Emplacar um Justin Bieber do soul foi a meta de Doo-Wops and Hooligans (2010), o cartão de visita de Bruno Mars.
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Embora nove anos mais velho que o fenômeno teen, o jovem crooner caiu nas graças das debutantes e tornou-se um soul man para a geração Crepúsculo: arranjos estilo Motown, chapeuzinho de gângster e bom-mocismo.
Amparado pelo grupo de compositores The Smeezingtons, Mars decolou nas paradas, ganhou respeito e assumiu o controle na condução de seu novo disco, Unorthodox Jukebox.
– Fui para o estúdio, compus e gravei o que quis. Esse disco representa a minha liberdade – contou à revista Billboard de dezembro.
Mars se garantiu com um investimento pesado em produtores. Contratou Jeff Bhasker (homem por trás de hits de Kanye West e Beyoncé), Paul Epworth (compositor de Rolling in the Deep, de Adele) e Mark Ronson (responsável por discos de Amy Winehouse e Macy Gray). O resultado é uma consistente meia hora de pop com soul, reggae e rock que reflete o amadurecimento de Mars como pop star – e talvez como pessoa.
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Na faixa de abertura, Young Girls, Mars canta, sobre acordes melancólicos, como se estivesse se despedindo de suas inocentes tietes: “Vocês, jovens garotas, me deixam louco… Vocês serão a minha morte… Eu sempre voltarei para vocês”. Em Gorilla, pesa a mão em versos que falam de bebida e cocaína. Money Make her Smile, sobre uma stripper, é resultado de uma noite passada com o produtor Diplo em uma boate em Paris. When I Was Your Man destila dor de cotovelo.
A alforria do galã teen é um passo previsível, mas eficaz para Mars: o lado bad boy que aflora está longe de ser radical, mas funciona tanto para jovens adultos quanto para a plateia de meia-idade de Adele ou Amy Winehouse, por exemplo. Trata-se do público que – talvez – ainda compre discos.
Para os ouvidos acostumados com o pop das FMs dos anos 1980, a produção de Unorthodox Jukebox soará familiar. Locked Out of Heaven, o single do disco, tem um arranjo nos moldes de Roxanne, do Police, que envereda por um refrão de rock de arena, com palmas e melodia grandiosa. A já citada Gorilla tem base eletrônica semelhante a Sign o? the Times, de Prince. Treasure é um quase plágio do hit Your Wish Is My Command, do produtor Breakbot. Show Me é dub reggae genérico, com todos os artifícios usados no ritmo.
Mas, desde o disco Doo-Wops and Hooligans, a herança mais cobiçada por Bruno Mars é a voz de Michael Jackson: o discípulo busca melodias com o mesmo drama, arrisca gritinhos e, vez ou outra, tenta aquele soluço semelhante aos do Rei do Pop. O resultado é respeitável.
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Mars está longe de ser um plágio, mas sua voz não tem a ressonância e a elasticidade de Michael nos agudos. Portanto, um respeito com a própria identidade talvez o servisse melhor. Tanta reverência parece ser esforço demasiado e poderia ser resolvida com personalidade.