A mulher tem autonomia para decidir o parto do seu bebê? A pergunta inquietante gera polêmica.
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De um lado está a corrente a favor do parto natural e suas diversas modalidades. Para esse público, a cesariana por conveniência indicaria uma recusa do instinto materno. De outro, estão os que defendem a cirurgia desde o início da gravidez, mesmo sem indicação médica.
– Segundo o Conselho Federal de Medicina, o médico não pode desrespeitar a vontade do paciente sobre o tipo de tratamento que ele escolher, salvo se houver risco de vida. Ocorre que quando a mulher sugere a cesariana eletiva – que é sempre a melhor opção para o médico, mas nem sempre a melhor para a paciente e seu bebê – alguns médicos não discutem e aceitam a “sugestão” da paciente, como se essa fosse a melhor opção para todos – explica o chefe do serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Clínicas e gestor do Instituto da Mulher do Hospital Mãe de Deus, Sérgio de Almeida Martins-Costa.
A paciente tem o direito de escolher sobre a forma de nascimento do filho, mas deve ser informada correta e honestamente sobre os riscos e benefícios, pesando prós e contras.
– Eu diria que seja qual for a opção, parto normal ou cesariana, a escolha do médico e da equipe médica é fundamental. Se ela optar pela cesariana, o médico jamais deve retirar o bebê do útero com menos de 39 semanas. Antes, aumenta o risco de ele ter problemas e ter de ir para a UTI neonatal, sem necessidade, em decorrência de doenças respiratórias ao nascer. E o mais importante: a mulher não deve ter medo. Deve é temer escolher um mal médico, que não saiba acompanhar com segurança, tanto um parto natural quanto indicar com precisão uma cesariana – ressalta Martins-Costa.
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Segundo o médico, o índice de cesarianas no Clínicas – que tem uma equipe médica de plantão 24 horas por dia – é de 30%, enquanto no Mãe de Deus – aonde a paciente escolhe a equipe médica – é de 80%.
Como no Brasil a maioria das mulheres não tem à disposição um sistema de saúde seguro, como é visto, por exemplo, nos países mais desenvolvidos, a cesariana acaba sendo a opção mais provável.
Foi o que ocorreu com a arquiteta Marília Neves, 33 anos. Desde o início da gravidez, ela teve dúvidas sobre o parto. Mas ao saber que sua médica viajaria no período em que estava previsto o nascimento de Léo Augusto, não teve dúvidas.
– Eu já estava um pouco insegura. Mas quando ela disse que iria viajar, optei pela cirurgia. Foi a melhor decisão – conta.
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Aliviada, a arquiteta até marcou salão de beleza para um dia antes da cesariana: fez escova nos cabelos, para esperar o nascimento do filho, hoje com dois anos e meio:
– Não me arrependo. Fiz a cirurgia com 38 semanas, e o Léo nasceu com 3,5 quilos. Minha recuperação foi ótima, amamentei sem problemas, até um ano e dois meses.
Outra que já se decidiu sobre o parto é a modelo gaúcha Letícia Birkheuer. Com cinco meses de gestação, ela acha mais seguro que seu bebê (que deve se chamar João Guilherme) venha ao mundo com dia e hora marcados. Em entrevista a Zero Hora por e-mail, disse que essa decisão foi tomada devido à convivência que tem com médicos:
– Eles tratam de recém-nascidos e muitos nascem com problemas decorrentes do parto normal, inclusive sofrimento fetal pela demora do parto, e outras complicações.
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Para ela, cada mãe deve decidir o que é melhor para o seu filho:
– Eu nasci de cesariana, prematura e fiquei 32 dias na incubadora. Tem criança que nasce em casa. Cada um faz o que acha melhor.