O primeiro-ministro britânico, David Cameron, prometeu nesta quarta-feira em Londres organizar um referendo antes do fim de 2017 sobre a permanência da Grã-Bretanha dentro da União Europeia, que ele espera que passe por uma reforma e concentre-se no mercado comum.
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Este discurso adiado, há meses, obedece a uma estratégia de alto risco. Aplaudido pelos eurocéticos, Cameron coloca em jogo o seu próprio futuro político, a coesão de seu governo de coalizão e de seu partido conservador, divididos sobre a questão da União Europeia.
Também coloca em risco as relações de seu país com o continente, cada vez mais descontente com as pretensões britânicas de uma “Europa à la carte”.
Cameron se defendeu de ser “isolacionista” e de querer fazer dos britânicos “os noruegueses ou suíços da Europa”. Ele sustentou sua visão de uma UE “flexível, adaptável e aberta”, porque “não só quero um melhor acordo para o Reino Unido, mas quero também um melhor acordo para a Europa”.
Apesar de se dizer partidário de que seu país permaneça dentro da UE, advertiu que “se não enfrentarmos os desafios, o perigo é que a Europa fracasse e que os britânicos se dirijam à saída”.
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– Não quero que isto aconteça, espero que a Europa seja um sucesso – declarou, ressaltando os méritos históricos da UE, que “restabeleceu a paz” no velho continente após a Segunda Guerra Mundial, “mas que deve continuar a assegurar a prosperidade”.
O chefe do governo britânico não citou as condições para que seu país, um membro “exigente” que se recusou a adotar o euro, permaneça no bloco.
Ele se contentou em mencionar “o meio ambiente, os assuntos sociais e criminais”. Nos últimos meses, adotou o mantra da “Dama de Ferro” Margaret Thatcher, para melhor exigir o repatriamento das prerrogativas abandonadas em Bruxelas.
Nada pode ser excluído na negociação, alertou para uma multidão de jornalistas e empresários na sede londrina da agência financeira Bloomberg, declarando “não ter ilusões sobre a magnitude do desafio”.
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– Chegou a hora dos britânicos terem voz – proferiu Cameron, fazendo eco aqueles que denunciam o “déficit democrático europeu”.
“Quando tivermos negociado este novo acordo” sobre as relações da Grã-Bretanha com a UE, “daremos ao povo britânico um referendo com uma opção muito simples: permanecer dentro da UE neste novo modelo ou sair completamente”, afirmou.
Este referendo deve ser realizado na primeira metade da legislatura (2015-2020), se Cameron for reeleito nas eleições gerais previstas para 2015.
– Não há dúvida de que somos mais fortes aos olhos de Washington, Pequim ou Nova Déli porque somos um ator importante na União Europeia – considerou.
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– Se deixarmos a UE, será uma saída simples, mas sem retorno – advertiu.
Esta perspectiva de um “Brixit”, contração de “British exit”, que suscita temores nos meios econômicos e políticos e entre os liberais-democratas membros do governo de coalizão, promete pesar sobre o debate. O discurso imediatamente provocou uma avalanche de reações.
Um dos líderes dos eurocéticos conservadores, Daniel Hannan, comemorou o fato dos britânicos poderem em breve “escolher entre dentro-fora”.
– O verdadeiro trabalho (em favor do não) começa hoje – declarou Nigel Farage, líder da formação eurofoba UK Independent Party, em alta nas pesquisas de opinião.
O chefe da oposição trabalhista, Ed Miliband, já havia denunciado terça-feira à noite o discurso de “um primeiro-ministro fraco, a mando de seu partido e não guiado pelo interesse econômico nacional”.
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David Cameron adotou o “jogo dos radicais de seu partido”, estimou por sua vez Peter Mandelson, ex-comissário europeu próximo de Tony Blair, denunciando um “ultimato”.
O discurso também provocou preocupação e irritação entre os parceiros europeus.
O ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, classificou de perigoso o projeto do primeiro-ministro britânico de organizar um referendo sobre a permanência de seu país na União Europeia, ressaltando que “não se pode fazer uma Europa à la carte”.
– Suponhamos que a Europa fosse um clube de futebol: quando você adere ao clube, não pode dizer, uma vez dentro, que vai jogar rugby – acrescentou.
Já a Alemanha quer que a Grã-Bretanha continue sendo um membro ativo e construtivo da União Europeia, enquanto o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, ressaltou a necessidade “de um Reino Unido membro por inteiro, que continue ancorado por porto de Douvres”.
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A Comissão Europeia, por sua vez, parabenizou a vontade de Cameron de que seu país permaneça na UE, segundo a porta-voz Pia Ahrenkilde-Hansen.
– O Reino Unido oferece muito à integração europeia e contribuiu para modelar as políticas da Europa – afirmou.