– Mamãe, papai, chão, faca.

Foi com as quatro palavras e as roupas respingadas de sangue que a menina de três anos contou como viu a mãe sendo assassinada. O crime foi cometido domingo pela manhã, no bairro Bom Viver, em Biguaçu. Quem deu as quatro facadas em Viviane Monteiro, 35 anos, foi Isaque Costa, 32 anos, marido dela e pai da criança que ainda mamava no peito e agora pergunta:

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– Cadê mamãe?

O feminicídio aconteceu depois de uma briga. Ciúmes da mulher foi a causa, contou à polícia o próprio criminoso que não foi preso em flagrante, se apresentou no dia seguinte à polícia e se encontra em liberdade. Na casa também morava a outra filha de Viviane, uma adolescente de 16 anos que viu a mãe receber o golpe derradeiro. Quando chegou na cozinha ela conseguiu ouvir as últimas palavras:

– Minha filha.

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Desde o momento do crime as irmãs estão abrigadas na casa de uma vizinha. Nascida de outro relacionamento, quando Viviane tinha 19 anos, a adolescente está assustada. Não consegue ficar só, pede que os portões da casa sejam mantidos fechados e não sabe quando volta para a escola.

Os detalhes do crime foram contados na manhã desta terça-feira em uma audiência pública na Assembleia Legislativa. O objetivo do encontro era discutir a Construção do Pacto Estadual Maria da Penha e envolveu a Comissão de Direitos Humanos, a Bancada Feminina e o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (Cedim/SC).

Quem fez o relato foi Graciela Chaves Aires Rodrigues. O choro incessante marcou a fala da moça que pedia ajuda jurídica. Graziela é nora de Roseli Ivete da Silva Rodrigues, a vizinha que abriga as irmãs. A intenção de Roseli é obter a guarda das meninas. A bancada feminina faz a articulação junto à Defensoria Pública e ao Ministério Público.

A ideia é que isso ocorra via apadrinhamento afetivo, um programa voltado para crianças e adolescentes que vivem em situação de acolhimento ou em famílias acolhedoras, com o objetivo de promover vínculos afetivos seguros e duradouros entre eles e pessoas da comunidade que se dispõem a ser padrinhos e madrinhas. Pelo menos até uma decisão final da Justiça acerca do destino das crianças.

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O defensor público Edison Schmitt foi designado para acompanhar o caso. À tarde houve uma audiência no Ministério Público de Biguaçu. Os objetivos são diferentes. A Defensoria Pública quer atuar para que as irmãs permaneçam juntas. Existe preocupação com isso, já que a menina menor tem avós paternos e outros familiares que poderão tentar cuidar dela. Diferente da adolescente, que não tem vínculo de afetos com a família do pai biológico. A conversa com o MP teve outra finalidade: que sejam pedidos esclarecimentos à polícia sobre os motivos de Isaque Costa estar em liberdade mesmo diante do femimicídio.