Por enquanto, a resposta militar ao regime sírio se resume a uma guerra de palavras entre o primeiro-ministro britânico, David Cameron, e o líder da oposição trabalhista, Ed Miliband.
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E o grande derrotado, ao fim de mais de oito horas de discussões fervorosas na Câmara dos Comuns – que se reuniu de urgência ontem para discutir uma moção que abria a porta para uma intervenção contra o regime de Bashar al-Assad -, foi Cameron.
O texto foi rejeitado por 13 votos. O placar sugere que, além da oposição trabalhista, parte da bancada do Partido Conservador e do Partido Liberal-Democrata, que integra a coalizão do governo, votaram contra ele.
Assim que o resultado foi proclamado, um dos deputados gritou “Renuncie!”. Miliband questionou se Cameron recorreria à chamada prerrogativa real (que permite uma ação sem o aval dos parlamentares). O primeiro-ministro disse ter “captado a mensagem” e que não irá ordenar um ataque:
– Ficou claro para mim que o Parlamento britânico, refletindo as visões da população, não quer ver uma ação militar britânica. Eu entendo isso e o governo vai agir de acordo com isso.
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Em tese, Cameron ainda pode propor uma nova votação na semana que vem. No entanto, ele dependerá de um fato político novo para retomar o tema. De acordo com a rede BBC, é a primeira vez em 50 anos que a oposição derrota o governo numa votação sobre o envio de tropas britânicas ao exterior.
Há dez anos, o então premier trabalhista Tony Blair foi acusado de mentir sobre a existência de armas de destruição em massa para aprovar o ataque a Saddam Hussein, no Iraque. O caso foi lembrado por parlamentares do governo e da oposição. Cameron disse estar convencido de que o regime sírio foi responsável pelo ataque químico de 21 de agosto, mas reconheceu que “não há 100% de certeza”.
O caso britânico é sintomático de um ceticismo crescente na Europa e nos EUA sobre uma intervenção, com os políticos fazendo eco às reservas da opinião pública. Segundo pesquisa YouGov/The Times publicada ontem, apenas 22% dos britânicos são favoráveis a uma intervenção. Na França, onde o Parlamento foi convocado para uma sessão extraordinária na próxima quarta, a opinião pública está dividida. Duas pesquisas mostraram ontem que 55% dos franceses apoiariam um ataque, mas com autorização da ONU.
O presidente da França, François Hollande, defendeu uma ação para dar fim à violência na Síria, mas estaria inclinado a esperar o relato dos especialistas da ONU em armas químicas, que deverão regressar no sábado.
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A Casa Branca declarou que Barack Obama pode agir de forma unilateral. No entanto, 150 parlamentares assinaram uma carta afirmando que o Congresso precisa ser ouvido antes de qualquer ação.