O forte calor que superou recordes históricos nas últimas semanas deixou marcas negativas nas plantações de Santa Catarina. Maior produtor de maçã do Brasil, a previsão é que de 20% da atual safra do Estado, cuja colheita está apenas no início, estejam perdidos.
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De acordo com a Associação dos Produtores de Maçã e Pera de Santa Catarina (Amap), que representa os 2,7 mil produtores catarinenses, espera-se um prejuízo de cerca de R$ 100 milhões – uma média de R$ 37 mil por produtor – por conta das altas temperaturas que atingiram a região nas últimas semanas.
Diante deste cenário, as prefeituras de quatro municípios que dependem economicamente da maçã decretaram situação de emergência. Com os decretos, Bom Retiro, Rio Rufino, Urubici e Urupema – responsáveis por aproximadamente 80% da economia da Serra catarinense – pretendem ajudar os produtores a negociarem suas dívidas junto aos bancos, uma vez que não terão o lucro esperado na atual safra.
Os municípios de Bom Jardim da Serra, Painel e São Joaquim, que completam a maior região produtora do país, não decretaram emergência, mas também preveem os efeitos negativos do tempo quente.
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De acordo com a Amap, a expectativa era de que a colheita nesses sete municípios chegasse a 400 mil toneladas na atual safra, sendo 285 mil somente em São Joaquim, maior produtor do país. Incluindo as demais cidades, especialmente Fraiburgo, no Meio-Oeste, o total colhido em todo o Estado chegaria a 625 mil toneladas, o equivalente a 625 milhões de quilos. Com a perda prevista de 20%, a safra deste ano, no entanto, não deve passar de 500 mil toneladas.
Temperaturas acima da média no verão
Mas o que o inverno do ano passado garantiu para o bom desenvolvimento do fruto com quase mil horas de frio (são necessárias 700 horas com temperatura igual ou abaixo de 7,2ºC para uma boa maçã), o verão acabou prejudicando.
A estiagem interrompeu o crescimento do fruto por falta de água na fase de maturação – momento em que a macieira retira os nutrientes do solo. Com o calor excessivo, a maçã perdeu sua cor característica e alguns frutos chegaram a ser queimados, levando-os ao descarte.
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– Como não havia água, as plantas se estressaram e precisaram se livrar de muitas frutas para sobreviver. E as que sobraram estão pequenas e queimadas. Até a cor foi prejudicada, pois nem amplitude térmica (diferença de temperatura entre o dia e a noite) teve nesse começo de ano, de tão grande que foi o calor – diz o presidente da Amap, Salvio Rodrigues Proença.
Investimento em irrigação
Na tentativa de salvar a safra, os produtores aguardam o retorno das chuvas e, consequentemente, uma queda na temperatura principalmente à noite. Além disso, espera-se um aumento nos preços – que deve chegar a R$ 0,80 – por conta da maior demanda do produto no mercado.
O fruticultor Renato de Souza Andrade, de Urupema, já conta com o faturamento menor nesta safra. Com uma previsão inicial de 650 toneladas, a colheita deste ano não deve passar de 400 toneladas. Com o dinheiro das vendas, irá investir em um sistema de irrigação no pomar:
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– Ou faço isso ou paro de produzir maçã, porque é triste ver que o custo foi alto para ter uma fruta com pouca qualidade.
Safra 2014 em SC
Produtores: 2.718
Área plantada: 18.209 hectares
Previsão inicial da safra: 625 mil toneladas
Expectativa após a estiagem e calor histórico no Estado: 500 mil toneladas (-20%)
Prejuízo estimado: R$ 100 milhões, média de R$ 37 mil por produtor
Preço mínimo ideal para o produtor: R$ 1 (quilo)
Preço esperado pelo produtor em 2014: R$ 0,80 (quilo)
Preço pago ao produtor em 2013: R$ 0,60 (quilo)
Maior município produtor: São Joaquim, com 228 mil toneladas (com a perda de 20%)
Período da colheita: entre 10 de fevereiro e 15 de maio de 2014