É no inverno que celebro minha grande paixão: o café. E para me ajudar a celebrar este nosso vício de cada dia, convoco alguns artistas, pois o café sempre teve ilustres apreciadores: Balzac, Beethoven, Bach, Luís XV e Rossini eram fãs declarados. Napoleão acreditava que a bebida lhe dava energia, calor e uma força incomum para conquistar suas vitórias. Já o iluminista francês Voltaire tomava uma “mistura de café com chocolate”, enquanto almejava a Revolução Francesa ao lado de Rousseau, Diderot e Condorcet.

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A lenda que envolve a descoberta do uso do café é divertida. Devemos nosso santo cafezinho ao pastor etíope Kaldi e suas cabras, pois no longínquo ano de 850 d.c. ele percebeu que elas ficavam um tanto agitadas ao mordiscar as tais frutinhas vermelhas. Surpreso com o comportamento das bichinhas, Kaldi levou alguns grãos ao mosteiro local. O abade, receoso, ateou fogo naquele punhado de grãos que, depois de torrado, exalou um aroma delicioso. Surpreso, mandou recolher o que sobrou, sugerindo que fosse feita uma infusão com os frutos queimados. Os monges saborearam a bebida, aprovaram e passaram a ingeri-la durante as orações e as longas sessões noturnas de meditação.

Da África para a Europa, e de lá para o mundo. No Brasil, o café começou a ser cultivado em terras paraenses, a partir de uma muda trazida pelo desbravador brasileiro Francisco Mello Palheta, em 1727. Hoje o país do futebol é também o país do café: o Brasil é o maior produtor mundial de café, com dezenas de milhões de sacas anuais, e o quinto país em consumo per capita, atrás apenas da Finlândia, Suécia, Alemanha e Itália.

A cada ano os brasileiros bebem o equivalente a 118 bilhões de cafezinhos. Há atualmente espalhadas pelo país mais de duas mil fazendas de café, muitas delas situadas em regiões que privilegiam inclusive a produção de grãos especiais.

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Reproduzo abaixo um trecho de um conto sem título, deixado incompleto por Julio Cortázar, revelado apenas em 2003, nas Obras completas do autor que saíram pela editora Galáxia Gutemberg, da Espanha. Segue:

“Naquela noite não foi possível me aproximar de Bix porque havia gente demais, porém, na manhã seguinte, o encontrei no restaurante do hotel bebendo um café, meio que perdido em algo que devia interessar-lhe no teto, e sem pedir permissão sentei na cadeira logo em frente, pus minha mão sobre a dele e disse: sabe, quero que saibas, já faz tanto tempo que me observas que não posso mais. E lentamente ele baixou os olhos do teto, dava para sentir que o olhar deslizava no ar como uma frase de trompete e ele disse OK, se é assim, por que não toma um café comigo e me observa?”

Opa, a água ferveu… Vai um café aí?

Carlos Henrique Schroeder é um dos principais novos escritores catarinenses