A população de Balneário Camboriú está descontente com o transporte público na cidade. As reclamações de atrasos dos ônibus são frequentes entre os usuários, mas quem mais tem sofrido com o atendimento precário da única empresa que opera na cidade, a Expressul, são os idosos e cadeirantes. Falta acessibilidade para estas pessoas. As queixas são tantas que o Ministério Público entrou na discussão e já pediu que a prefeitura se reúna com a empresa para resolver os problemas. Diante da permanência das reclamações, a promotoria pode até recomendar que o município rescinda o contrato com a prestadora de serviços.
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Os idosos se queixam muito do mau atendimento, às vezes até grosseiro, dos motoristas. Maria Monteiro, 66 anos, mora na altura da rua 3.100 em Balneário Camboriú. Pelo menos três vezes por semana precisa ir até as proximidades da prefeitura. Ela diz que muitos motoristas nem sequer respondem quando pede informações sobre o itinerário. Os idosos também penam quando os motoristas estão com pressa. Maria e o marido Antonio Monteiro, 71, comentam que eles aceleram os ônibus quando os passageiros ainda estão nos degraus. Quando não há lugares para sentar, as pessoas de mais idade não mal conseguem se segurar.
– Antigamente daria pra ir andando para casa, mas nessa idade já estamos cansados e o médico mandou não fazer esforço – justifica dona Maria, que cuida de uma casa no Centro de Balneário.
Além disso, os idosos dizem que muitos motoristas simplesmente ignoram o sinal e não param para que os passageiros subam. Enquanto produzia a reportagem sobre o transporte público na cidade, na manhã desta sexta, a equipe de O Sol Diário flagrou um ônibus seguindo reto diante de uma passageira que fazia sinal na 3ª Avenida. O motorista só parou e abriu as portas quando a mulher correu atrás do veículo, balançando os braços e gritando.
Cadeirantes
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Não conseguir embarcar porque o ônibus passou direto não é exclusividade dos idosos. Muitos cadeirantes também sofrem com isso. A desculpa, segundo o diretor administrativo da Associação de Apoio às Famílias de Deficientes Físicos (Afadefi), Valdeci Mathias, é de que as rampas de acessibilidade dos ônibus estão fora de funcionamento.
– Mas geralmente é má vontade dos motoristas. Porque como não tem cobrador o motoristas tem que descer do ônibus para pegar esse passageiro – explica.
Faz três meses que a estudante de Fisioterapia e Educação Física Gevelyn de Quadros não depende mais de ônibus. Mas antes de comprar um carro a moça chegou a ficar quatro horas esperando no ponto, porque os ônibus com rampa não paravam com a desculpa de que o equipamento estava quebrado.
– Quando funciona tem gente que não sabe operar. Teve o caso de uma cadeirante, há uns dois anos, que fraturou os ossos da face porque ao invés de baixar a rampa o motorista a recolheu ainda suspensa – conta Gevelyn, que já passou pela mesma situação, mas teve tempo de se segurar nas bordas.
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Ministério Público cobra soluções
O promotor de Defesa do Consumidor de Balneário Camboriú, Rosan da Rocha, explica que devido às constantes reclamações o Ministério Público já encaminhou ofícios à prefeitura para tentar esclarecer a situação com a empresa, mas a Expressul diz que são casos pontuais. O último pedido cobrando providências foi feito há mais ou menos um mês.
– A cota de veículos com acessibilidade está satisfatória, mas não transita em perfeito estado. No caso do mau atendimento, a empresa pode fiscalizar e detectar quais são os maus motoristas – destaca.
Rocha adverte que, se as queixas continuarem, pode recomendar à prefeitura que rescinda o contrato com a Expressul pela má prestação de serviço. Segundo ele, a prefeitura tem o poder de cobrar e fazer isso por conta própria.
Expressul oferece apoio psicológico aos motoristas
O contrato da Expressul com o município foi assinado em 2007 e é válido por 20 anos, salvo se houver alguma irregularidade e ele for rescindido. Até o momento, segundo o secretário de Administração, João Batista Leal, está tudo regular. Mas a empresa está ciente dos problemas envolvendo especialmente motoristas e usuários.
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Há pelo menos cinco anos a Expressul investe em palestras com psicólogos para os motoristas e, segundo o diretor administrativo da empresa, Evandro Luiz Ern, elas têm surtido efeito. Nos encontros, os condutores são orientados a ter maior zelo e paciência com os idosos.
– Isso melhorou bastante, mas para ter direito à gratuidade o idoso tem que apresentar documento com foto ao motorista e muitos reclamam porque acham um constrangimento – explica.
De qualquer modo, Ern esclarece que o estresse do trânsito até justifica a impaciência de alguns motoristas, mas isso não é aceitável. Por isso, toda a frota de 26 ônibus em operação da empresa possui câmeras internas. Quando há reclamações as imagens são analisadas, se for confirmada uma conduta irregular do motorista ele é penalizado.
– Já tivemos casos de demissão sumária, mas também percebemos que algumas vezes o idoso cai não porque o ônibus arrancou, mas porque ele escorregou, por exemplo.
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Em relação aos cadeirantes, Evandro Ern informa que 20 dos 26 ônibus que operam tem rampa e a orientação dada aos motoristas é que todos os passageiros sejam atendidos. Ele comenta que ocorre de as rampas apresentarem problemas, pois são um equipamento hidráulico, mas antes de sair com o veículo da garagem ele deve ser testado.
O diretor administrativo garante que todos os horários de saída das linhas são cumpridos, mas lentidões no trânsito tem interferido nas paradas nos pontos. Segundo ele, obras no sistema viário de Balneário Camboriú e na BR-101, que acaba prejudicando as linhas que fazem a região da Interpraias, vêm causando atrasos acumulativos no último ano.
– Infelizmente não há o que fazer, são cinco minutos perdidos aqui, mais cinco ali, e acaba acumulando – diz.