O Bundestag (câmara baixa do parlamento federal alemão) aprovou nesta sexta-feira, com 73% dos votos, a abertura de negociação de um novo programa de resgate à Grécia. Dos 598 deputados que participaram da votação, 439 votaram a favor da iniciativa do governo da chanceler alemã, Angela Merkel, para quem a alternativa ao socorro teria sido o “caos”. O parlamento alemão tem 631 deputados.
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O número de votos contrários – 119 – e de abstenções – 40 – foi considerado alto. Uma parte significativa desses votos veio do partido de Merkel, a CDU-CSU, conservadora: 60 votos contrários e cinco abstenções.
O Partido Socialdemocrata (SPD, em alemão), parceiro na coalizão de Merkel, votou quase em bloco com o governo: 175 votos favoráveis e quatro contrários.
A maioria dos Verdes se absteve (33 votos), mas 23 votaram a favor e dois contra. A Esquerda, maior partido de oposição, deu 53 votos contra as negociações e duas abstenções.
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Eurogrupo aprova empréstimo emergencial de 7 bilhões de euros à Grécia
Merkel disse que teria sido “totalmente irresponsável” não ter tentado conceder uma nova ajuda à Grécia.
– Sei que muitos de vocês têm dúvidas e estão preocupados – disse aos deputados do Bundestag, num discurso descrito como “emotivo” pela agência Reuters.
E emendou:
– Seríamos totalmente irresponsáveis se não tentássemos tomar este caminho, já que a alternativa seria o caos garantido.
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Diferentemente do que havia dito na véspera seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, Merkel repetiu que nem a Alemanha nem os demais 18 países da zona do euro desejam a retirada da Grécia da área da moeda única:
– Portanto, esse caminho não era viável.
Para a chanceler, que nesta sexta-feira comemora 61 anos, esta é uma última tentativa de negociar e exige “uma solidariedade sem precedentes” para alguns e “exigências sem precedentes” para os gregos.
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Não foi a aniversariante, porém, a estrela da manhã no Bundestag. Adepto da imposição de condições duras à Grécia e sem fazer segredo de sua preferência pela saída do país da zona do euro, Schäuble foi aplaudido durante vários minutos por sua bancada. Ao final, mostrou seu alinhamento à chanceler e defendeu o voto favorável ao início das negociações:
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– É uma última tentativa de cumprir esta missão extraordinariamente difícil.
O governo alemão precisa da luz verde do Bundestag para poder negociar os detalhes do novo resgate de 86 bilhões de euros (94 bilhões de dólares) para a Grécia, acertado na segunda-feira pelos dirigentes da eurozona. Em algumas semanas, os termos finais da negociação terão de ser novamente submetidos ao parlamento.
Na quinta-feira, os ministros das Finanças da zona do euro deram sua aprovação à negociação de um terceiro programa de resgate à Grécia, depois que o parlamento grego adotou, na quarta, a primeira série de medidas que seus credores exigiam.
“O Eurogrupo celebra a adoção pelo parlamento grego de todos os compromissos especificados na Eurocúpula de 12 de julho”, indicou o grupo que reúne os 19 ministros das Finanças da zona do euro em um comunicado.
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O Eurogrupo também pediu que a Grécia adote a segunda série de medidas acertadas na segunda.
As instituições credoras de Atenas (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) constataram que “as autoridades gregas implementaram a primeira série de quatro medidas acertadas na Eurocúpula de segunda de maneira pontual e, no geral, satisfatória”, indicou na quinta uma porta-voz da Comissão.
A Grécia devia adotar até quarta-feira a reforma do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) para arrecadar mais, melhorar o sistema de pensões, tomar medidas para a independência do instituto de estatísticas e criar uma autoridade fiscal independente, assim como um mecanismo para reduzir os gastos em caso de não cumprimento dos objetivos fiscais.
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Os sócios de Atenas na zona do euro exigiram do governo de Alexis Tsipras esta primeira série de medidas para começar a negociar o terceiro resgate fiscal pedido na semana passada pela Grécia.
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Este novo programa, sob condições extremamente duras para Atenas, abrange 82 bilhões de euros para os próximos três anos.
Esta negociação não resolve, no entanto, as necessidades financeiras da Grécia em curto prazo. Em default com o Fundo Monetário Internacional, a Grécia deve pagar, além disso, 4,2 bilhões de euros na segunda-feira ao Banco Central Europeu.
Sem dinheiro em caixa, Atenas esperava um empréstimo ponte de um fundo comunitário de 7 bilhões, que sairão do Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira, um fundo de resgate criado em 2010 e que já ajudou Portugal e Irlanda.
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Os 28 membros da UE devem dar seu aval para utilizar este mecanismo.
Em Frankfurt, o Banco Central Europeu (BCE), por sua vez, decidiu aumentar em 900 milhões de euros por uma semana o limite dos empréstimos de emergência concedidos aos bancos gregos, sua última fonte de financiamento, anunciou o presidente da instituição, Mario Draghi.