O desrespeito ao patrimônio artístico e a falta de segurança colocaram em risco o legado público mais antigo do escultor alemão Fritz Alt em Joinville. O busto da princesa Dona Francisca, obra que só perderia em importância frente ao Monumento ao Imigrante, por pouco ficou apenas na memória dos joinvilenses. Caso o vândalo que o derrubou do pedestal de granito no último sábado tivesse furtado a peça em bronze, estaria perdido para sempre um dos símbolos da Rua das Palmeiras.
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Ao mesmo tempo em que o fato de o busto ter sido deixado no local acendeu uma luz de alerta, também foi um alívio. A peça já estava contemplada pela oficina de criação de moldes, ministrada pelo escultor Pita Camargo e sob a coordenação do jornalista Joel Gehlen, no setor de conservação da Fundação Cultural de Joinville, com patrocínio do Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura (Simdec), mas ainda não tinha sido levada ao setor. A peça chegou ao laboratório ontem e deve ganhar um molde ainda nesta semana.
O busto de Dona Francisca é uma das cinco obras escolhidas para receber uma espécie de fôrma de silicone que garantirá que, caso suma ou seja danificada, possa ser reproduzida. Além disso, será possível dispor as cópias para exposições itinerantes.
– A obra de Fritz Alt é tão importante quanto a de Victor Meirelles, só não é tão reconhecida porque a obra dele não viaja. Nisso, as réplicas podem ajudar – comenta Gehlen.
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Com a queda, a peça de 89 anos teve o nariz danificado e o suporte de uma tonelada, também original, ficou com uma das bordas quebradas e terá de ser restaurado. Para Camargo, faltou fixar melhor o busto no pedestal e o pedestal, no chão.
A peça original não retornará à Rua das Palmeiras – ficará no Museu Casa Fritz Alt. No lugar, será instalada uma réplica também em bronze, feita a partir do molde confeccionado por Camargo. A nova peça deve ficar pronta até julho.
Por enquanto, Joinville não tem segurança regular nas praças onde estão monumentos importantes como o de Dona Francisca. O secretário de Proteção Civil e Segurança Pública (Seprot), César Roberto Nedochetko, diz que o atual efetivo de guardas municipais ainda é pequeno e só consegue atuar nas escolas.
Danos e vazios
Não é a primeira vez que o busto de Dona Francisca vira alvo de vândalos. Antes de 2012, ele foi derrubado e teve parte do lábio lascado. Poucos meses após a restauração, precisou passar por uma limpeza para a retirada de manchas de batom.
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Outras obras públicas de Fritz Alt não tiveram a mesma sorte. O busto original de Orestes Guimarães, que ficava na Escola Conselheiro Mafra, foi furtado, porém existe a peça em gesso que garante a reposição. Segundo Gehlen, nenhuma das quatro obras do alemão no Cemitério Municipal resistiu aos roubos. A última peça que restou, uma placa em alto- relevo de Orestes Guimarães, foi levada recentemente.
Por serem fundidas em bronze, muitas obras são postas à venda por causa do material. Em outras situações, o dano é por puro vandalismo. De autoria de Mário Avancini, a homenagem ao político Abdon Batista, instalada na praça do Mercado Público, foi destruída. A cabeça feita em concreto foi arrancada em 2014.
Oficina e catalogação de obras
Três dos cinco moldes previstos pelo Projeto Salvaguarda e Disseminação do Acervo Artístico do Escultor Fritz Alt já estão concluídos. Eles são peças do acervo do museu que permanecem em gesso e, por isso, correm mais risco de sofrer com as ações do tempo: A Ninfa, O Friorento e Despertar do Homem.
Além do monumento a Dona Francisca, o busto de Getúlio Vargas, da praça Getúlio Vargas, já foi retirado e está no laboratório. Em meados de 2014, ele sofreu uma queda provocada por vândalos e acabou se deslocando da base.
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Quinze pessoas passaram pela oficina. Além do núcleo de conservação da Fundação Cultural, também participaram arquitetos e artistas plásticos. A intenção, diz Gehlen, é promover mais edições para que outras obras do alemão sejam contempladas. Em paralelo à fabricação dos moldes, o projeto prevê a catalogação completa das obras de Alt até o fim deste ano.