Oito meses depois do roubo dos bustos de Jerônimo Coelho, Cruz e Souza, Vitor Meirelles e José Boiteux – na Praça XV – um fato novo passou despercebido.

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Já faz 12 dias que o pedestal onde ficava o busto de Vitor Meirelles foi ocupado. O Blog Visor chegou a noticiar o fato, mas até agora, poucos notaram que a cabeça hoje exposta não é do pintor catarinense, é de um investidor, muito parecido com Eike Batista (mas que, segundo os criadores da obra, não é necessariamente o empresário carioca, mas uma representação similar).

O novo busto, feito pelo escultor Gustavo Tirelli, é uma intervenção artística do grupo Erro. Chamado Bustox (uma referência às empresas ‘X’ – OGX, MPX, LLX, OSX, MMX e CCX – do investidor carioca e também ao tratamento rejuvenescedor “botox”), a obra é uma forma de questionar o roubo de 8 de agosto, a vacância do pedestal, o descuido do poder público com a história e também quem são as figuras que servem de exemplo para os jovens de hoje. A explicação é do artista Pedro Bennaton, integrante do grupo responsável pela obra.

Ele conta que o grupo escolheu por não fazer um busto de um “herói” contemporâneo unânime, para fazer a população pensar sobre sua cidade:

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– Queremos que as pessoas discutam: “o grupo não deveria ter colocado aquela pessoa, deveria ter botado a outra”. Assim elas entenderão que podem e devem interferir para deixar sua cidade melhor – explica Pedro.

A escolha do pedestal aconteceu por conta da inscrição, onde o estado oferece o busto como uma homenagem ao pintor.

– O busto de um investidor é como um presente a Vitor Meirelles. Um artista que foi valorizado no início do século passado. Hoje, quantos Vitor Meirelles temos aí que poderão ser homenageados no futuro, mas não recebem investimento? – Questiona Pedro.

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Quebra de paradigma

Para o grupo Erro, o Bustox é para que a prefeitura repense a valorização da cultura e crie uma política educacional para que os cidadãos possam, naturalmente, se interessar pelo que a cidade oferece. Segundo Pedro, o roubo dos bustos era uma oportunidade para o poder público mudar de comportamento em relação ao cuidado de sua história e a cultura.

– Poderia melhorar a proteção das obras, iluminar o local, colocar mais espaços de convívio e pedir ao cidadão comum que tipo de monumento ele gostaria de ter em sua cidade – diz Pedro.

Ele ainda questiona a vacância de mais de oito meses dos bustos (dos quatro roubados, apenas um foi recolocado), o que pode um desencorajamento para se prestar serviços à cidade:

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– Por que um jovem trabalharia para sua cidade, quando ele mesmo vê que nem os cidadãos ilustres são valorizados?

Tendo estes questionamentos em mente, o grupo doou o Bustox para a prefeitura e espera que a obra tenha um espaço para ela, a fim de ser um símbolo para relembrar o roubo dos bustos.

Realidade mais absurda que a ficção

O Erro é conhecido por intervenções urbanas cercadas de mistério. A peça mais conhecida do grupo é a Enfim Um Líder, que circulou pelo estado, espalhando cartazes e pinturas tempos antes da chegada da peça, que era feita 24 horas por dia no meio da rua. O líder, nunca existiu.

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Tal fama fez com que alguns conhecidos do grupo viessem questionar o Erro se não foram eles mesmos que roubaram os bustos da Praça XV para fazer o Bustox:

– Não teríamos uma ideia tão genial – afirma Pedro.

O Bustox faz parte da exposição Erro Ex Posto, que tem diversas intervenções no Centro da Capital. Dia 18 de abril será feito o encerramento, com um leilão de arte. Menos o falso Eike, que foi doado para a prefeitura e continuará no pedestal de Vitor Meirelles até o poder público decida onde vai colocar o novo busto.