Para cerca de 70 crianças da única creche da Frei Damião, uma das comunidades mais pobres do Estado, no município de Palhoça, na Grande Florianópolis, as aulas ainda não começaram. E o motivo não é a falta de professores. O que tirou os alunos da escola é um impasse entre prefeitura de Palhoça e o Centro de Assistência e Desenvolvimento Integral (Cadi), uma ONG de trabalhos sociais.

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Atualmente, a creche municipal Ulisses Guimarães não tem espaço suficiente para atender aos 200 alunos matriculados. Para ajudar, o Cadi, no outro lado da rua, cede parte do seu prédio para a escola.

Quatro turmas sem aulas

Mas, para isso, a ONG depende de uma autorização de cessão de uso da prefeitura, o que ajuda na prestação de contas e na segurança das crianças.

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Por causa da falta dessa assinatura – o documento foi encaminhado à Secretaria de Educação em outubro -, quatro turmas estão sem aulas.

– Estamos abrindo mão de oferecer oficinas gratuitas à comunidade, para destinar salas à escola. Estamos de mãos amarradas, a gente quer ajudar e não consegue – diz o consultor do Cadi, Roberto Schenk.

Unidade tem até fila de espera

Com o atraso nas aulas, os professores começaram a sofrer ameaças. Até um Boletim de Ocorrência já foi registrado na polícia. A direção da escola preferiu não se pronunciar sobre o caso.

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O Cadi tinha planos de ceder mais uma sala à creche, para 60 alunos. Hoje, a escola tem uma fila de espera de 150 crianças.

Procurada, a prefeitura de Palhoça limitou-se a dizer que está resolvendo trâmites legais e burocráticos, mas não explicou os motivos de não ter resolvido a questão antes do início das aulas.

Pais desesperados

Sem aula, Karolaine Guedes, quatro anos, não aguenta mais de saudades da creche. Sempre que vai brincar, sai com a mochila e os cadernos a tiracolo. Enquanto a mãe trabalha, ela passa as manhãs com a vizinha. À tarde, é o irmão de 10 anos quem fica com a menina.

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– A gente não trabalha direito, com a cabeça em casa – conta a mãe, a doméstica Josiane dos Passos, 25 anos.

Na casa de Amábile Oliveira, cinco anos, a situação também é difícil. Os pais trabalham o dia inteiro, então, é a avó Maria Salete, costureira, quem cuida dela.

– Não consigo costurar, nem aceitar mais serviço.