Uma só praia para um mar de gente. Balneário Camboriú carrega a fama de ter o maior Réveillon do Estado, com um público superior até ao da capital Florianópolis. Neste ano, a estimativa pré-festa divulgada pela prefeitura foi de mais de um milhão de pessoas na orla. Mas os números tidos como oficiais são, ano a ano, alvo de desconfiança por parte de quem entende – e até de quem não entende – a matemática das multidões.
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Confira no mapa as dimensões da Avenida Atlântica e da orla da praia
Entenda o cálculo para saber quantas pessoas caberiam na orla
As dúvidas aparecem porque os números não são precisos, como explica Valéria Bassani, conselheira Regional de Estatística da 4ª Região, que inclui Santa Catarina e Rio Grande do Sul:
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– É um cálculo complexo, porque não se trata de uma linha reta. O que se faz é uma estimativa, uma projeção, não há como ter um número fechado. Nesses casos, os cálculos aceitos são geralmente os que são feitos pela polícia ou pelos bombeiros.
Para chegar ao público de mais de 1 milhão, a Secretaria de Turismo usou como base de cálculo uma média de quatro a seis pessoas por metro quadrado na área onde é maior a concentração, na região central da cidade. Foi incluída ainda a multidão que assistiu à queima de fogos nos restaurantes da orla e das sacadas dos cerca de 350 edifícios da Avenida Atlântica.
Os bombeiros fazem uma estimativa diferente. Calculam quatro pessoas a cada metro quadrado em aglomerações, o que supõe proximidade entre os espectadores, mas não ao extremo. O Instituto Datafolha, que calcula público em eventos do porte do Réveillon de Copacabana, no Rio de Janeiro (RJ), também usa a média de 4 a 5 pessoas por metro quadrado para calcular a quantidade de pessoas em eventos onde a mobilidade é pequena.
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O índice acima de 6 é usado para locais onde não há como erguer os braços ou dar um passo à frente. A experiência do instituto mostra que, via de regra, o público real é menor do que o estimado pela organização dos eventos.
Dados oficiais
Neste ano a Polícia Militar não emitiu cálculos, o que fez com que a prefeitura não divulgasse oficialmente dados pós-evento. De acordo com o comandante do 12° Batalhão, tenente-coronel Marcello Martinez Hipólito, o motivo foi a falta de parâmetros normatizados para a estimativa.
Logo após a virada, porém, a polícia informou extraoficialmente que o público chegou a 1,5 milhão de pessoas na Praia Central – um número 50% acima do que o espaço comportaria, mesmo que houvesse uma lotação de 4 pessoas por metro quadrado em todos os espaços disponíveis.
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O Sol Diário fez as contas: se toda a orla da Praia Central, incluindo calçadas, rua e faixa de areia fossem ocupados – com exceção da via nos trechos da Barra Sul e do Pontal Norte, onde não há impedimento para a passagem de veículos – o total de público seria de 930,4 mil pessoas. E isso considerando um relativo aperto entre os espectadores do show pirotécnico em toda a extensão da Praia Central.
Maior, mas nem tanto
Para a Secretaria Municipal de Turismo, para ter ideia da real quantidade de público que assistiu ao show de fogos deve-se levar em conta o público que passa a virada em pontos alternativos, como o deque do Pontal Norte, Molhe da Barra Sul, mirantes da Interpraias, Estrada da Rainha e Morro do Careca. Há ainda uma multidão nas sacadas da Avenida Atlântica e nos restaurantes da orla.
O município ainda conta com espectadores que vêm de cidades próximas como Camboriú, Brusque e Itajaí especialmente para a queima de fogos. Juntos, os três municípios poderiam exportar para a cidade mais de 380 mil pessoas. Ainda assim dificilmente o público chegaria a 1,5 milhão, admite o secretário de Turismo de Balneário Camboriú, Ademar Schneider.
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Segundo ele a determinação exata dos números não chega a fazer diferença, já que a percepção de que a cidade estava cheia era clara. De fato, os hotéis, com 19 mil leitos, registraram 98% de ocupação. No dia 1º de janeiro foram recolhidos na cidade 306 toneladas de lixo. Com uma média de 700 gramas por pessoa, conforme o padrão usado pela prefeitura para cálculos oficiais, pode-se afirmar que havia 438,4 mil pessoas em Balneário Camboriú na manhã após a virada.
– Temos expectativa de que o número de turistas ainda cresça, mas não muito além do que tivemos neste ano. O que precisamos fazer é trabalhar para que eles também venham em outros períodos do ano – diz Schneider.
Quantos cabem em um metro quadrado
– Bombeiros consideram que nos pontos onde é grande a aglomeração pode haver 4 pessoas por m². O Instituto Datafolha usa a média de 4 a 5 pessoas por m²
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– O índice acima de 6 é usado para locais onde não há como erguer os braços ou dar um passo à frente