O maior problema para as empresas estrangeiras decidirem em se instalar no Brasil é a burocracia do setor público. A contatação é da coordenadora do Departamento de Internacionalização da Martinelli Advogados, Ana Paula de Ros. As dificuldades para os empresários de fora é tamanha, que várias vezes ela obteve procuração para, na prática, até mesmo administrar, no começo, a operação instalada no País, enquanto se faz a legalização de documentos dos executivos que vem morar. A profissional explica que Joinville é atrativa para negócios porque tem boa qualidade de mão de obra e segurança adequada.

Continua depois da publicidade

– Casas com muros baixos chamam atenção deles.

Quem é ela

Ana Paula de Ros é a coordenadora do departamento de Internacionalização da Martinelli Advogados. Graduada pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), com MBA em Gestão de Tributos e Planejamento Tributário pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e especialista em Direito Constitucional Norte-Americano pela University of Delaware. Lecionou na Universidade de Caxias do Sul e na Faculdade Cenecista de Joinville. Atua nas áreas de Direito Internacional, Direito Contratual, Direito Civil e Direito Trabalhista Internacional. Nessa entrevista explica as razões da atratividade de Joinville e revela os problemas que dificultam a vinda de companhias para o País.

Continua depois da publicidade

A Notícia – Qual é teu trabalho à frente da área de internacionalização da Martinelli Advogados?

Ana Paula de Ros – Nosso trabalho atende empresas brasileiras com interesse em ter atividades no exterior, e empresas de fora com interesses em se instalar aqui. Nos relacionamos com câmaras de comércio internacional da Alemanha, da Itália, e de outros países. Na Martinelli faço o atendimento a empresas estrangeiras há seis anos.

AN – A região de Joinville está captando vários empreendimentos internacionais. O que isso significa?

Continua depois da publicidade

Ana Paula – Joinville é atrativa, e empresas de vários segmentos já tem base na cidade porque tem fornecedores locais. As características da cidade, e sua localização, são decisivas. Joinville é muito bem avaliada porque tem boa qualidade de mão de obra; fator logístico e custos aceitáveis. Interessante que eles gostam muito ao verem que na cidade há casas com muros baixos. Segurança é elemento importante.

AN- Quantas empresas acompanha no País, e em Joinville?

Ana Paula – Acompanhamos 40 empresas estrangeiras por ano, que analisam viabilidade de negócios e/ou pretendem ter unidades no Brasil. Em Santa Catarina são cinco. Para Joinville estamos intermediando seis negociações com indústrias e outros tipos de atividades, que querem instalar-se aqui. Entre elas, duas que iniciam operação no Perini Business. Há negociação com empresas dos ramos de madeira e reflorestamento também.

AN – A disputa por empresas é grande entre os Estados. Com quem Santa Catarina briga mais?

Ana Paula – O Espírito Santo é sempre agressivo nas negociações.

AN- O que ensina aos executivos do exterior, quando procuram o escritório ?

Ana Paula – Ensinamos o que é o Brasil. Estabelecemos todos os passos para a operação poder vingar, com time line muito detalhado. Entre os aspectos considerados, inclusive auxiliamos na busca por casa para morar com apoio de imobiliárias; mostramos como podem contratar trabalhadores, e ajudamos no encaminhamento de licenças do setor público – ambientais também.

Continua depois da publicidade

AN – Qualidade de vida é essencial?

Ana Paula – Claro. A qualidade de vida de um local conta pontos. Um CEO avalia isso com bastante atenção porque, em boa medida, o sucesso de uma empresa depende da felicidade dos estrangeiros.

AN – Como o Brasil é percebido lá fora?

Ana Paula – O Brasil é visto como um país de risco. Muitos executivos de multinacionais que vieram morar aqui mandaram blindar os carros; e a família recebeu treinamento de como se comportar.

AN – Há casos de empreendimentos que optaram em instalar planta no Brasil, e paralisaram tudo.

Ana Paula – Sim. E pararam porque o governo federal paralisou o setor; é o caso do setor de óleo e gás. As empresas brecaram os investimentos.

Continua depois da publicidade

AN – E a corrupção, nisso tudo?

Ana Paula – Auditorias estão cada vez mais vigilantes para identificar possíveis casos de corrupção. Mas, as empresas brasileiras estão mais interessadas em regras de combate à corrupção e em adotar procedimentos anti-corrupção.

AN – O que é problema para os estrangeiros?

Ana Paula – Ah, a burocracia é o maior problema enfrentado pelas empresas estrangeiras. Para remediar o problema, às vezes temos procuração para atender as demandas deles. Acontece, até, sermos, bem no começo das operações, os gestores do negócio, dada a complexidade das situações, até que os estrangeiros conheçam a nossa realidade com algum detalhe. Fazemos, em média, acompanhamento diário ao longo de seis meses. Significa que assumimos, provisoriamente, a administração, enquanto se finalizam os trâmites burocráticos de legalização de permanência dos executivos.

AN – Quantas empresas acompanha atualmente?

Ana Paula – Agora são três na região Norte de SC. Uma do Canadá, outra da Austrália e mais uma da Alemanha. E dez no total, para outras regiões. Elas estão estudando a situação econômica há seis meses. Uma empresa da Bélgica, do ramo de infraestrutura, analisa o cenário há um ano. Está com prospecção praticamente finalizada. A região Norte de Santa Catarina e Curitiba disputam o investimento.

Continua depois da publicidade

AN – E Trump, o que esperar dele?

Ana Paula – Trump é uma caixinha de surpresas. Pode abrir oportunidades para o Brasil, se fechar os Estados Unidos ao mundo.