Rafael de Melo Rosa, 28 anos, vende centenas de produtos eletrônicos no box 84 do Camelódromo Centro Sul, em Florianópolis, desde os 17.

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– Ajudava meu pai desde jovem. Cresci vendo os rendimentos de uma vida inteira serem investidos nesse espaço. Agora, não sei o que vou fazer – lamenta.

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A frustração do comerciante está relacionada ao fechamento do espaço, marcado pela Prefeitura da Capital para dia 26 de fevereiro – daqui a dez dias. É o fim anunciado da estrutura que existe há quase duas décadas ao lado do Terminal Cidade de Florianópolis.

O caminho praticamente sem volta é resultado de uma sentença do juiz federal Hildo Nicolau Peron, publicada no Diário Oficial da União em 17 de fevereiro de 2013. A Secretaria do Patrimônio da União (SPU) entende que o camelódromo é irregular, já que é uma iniciativa privada instalada em área pública. Nem licitação houve para a ocupação do espaço.

Licença de uso de 17 anos

A licença de uso da área foi entregue aos comerciantes de rua que ocupavam a Conselheiro Mafra há 17 anos no primeiro mandato da então prefeita Ângela Amin. Na época, o objetivo era ordenar esse tipo de comércio.

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A decisão de remover o camelódromo já foi adiada em acordo entre União e Prefeitura por quatro vezes, mas deve se confirmar agora, segundo o procurador-geral

do Município, Alessandro Abreu.

– Não há o que fazer. A Prefeitura também é ré nesse caso e não pode ceder. Devemos retirar o camelódromo e dar sequência ao projeto de parque público – explica.

Proposta ousada para o lugar

A obra do parque mencionado por Abreu, orçada em R$ 60 milhões, é um desenho do arquiteto do IPUF José Tabacow, que trabalhou com o paisagista Roberto Burle Marx no plano original de 1978, denominado Parque Metropolitano Francisco Dias Velho.

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Além de conectar o Centro Histórico ao mar com uma plataforma suspensa, quadras poliesportivas e pista de skate, o projeto prevê um shopping popular para 250 lojistas no espaço de 32 mil metros quadrados do Aterro da Baía Sul. A região compreende os antigos estacionamentos da Comcap e o Direto do Campo, desativados ano passado também por decisão federal. Evandro Andrade, arquiteto do IPUF, garante que o espaço do Camelódromo não será demolido para construção da Passarela Jardim.

Projeto sem dinheiro nem prazo de início

O problema é que a construção da Passarela Jardim levará pelo menos três anos e não deve começar tão cedo. Até lá, os comerciantes não terão onde trabalhar.

– É um projeto a ser realizado a longo prazo com recursos municipais e federais – avalia o procurador-geral do município.

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Nágela Cardoso, vendedora de roupas do box 113, ainda tem esperança de permanecer.

– É muito triste essa incerteza ao longo de todos esses anos, mas ainda acredito que nós não vamos sair no dia 26.

Em caso de resistência, a Prefeitura afirma que haverá policiamento com a possibilidade de lacrar os pontos de venda e decretar prisões por desobediência,

por exemplo.

Comerciantes pedem alternativa

Para a presidente da Associação do Camelódromo Cid Florianópolis (Acacif), Rosemeri Rabello, os problemas sociais de todo esse impasse não estão sendo avaliados.

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– Há famílias inteiras que tiram o sustento daqui. Precisamos de uma alternativa. Caso contrário, iremos vender nossas coisas em frente à Prefeitura -, assegura.

Rosemeri também garante que os vendedores aceitam a transição para a licitação do shopping popular previsto na obra da Passarela Jardim, mas precisam de uma solução até lá.

O fio de esperança dos comerciantes é um possível novo adiamento da remoção, que poderia ser acordado com a Advocacia Geral da União (AGU), representante jurídica da União. A Hora tentou contato com o órgão, mas não obteve uma posição sobre o assunto.

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