A onda de imigrantes centro-americanos menores de idade que assolou os EUA nos últimos meses, gerando uma crise humanitária, dá sinais de estar diminuindo.
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As empresas de ônibus daqui dizem que já notam uma redução no número de crianças desacompanhadas rumo à fronteira, a polícia deteve alguns jovens nos pontos de verificação e a patrulha norte-americana registrou uma queda nas apreensões de crianças e famílias no Texas, onde os imigrantes não param de chegar há meses.
Desde outubro foram 57 mil jovens sem família detidos ao longo da fronteira do sul, o dobro do volume de períodos semelhantes nos anos anteriores.
É muito cedo para dizer com certeza se a imigração em massa minguou, mas as autoridades esperam que esteja pelo menos diminuindo em resposta às iniciativas oficiais de impedir que o fluxo se torne hábito e à constatação de que a viagem é arriscada e que, no fim das contas, é muito pouco provável que encontrem refúgio nos EUA.
– Caiu uns 30% o número de crianças que vemos passar por aqui; o de famílias ainda é menor – conta Marvin Lopez, gerente de uma das empresas de ônibus mais usadas na cidade.
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No posto policial da estrada que faz divisa com a Guatemala, que fica mais ou menos a uns 45 minutos do terminal rodoviário, as autoridades dizem que nos últimos meses vinham prendendo de quinze a vinte menores, mas que, nas últimas semanas, esse número caiu para dois ou três.
Em julho, Maria Enriques foi detida com os filhos quando os oficiais pararam uma picape, com placas da Guatemala, que ia para uma cidadezinha hondurenha, porque a documentação das crianças não estava em dia.
– Eu estava só levando o menino para ver o pai, mas acho que vamos ter que voltar para casa então. Estão dizendo que as crianças só podem ir para o norte acompanhadas dos pais, mas e quem é mãe solteira como eu, como faz? – disse ela, que é mãe de um garotinho de um ano.
Honduras, fonte da maior leva recente de imigrantes jovens, vem dificultando a saída dos pequenos sem autorização, proibindo a venda de passagens com destino à fronteira para menores e designando uma unidade policial especial para patrulhar as rotas de ônibus e postos de fronteira mais usados.
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Alguns imigrantes podem estar evitando as rotas mais conhecidas, se arriscando ainda mais em caminhos remotos e perigosos, atravessando rios e florestas densas para evitarem ser pegos. A verdade é que a motivação para abandonar esta cidade continua forte, pois a violência e a pobreza reinantes a tornaram um dos locais mais perigosos do mundo e falsos rumores dão conta que é possível conseguir documentos e permanecer nos EUA se conseguirem chegar lá.
Por outro lado, os aventureiros dispostos a se arriscar na viagem de muitos ônibus e trens para o norte, também vêm ouvindo notícias de que as chances de entrarem e ficarem nos EUA são mais remotas.
Em julho, o posto da Patrulha de Fronteira em McAllen, no Texas, registrou queda no número de pessoas detidas. Em uma semana de julho, havia cerca de 500 estrangeiros presos, comparado com o dobro no mês anterior.
Além disso, neste mês os EUA também começaram a acelerar as deportações dos pais com crianças que chegaram recentemente ao país; já foram 80 pessoas, em dois aviões, de volta para Honduras, com outros voos programados para Guatemala e El Salvador.
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Muitos que são mandados de volta juram não desistir – e repetem a tentativa, até várias vezes, antes de finalmente conseguirem entrar nos EUA; mas há também aqueles que viajaram com crianças e os próprios jovens, que se surpreenderam com as dificuldades e o custo inesperado da jornada.
– Eu não vou tentar nunca mais – afirma Victoria Cordova, de 30 anos, deportada dos EUA com a filha de nove anos. Ela conta os horrores da viagem, que incluíram abrigos lotados, pouca comida e uma profusão de documentos para serem assinados, incluindo um em inglês, que não entendeu, mas assinou mesmo assim.
Depois disso, ela, que estava em um abrigo no Novo México com várias outras mulheres e seus filhos, ficou sabendo que teria que embarcar de volta para Honduras, o que levou muita gente que estava ao seu lado às lágrimas.
Victoria voltou para casa, em um bairro perigoso de Tegucigalpa. Sua maior preocupação agora é devolver os US$ 6 mil que pediu emprestado aos vizinhos para cobrir os custos da viagem, incluindo vários membros de gangues; mas está desempregada.
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Outras pessoas, incluindo crianças que foram enviadas para o México, cujas autoridades também aumentaram o número de deportações, disseram que gostariam de tentar outra vez, mas que não tinham dinheiro e ficaram desanimadas com a viagem.
– Eu queria ficar com o meu pai, mas a viagem é tão longa e tão difícil! – lamenta Aidan, de treze anos, que deixou um abrigo daqui, com os avós, depois que foi deportado do México.
Orlin Flores, de 14 anos, estava tentando se encontrar com os pais, na Califórnia, mas foi detido poucos dias depois do início da jornada e também deportado.
– Não sei se faria de novo; além de morrer de medo, não tinha grana para dar aos policiais me soltarem – reclama ele, referindo-se à propina que muitos têm que pagar ao longo do caminho.
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O México diz que tomará medidas para reduzir o fluxo de imigrantes, prometendo impedir as pessoas de pegarem carona nos trens cargueiros – tática comum entre os que seguem para o norte – e reforçar o patrulhamento na fronteira. Comprometeu-se também a reduzir a corrupção entre os oficiais, mas não deu maiores detalhes.
Já a Guatemala disse que vai aumentar o número de policiais e soldados na fronteira. El Salvador começou uma campanha de conscientização pública para desestimular os pais a deixarem os filhos viajarem sozinhos e pretende redobrar os esforços para prender os “coiotes”.
Ainda assim, os assistentes sociais que recebem os imigrantes de volta acreditam que muitos vão tentar driblar os obstáculos legais. A maioria dos deportados e seus defensores se mostra cética em relação às promessas do governo de oferecer-lhes bolsas de estudo e empregos para impedir que fujam.
– Eles vão imigrar novamente a menos que haja algo aqui que valha a pena: emprego, educação, o fim da violência. Se não tiverem nada disso, vão tentar de novo, com certeza – diz Sor Valdette Willeman, diretora do Centro de Assistência aos Imigrantes, ONG hondurenha que ajuda os deportados nos aeroportos.
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