Na segunda metade do século XIX, falar sobre a independência da mulher e naturalizar o protagonismo dela na sociedade poderia soar estranho, causar desconforto no perfil dominante do status quo e levar ao fracasso. À época – assim como ainda acontece hoje – bater de frente contra privilégios e benefícios era perigoso, mas nem por isso a arte deixava de cumprir o seu papel. O compositor francês Georges Bizet foi um desses vanguardistas e por meio da música erudita, compôs entre 1873 e 1874 a ópera Carmen, considerada por muitos autores como a primeira ópera feminista da história da música mundial.

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Cento e quarenta e seis anos depois, a temática permanece atual e dá ainda mais densidade à história da cigana que preza pela liberdade, luta contra o atraso da sociedade e é punida por usar sua coragem e sensualidade em prol da própria causa. O caráter transgressor da época está mais vivo do que nunca e poderá ser visto pelo público de Florianópolis em uma apresentação especial neste fim de semana, no teatro Ademir Rosa, no CIC.

Mais do que executar os arranjos, o espetáculo destes sábado (14) e domingo (15) terá duas novidades técnicas: a Camerata Florianópolis estará em sua formação original, com instrumentos de cordas, mas acrescida de cinco percursionistas nos moldes de uma orquestra sinfônica – o que não é comum nesse tipo de apresentação. Além disso, há a participação de bailarinos da Associação Cultural Arte.Dança, o que interfere diretamente na execução da peça. "É uma responsabilidade imensa e um desafio grande porque além da música, nós temos que respeitar o tempo do passo deles. Temos que ser precisos para não fazer um pouco mais lento nem um pouco mais rápido do que o habitual", explica a violinista Iva Giracca, spalla da Camerata.

Nesta versão, a personagem Carmen é interpretada por sete bailarinas diferentes, o que ajuda a reforçar a diversidade de características da mulher. A história contada na obra de Bizet se passa em Sevilha, na região da Andaluzia, numa praça onde a cigana e o soldado desertor Don José protagonizam uma trama de amor e ciúmes que envolve também o toureiro Escamilo.

Empoderamento feminino nos anos 1800

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O conceito que é amplamente tratado hoje pelos movimentos feministas apareceu de forma explícita em uma obra musical pela primeira vez no trabalho de Bizet. Isso fica claro nos movimentos das bailarinas que interpretam Carmen e nas falas que profere ao longo do espetáculo.

– Num dos momentos ela afirma: "Cuidado! Não se apaixone por mim porque você terá problemas". Isso era uma afronta na época em que a mulher não tinha o poder da escolha em praticamente nenhuma instância da própria vida e por vezes era obrigada a casar apenas para satisfazer interesses dos homens e da sociedade – afirma Iva.

A apresentação deste fim de semana está marcada para às 20h30 no teatro Ademir Rosa, que fica no Centro Integrado de Cultura (CIC). Os ingressos estão à venda nas bilheterias dos teatros e no site e lojas Blueticket. Membros do Clube NSC têm desconto de 20% sobre o preço na compra das entradas para si e um acompanhante.

Ouça a entrevista: