Caminhoneiros que participaram da paralisação de 2018 criticaram as medidas anunciadas nesta terça-feira (16) pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. A categoria não descarta novas paralisações nos próximos dias. Segundo lideranças, as principais reivindicações — cumprimento do tabelamento do frete e redução do preço mínimo — não foram contempladas no anúncio desta terça.

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Para a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), as medidas anunciadas não dissolvem as tensões na categoria.

Nesta terça, o governo de Jair Bolsonaro (PSL) anunciou uma linha de crédito de R$ 500 milhões para a categoria. Também prometeu melhorias nas estradas e a construção de pontos de descanso em rodovias federais.

— Nada do que o ministro da Infraestrutura anunciou nos ajuda. É um avanço conseguir pegar dinheiro no BNDES a baixo custo? É. Mas hoje, mais da metade dos caminhoneiros está com o nome sujo no Serasa. Nós vamos conseguir pegar esse crédito? — questiona Wanderlei Alves, o Dedéco, de Curitiba (PR).

O valor será disponibilizado para profissionais da área de transporte rodoviário pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Alves diz que não representa toda a classe.

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— Eu tenho os caminhoneiros que estão comigo. E faço parte de um grupo com outros amigos, que têm outros caminhoneiros com eles. Isso faz uma rede de mais de um milhão de caminhoneiros — destaca.

Para o motorista, haverá novas paralisações.

— O pessoal está eufórico. Vai parar dia 21 de maio. Isso se não parar antes, se houve aumento do diesel — afirma.

Sobre a linha de financiamento, Alves diz que os motoristas não estão conseguindo pagar as parcelas dos caminhões e por isso estão com o "nome sujo".

Segundo o motorista Daniel Reis de Oliveira, conhecido como Queixada, que faz parte do mesmo grupo de Alves, há muitos motoristas que não conseguem pagar os financiamentos por causa do baixo valor pago dos fretes e preço alto do diesel.

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— As agências estão lotadas de carro de gente que não conseguiu pagar. Não resolve sair liberando mais financiamento para quem já está endividado — reclama.

Ariovaldo Junior Almeida, diretor do Sindicato dos Caminhoneiros de Ourinhos, interior de São Paulo, chama de "esmola" o crédito oferecido.

— É melhor do que nada, mas é esmola. Trinta mil reais não dá para 15 pneus. O caminhoneiro precisava de uma linha de crédito de R$ 200 mil — frisa.

A Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) afirma que não irá se pronunciar sobre as medidas anunciadas pelo governo.

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Em nota, a CNTA afirma reconhecer "o esforço do governo e se mantém positiva com a postura aberta ao diálogo desta gestão". A entidade também cobra a fixação de um preço mínimo para os fretes e fiscalização.

— São medidas importantes, que beneficiam o caminhoneiro e o valoriza como profissional. Porém, ainda aguardamos uma resposta sobre nosso principal anseio, que é o cumprimento da lei do piso mínimo do frete — diz o presidente da entidade, Diumar Bueno.

Segundo a nota da associação, a tabela "garante que o profissional autônomo tenha condições mínimas de se manter no mercado mesmo com as oscilações dos seus insumos e regula toda a negociação da contratação de frete".

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