Elas são 50,9% da população de Blumenau, mas não ocupam nenhuma cadeira na Câmara de Vereadores na condição de titular há duas legislaturas. No ano passado, foram apenas 30,8% das candidatas na cidade – o mínimo necessário para atender à cota eleitoral de gênero. Essa relação desigual ocorre também em Santa Catarina, com vitória de somente quatro mulheres entre os 40 deputados estaduais eleitos, e no país, onde há menos de 10% de representação feminina no Congresso.

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Embora a legislação tente contribuir com o espaço delas com mecanismos como a cota de gênero, muita coisa ainda parece afastar ou impedir parte das mulheres de participarem mais ativamente da política e terem mais representação em cargos públicos. Para tentar diminuir essa distância o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SC) lançou em um evento ontem na Capital a campanha ¿Mulheres na Política¿. Entre as ações previstas estão vídeos, cartilhas e um curso a distância sobre a aplicação do fundo partidário em ações dos partidos que incentivem a aproximação entre a política e as mulheres.

A lei eleitoral já determina que 5% do fundo partidário seja aplicado com esta finalidade, mas a maioria dos partidos não cumpre a diretriz. A campanha pretende reverter esse quadro. A primeira fase segue até setembro, quando termina o prazo de mudança de domicílio eleitoral para interessados em concorrer nas eleições de 2018.

Deputada estadual no quarto mandato, Ana Paula Lima (PT) acredita que iniciativas como a campanha do TRE-SC, a lei de cotas e a discussão cada vez maior sobre política que envolve as jovens nas universidades são exemplos de ações que ajudam a estimular as mulheres a participarem mais. No entanto, admite que esse envolvimento ainda exige coragem pelo fato de as mulheres serem muito mais cobradas num ambiente ainda predominantemente masculino.

Como vamos querer que as mulheres se interessem pela política se não são educadas para isso? Se em casa não há divisão de tarefas? Se não têm conhecimento maior sobre esse mundo (da política)? A política é onde tudo acontece e por esse motivo precisamos de formação, e isso passa pelos partidos políticos – cobra a parlamentar, que reconhece que a baixa representatividade dificulta a luta por bandeiras como o combate à violência contra a mulher e a busca por recursos para áreas como assistência social.

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Inspiração para participação mais ativa

Prefeita de Bombinhas no segundo mandato, Ana Paula da Silva (PDT) vê um retrocesso na participação feminina e sustenta que isso se deve não só ao preconceito, mas a uma postura da própria mulher de renunciar e abrir mão de protagonismo na política. Ela afirma que as cotas são uma forma de garantir mais espaço a elas e defende punição severa aos partidos que tentam driblar a lei com candidatas ¿laranjas¿, apenas para cumprir o percentual.

– Se você for observar no ambiente de uma campanha, a maioria das equipes de rua que saem para pedir voto são de mulheres. Mas elas não se colocam como candidatas e isso faz eleger poucas mulheres. Tem a ver com uma postura da mulher de abrir mão para ajudar às vezes até o companheiro, mas é um comportamento que precisa mudar – avalia a prefeita, que acredita no empoderamento e em uma forma mais justa de relações domésticas para diminuir o afastamento delas da política.

Com 24 anos, Franciele Back (PSDB) foi eleita vereadora em Gaspar no ano passado – uma das duas parlamentares que a cidade elegeu para as 13 vagas na Câmara. Ela afirma que de forma geral os partidos ainda querem que elas sejam candidatas apenas para cumprir a cota de gênero de 30% ou para executar funções burocráticas e de organização de eventos.

A parlamentar sofre com comentários inoportunos sobre o visual que adota em determinadas sessões, mas afirma que a maior dificuldade sentida vem do fato de ser jovem e às vezes ter a credibilidade questionada. Franciele aponta a necessidade de as legendas fortalecerem o chamado e a participação delas no mundo político e dá dicas que podem inspirar mulheres a participar de decisões políticas e sociais:

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– Muitas mulheres participam de APPs de escolas, grupos de igreja, clubes de mães, de caça e tiro, conselho local de saúde, associação de moradores. Eu, por exemplo, tive um jornal comunitário. Tudo isso contribui para o bem da cidade e é nesse meio que tem que estar envolvido.