Calçada é um dos lugares onde público e privado se misturam. Espaço de todas as pessoas, tem sua conservação nas mãos do proprietário do imóvel que lhe serve de referência. Mas parece que os pedestres não andam muito satisfeitos com elas. É o que mostra um levantamento feito entre fevereiro e abril deste ano e publicado no portal Mobilize Brasil, que deu nota para as calçadas de cidades brasileiras. A média nacional foi de 3,55. Florianópolis, Balneário Camboriú e Itapema foram incluídas. A Capital ficou com média 1,5, baixa se considerada que a nota máxima era oito.
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O portal teve como base dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, que revelando que no Brasil cerca de 30% das viagens cotidianas são realizadas a pé, principalmente em função do alto custo do transporte público. O Mobilize Brasil pesquisou 126 pontos urbanos, totalizando 228 ruas e avenidas em 39 cidades de todas as regiões do país. A nota média dos 228 locais ficou em 3,55.
O número foi considerado muito baixo se considerado que a nota mínima para uma calçada de qualidade aceitável é 8, segundo os critérios estabelecidos pelo Mobilize. Apenas 6,57% dos locais avaliados obtiveram nota acima desse indicador. E 70,18% das localidades avaliadas obtiveram médias abaixo de 5.
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Para a avaliação, foram escolhidas ruas e áreas com alta circulação de pedestres, como estações de transportes, proximidades de hospitais e ruas comerciais. As áreas avaliadas são todas de urbanização bem antiga, superior a 50 anos, e já passaram por processos de renovação de infraestrutura. Nas cidades avaliadas, os resultados mostraram grande disparidade entre bairros e regiões.
De forma geral, os voluntários foram bastante críticos. Alguns atribuíram notas às calçadas de cidades como um todo e não a uma rua ou avenida. É o caso de Florianópolis e Itapema, em Santa Catarina.
Os itens avaliados foram: irregularidades no piso, largura mínima de 1,20 m, degraus que dificultam a circulação, obstáculos (como postes, telefones públicos, lixeiras, bancas), existência de rampas de acessibilidade, iluminação, sinalização para pedestres, e paisagismo para proteção e conforto. Os resultados da campanha serão repassados aos Ministérios Públicos, prefeituras e ao Ministério das Cidades.
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De forma geral, o Mobilize Brasil interpretou que em todas as cidades avaliadas foi identificado certo descaso das autoridades quanto à conservação das calçadas, especialmente por conta das frequentes obras realizadas por concessionárias de serviços de água, gás, energia e telefonia.
O formulário usado pelos correspondentes do Mobilize está disponível para o público, que poderá avaliar as calçadas de outras cidades e publicar os resultados no endereço www.mobilize.org.br.
Pedrestre cai e 40 dias depois ainda sofre pelo impacto
Na tarde de 11 de julho, a aposentada Valmira Petry de Carvalho caminhava pelo Centro de Florianópolis. Nos altos da Rua Tenente Silveira com a Jerônimo Coelho, tropeçou e caiu. Por causa do frio, tinha as mãos nos bolsos do casaco e não conseguiu proteger o rosto antes de atingir o chão. Quarenta dias depois da queda, que abriu cicatrizes e cortes na boca, lascas nos dentes e enrijecimento nos lábios, ainda não conseguiu recuperar o sorriso.
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– Perdi muito sangue, sofri um leve desmaio e fui levada para o hospital. Por 20 dias só podia me alimentar com líquidos, mas o que mais sinto hoje é o fato de ainda não poder sorrir – conta a funcionária pública aposentada que nesta semana tem consulta com um cirurgião.
O sorriso, um dos hábitos que esta espírita acredita serem importantes para que toda a pessoa possa ter uma boa energia, só sai se ela segurar o queixo com as mãos e amparar o canto da boca. Val, como é chamada, reconhece que existem coisas piores; mas acredita que acidentes assim possam ser evitados:
– Eu ainda não tive tempo de buscar meus direitos, pois neste período fiquei isolada em casa inclusive pelo inchaço no rosto. Mas acho que a prefeitura não deveria esperar que os moradores fizessem as melhorias, deveria cuidar as calçadas e cobrar depois – sugere.
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Na tarde da queda, explica, um dos bombeiros que socorreram Val contou que quedas nas calçadas são comuns. O militar observou que ela tinha tropeçado no desnivelamento da calçada.
A reportagem do Diário Catarinense esteve no local onde houve o acidente. A Rua Jerônimo Coelho está sendo revitalizada, entre a Tenente Silveira e Paulo Fontes. A obra começou em maio e tem prazo para terminar em novembro deste ano. O valor total é de R$ 440 mil.
O que é avaliado
> Largura mínima de 1,20 m, conforme norma ABNT
> Degraus que dificultam a circulação
> Outros obstáculos, como postes, telefones públicos, lixeiras, bancas de ambulantes e de jornais e entulhos
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> Existência de rampas de acessibilidade
> Iluminação adequada da calçada
> Sinalização para pedestres
> Paisagismo para proteção e conforto
Avaliação de algumas ruas
Travessa Luiz Argolo, Centro, Santo Antônio de Jesus, na Bahia – nota 0,25
Av. Paulista, 2000, Consolação, São Paulo – nota 9,375
Av. Oceânica, Salvador – nota 10
Balneário Camboriú – nota 0,25
Florianópolis – nota 1,5
Itapema – nota 3,75
*** Parte da planilha com notas recebidas pelas calçadas de 228 locais em 39 cidades do país, como resultado da Campanha Calçadas do Brasil. A média nacional atribuída pelos avaliadores ficou em 3,55, número muito baixo se considerarmos que a nota mínima para uma calçada de qualidade aceitável seria 8, segundo os critérios estabelecidos pelo Mobilize. Apenas 6,57% dos locais avaliados obtiveram nota acima desse indicador mínimo. E 70,18% das localidades avaliadas obtiveram médias abaixo de 5. No caso de Florianópolis e Itapema, a nota não foi para um logradouro específico, mas em geral.