentes. Os demais casos são encaminhados geralmente a Curitiba, Porto Alegre ou São Paulo.

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A diretora do Cepon, Maria Tereza Schoeller, afirma que uma equipe de médicos e enfermeiros passou por treinamento nas últimas semanas para realização do transplante alogênico (para pessoas de fora da família) em Santa Catarina. Mas acrescenta que necessitam do repasse da Secretaria de Saúde do Estado para efetuar o serviço:

– Esperamos incluir no termo aditivo de 2016, porque o transplante implica custos de medicamentos.