Brusque perdeu uma figura importante nesta semana. O barbeiro mais antigo da cidade faleceu aos 84 anos, na noite de quarta-feira (9). Com 71 anos de profissão, Ordemar Darossi não via o filho, Fabrício Ordemar Darossi, de 42 anos, há cerca de um ano e meio por causa da pandemia.
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Fabrício mora na Itália há 17 anos e a última vez que os dois se encontraram foi no fim de 2019.
– Não consegui mais ir pro Brasil, infelizmente. A gente se via por skype uma vez por semana, mas fisicamente não nos víamos há muito tempo. E agora tá bem complicado de ir ainda. Tentei ir no começo do ano, mas, se eu fosse, não conseguiria voltar. Você não faz ideia da tristeza – conta o filho.
De acordo com Fabrício, a barbearia do pai era o ponto de encontro da cidade. Localizada na rua Adriano Schaeffer, no Centro de Brusque, “as novidades e as novas piadas” eram contadas por lá.
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Ordemar, segundo o filho, não parou de trabalhar mesmo na pandemia. Fabrício diz que até duas semanas atrás, antes de ir pro hospital, o pai ainda estava na ativa.
– Ele começou a trabalhar desde cedo, em Rio do Braço, com o meu nono (avô). Não tinha luz elétrica e meu pai segurava o lampião pra ele, que também cortava cabelos. Meu pai sempre foi um sonhador. Um dia ele decidiu que cortaria o cabelo de duas pessoas na barbearia do meu nono. De primeira, claro, as pessoas reclamaram do corte – conta.
Fabrício conta que o corte, na época, custava cerca de R$0,30, mas o seu pai ganhava R$0,15 para fazer. Mais tarde, com 20 anos, Ordemar decidiu que se mudaria para Brusque e faria sua vida lá. Foi! Na nova cidade, o barbeiro conheceu sua esposa, mãe de Fabrício, com quem estava casado há mais de 50 anos.
– Minha mãe sempre foi o grande amor do meu pai. Ele sempre dizia que ela era a conquista dele e dava créditos a ela por tudo que conquistou. Os dois já tinham mais de 50 anos de casado e ele sempre foi um ótimo marido. Me ensinou a valorizar isso.
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Fabrício tem um irmão mais velho, Fabiano, que faleceu aos dois anos de idade. O filho do barbeiro mais antigo da cidade descreve o pai como sonhador.
– O meu pai me ensinou a sonhar. E é fácil ensinar a sonhar, mas ele também me mostrou como realizar quando saiu de Rio do Braço em direção a Brusque apenas com uma sacola, algumas coisas pessoais e uma bicicleta. E mesmo assim, sempre o vi sorrir. As coisas complicadas da vida eram, para ele, fáceis de resolver. Transmitia felicidade, sempre!
Ordemar ajudou a escrever um pedaço da história de Brusque. Nesta quarta-feira teve uma parada cardiorespiratória após ficar internado por cerca de 20 dias.
– Eu pretendo ir para o Brasil, mas tudo depende da pandemia. Neste momento, está bloqueado chegar do Brasil à Itália. Meu pai chegou a vir pra cá, levei ele pra diversos lugares, dos mais fáceis aos mais difíceis, ele não se importava se tínhamos que ir de carro, barco ou em um camelo – relembra rindo.
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Fabrício diz que tenta seguir tudo o que o pai sempre falou.
– Meu sonho é ser que nem ele – completa.
*Sob supervisão de Raquel Vieira