Com 67% de aprovação dos credores que tinham valores mais altos a receber, a assembleia geral que iria aprovar o plano de recuperação da Busscar ou indicar a falência da companhia, foi suspensa na tarde desta terça-feira, atendendo a um pedido da empresa.

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O advogado Euclides Ribeiro S. Júnior alegou a necessidade de estudar as propostas que foram apresentadas durante a tarde que modificavam o plano original.

Durante a assembleia, nenhum dos credores que pediu a palavra elogiou a proposta da empresa. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Sindicato dos Mecânicos, por exemplo, foram abertamente favoráveis à falência.

Mas alguns apontaram propostas alternativas, entre eles representantes do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul), o advogado de dois sócios e de alguns trabalhadores e o próprio sindicato.

Conseguir o adiamento, portanto, foi um recurso da Busscar para evitar a decretação da falência.

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O prolongamento da indefinição do futuro da ex-fabricante de ônibus de Joinville não surpreendeu aos presentes. Para um dos representantes do BNDES, o desfecho “já era esperado”.

Caberá ao novo juiz titular da 5ª Vara Cível de Joinville, que assumiu o cargo há duas semanas, Luis Felipe Canever, decidir por quanto tempo a assembleia será adiada. A expectativa de Euclides é de que a suspensão dure pelo menos 60 dias.

O fator Santander

Às vesperas da votação, as atenções se voltaram para um dos principais credores, o Banco Santander. A instituição já havia sido decisiva para a falência da empresa na primeira assembleia, em 2012, revertida pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina no final do ano passado.

Agora, a Busscar fez uma proposta diferenciada para conseguir seu apoio. O Santander seria o único credor a receber parte dos créditos (R$ 20 milhões) à vista. A oferta não convenceu o banco, credor de R$ 140 milhões, e nesta segunda-feira a Busscar recebeu a negativa do Santander.

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Por esta razão, a disposição do banco de votar favoravelmente ao adiamento foi comemorada por Euclides como um sinal de que as portas não estão totalmente fechadas e a negociação com o banco pode evoluir.

Sobre o pedido do sindicato para que 50% dos recursos dos bens vendidos sejam direcionados para pagamento das dívidas trabalhistas, Euclides disse que é preciso estudar a viabilidade, pois a empresa considerou no plano original 30% para este fim.

Entenda a crise

Problemas internos e de gestão foram agravados pela crise financeira mundial, em 2008, e a Busscar Ônibus entra em sua pior crise. A partir desse momento, fez plano de demissão incentivada, recorreu ao governo em Brasília, promoveu passeata, teve bens bloqueados e fez inúmeras negociações com credores. Confira os principais momentos:

2002 – Sinais de que a Busscar Ônibus passava por uma crise financeira tornam-se mais evidentes. Empresa registra prejuízo e participação no mercado cai de 30% para 10%. Houve queda de produção e de faturamento.

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De 2004 a 2008 – Busscar Ônibus esboça reação e os negócios voltam a apresentar curva ascendente.

De 2009 a 2011 – A crise retorna.

Outubro de 2011 – Empresa pede a recuperação judicial

Setembro de 2012 – Decretada a falência, após assembleia geral de credores.

Novembro de 2013 – Tribunal de Justiça de Santa Catarina cancela assembleia que decretou falência.

Agosto de 2014 – Continuação da assembleia geral dos credores, e decisão pelo adiamento da votação.