No acostamento do Km 68 da BR-470, em Indaial, um grupo de cerca de 20 pessoas aborda motoristas que passam nos dois sentidos. Quem passa de carro de passeio, ônibus, vans com passageiros ou carga de alimentos sem refrigeração tem caminho livre. Já os condutores de caminhões, kombis, caminhonete e até pick-ups compactas com alguma carga, até mesmo peças de ferro-velho, precisam baixar o vidro e conversar com os manifestantes. Alguns são convidados a estacionar em um pátio ou às margens da rodovia e permanecer por ali.
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O trecho de Indaial é um dos três pontos da BR-470 em que havia paralisação nesta quarta-feira, o terceiro dia de protestos dos caminhoneiros contra a recente alta dos combustíveis no Brasil. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), os outros pontos ficam no Km 48, em Gaspar, e no Km 90, em Ascurra. Na Rua Anfilóquio Nunes Pires, bairro Bela Vista, em Gaspar, trecho municipalizado da Rodovia Jorge Lacerda, caminhoneiros também fazem um ponto de paralisação nesta quarta.
A 400 metros do ponto em que os caminhões são abordados em Indaial, outro grupo de motoristas permanece em volta de um motor-home com um toldo e bandeiras do Brasil. Ali é uma espécie de base dos manifestantes. Eles estão por ali desde segunda-feira. Organizam refeições como o cachorro-quente servido ao meio-dia desta quinta e recebem alimentos que segundo eles são doados por empresários e apoiadores.
Os caminhoneiros são enfáticos em dizer que o movimento é coletivo e não há uma única liderança, mas são eles que ajudam a coordenar a manifestação ao longo desses três dias. Um deles é Júlio Cesar Nunes Leite. Ele reforça um discurso que é comum por ali: o de que o protesto é contra alta no preço do diesel, mas não só isso.
– Nosso protesto é também contra os altos valores de pedágios, a cobrança por eixos suspensos, pela diminuição da carga tributária, o valor do frete e até uma revisão na política de multas, contra a chamada indústria das multas. Do jeito que está fica inviável, estávamos tirando do padrão de vida da nossa família para conseguir absorver todos os custos – argumenta Júlio, que sugere até a privatização da Petrobras como uma medida para trazer competitividade e baixar os preços dos combustíveis.
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Caminhoneiros parados dizem apoiar movimento
Até o início da tarde desta quarta os manifestantes contabilizavam cerca de 500 caminhões parados no trecho de Indaial. Apesar de recusarem qualquer ligação com sindicatos ou grupos políticos, no grupo que aborda os motoristas há manifestantes com camisa e panfletos do movimento “O Sul é Meu País”. Embora refute o rótulo de líder, Júlio tenta dar alguma orientação aos que abordam os carros e acompanha para que ninguém ligado a sindicatos participe do ato.
– Não é ser líder, mas se não tiver alguém para organizar, não funciona. Anarquia é só no livro de Karl Marx que é bonito – afirma.
Nos caminhões estacionados, motoristas como Leopoldo José Lermen, 62 anos, esperam por uma definição para conseguir seguir viagem. Ele carregou quatro toneladas de frango em Joinville e seguia para Chapecó até parar em um protesto nesta terça-feira, em Massaranduba. Conseguiu seguir viagem, mas no mesmo dia parou na manifestação de Indaial, onde nesta quarta-feira seguia estacionado, com o motor ligado para que a câmara fria conserve a carga congelada. Por pelo menos mais dois dias o diesel deve conseguir manter os alimentos conservados.
– Acho justo o protesto porque não tinha mais condição de a gente trabalhar. Estávamos rodando por nada, o frete não aumenta, o preço do diesel, não tem condição. Tem que ser feita alguma coisa – afirma.
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