Há quem celebre o amor surgido de encontros ao acaso, e o cinema reforça essa ideia a cada nova comédia romântica. O que os roteiristas hollywoodianos não contam é que, na vida real, esses acasos, muitas vezes, esbarram na crescente necessidade das pessoas de focar em suas carreiras. Como consequência, milhares de homens e mulheres bem sucedidos na profissão ficam sem tempo para relacionamentos. Muitos findam tendo sucesso no trabalho, mas sem ninguém para, no mínimo, fazer um cafuné ao fim do dia.
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O que essas pessoas querem, além de um amor para chamar de seu? Praticidade. O jogo da paquera demanda esforço, tempo e uma disposição que muitos não têm. E, se antes, as agências e os sites de relacionamento conseguiam interessados apenas entre os muito tímidos, hoje, é com os que trabalham demais que elas fazem sucesso.
– Nós temos 30 milhões de perfis registrados e recebemos 400 mil novas adesões todos os meses. O que existe é uma mudança de atitude: com mais trabalho e menos tempo, as pessoas veem seus círculos diminuírem e nos procuram – afirma Claudio Gandelman, presidente do Par Perfeito, maior site de relacionamentos do país.
De acordo com Gandelman, 41% dos cadastrados têm entre 25 e 35 anos, justamente a fase da vida em que a carreira é colocada em primeiro lugar.
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– No restante, 37% estão acima dos 35 e 22%, entre 18 e 24 anos – completa.
Sejam balzaquianos ou recém-saídos da adolescência, não há idade para o romantismo, nem formas de se conhecer a pessoa amada. Mas, com a experiência, fica visível que a máxima de que os opostos se atraem parece só dá certo mesmo na física.
Sinceridade é bom e eles gostam!
As agências, sejam elas virtuais ou reais, funcionam em um processo semelhante: ao se cadastrar, o usuário preenche um ficha na qual coloca todos os seus gostos. E todos aqui não é força de expressão. Cor do cabelo, dos olhos, altura, grau de instrução, nível salarial, hobbies. Essas informações são necessárias para que, ao se cruzar os dados, os que têm gostos parecidos tenham mais chances de se encontrar. Só que mentir é fácil, mesmo que isso seja uma atitude quase oposta ao desejo de manter um caso sério.
– Aqui, se a pessoa mente, marca encontro e não vai, combina de ligar e não liga ou é grosseira, o cadastro é retirado. É a forma que temos de controlar – afirma Edson de Souza, proprietário da agência matrimonial Anjo Meu, que tem 12 mil cadastrados em todo o Distrito Federal e funciona por meio do telefone: todos os dias, o usuário pode ligar para saber se alguém mais foi adicionado ao seu perfil.
Para dar mais segurança aos usuários desse tipo de serviço, o governo do estado de Nova York, nos Estados Unidos, por exemplo, aprovou uma lei na qual os sites de encontros devem alertar, em suas páginas, sobre os riscos que os usuários correm ao sair com alguém que conheceu na rede. As dicas envolvem não dar o endereço ou mesmo o número do celular, além de não fornecer dados, no primeiro encontro, como onde trabalha. A medida soa exagerada, já que um pretendente mais entendido pode conseguir essas informações em buscas rápidas na internet, mas não deixam de ser necessárias.
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A possibilidade de construir uma imagem traz riscos também para os que criam personagens na esperança de parecerem mais atraentes. De acordo com a terapeuta de casais Marília Lohmann Couri, é preciso que os usuários façam uma autoanálise, mais ainda os que usam a internet.
– Eles têm que se perguntar: ?Será que me escondo atrás da tela??. A grande questão é definir o que se busca, já que, de modo geral, as agências e sites de relacionamento são formas positivas de encontrar alguém. Mas seu uso depende da maturidade de cada um.
Ela explica que muitas pessoas têm fragilidade emocional acentuada e podem acabar se relacionando com pessoas que não são totalmente sinceras.
A psicóloga atesta que o isolamento provocado pelo trabalho é maior atualmente. Ao se limitar o círculo de relações aos colegas de profissão, muita gente perde oportunidades de conseguir um caso amoroso.
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– Por meio dos sites e agências, pode-se conhecer outras pessoas que tenham os mesmos interesses, além de ajudar quem não tem tempo. Eles fazem com que todos se abram mais.
A terapeuta faz questão de lembrar que fugir dos acasos do amor não é uma novidade.
– Meu pai era psiquiatra e há 50 anos fazia parte de uma agência de namoro, analisando a personalidade das pessoas e ajudando-as a se encontrar.
E, se depender dos dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), divulgada pelo IBGE, as agências de namoro serão famosas por muito tempo. Atualmente, mais de 62 milhões de brasileiros são solteiros.
Curiosidades
:: Todos são, normalmente, cinco centímetros mais baixos do que informa o perfil.
:: As fotos mais belas, quase sempre, representam a pessoa dois anos antes da criação do perfil.
:: Os salários são 20% menores do que os declarados.
:: 80% dos que se declaram bissexuais querem somente parecer mais descolados em relação ao sexo – e consegui-lo mais facilmente -, já que mandam mensagens apenas para um gênero.
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