A tragédia em Brumadinho, Minas Gerais, onde uma barragem da Vale se rompeu, deixou até o momento 65 mortos — 31 identificados. O pequeno município de 39 mil habitantes, que ficou devastado pela lama, está envolto em pesar.
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Nos cemitérios, sepulturas são cavadas às pressas, às dezenas, para enterros coletivos. Enquanto bombeiros e equipes de resgate procuram por sobreviventes e corpos, familiares das vítimas agonizam em busca de informação de outros 279 desaparecidos.
Veja o perfil das vítimas identificadas
Adriano Caldeira do Amaral – Era funcionário da Vale. Deixou a mulher, Ana Flávia Silva, e dois filhos. "Você, pai dedicado, vivia para nós, para a nossa família. E agora quem vai mimar meus sonhos, os nossos sonhos?", escreveu a mulher Ana Flávia, nas redes sociais. "Vá em paz, continue segurando a minha mão que eu seguirei aqui firme e com fé."
Alano Reis Teixeira – Sem informações até o momento.
Alex Rafael Piedade – Sem informações até o momento.
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Camila Santos De Faria – Funcionária da Vale.
Carlos Roberto Deusdeti – O serralheiro tinha 47 anos e atuava como terceirizado na Vale há apenas dois meses. Quando conseguiu o emprego, ficou feliz.
— Ele falava que era uma empresa de grande porte, de nome reconhecido, que ia poder dar um futuro para o filho dele — conta a sobrinha Viviane Dias.
Trabalhador, começou com a atividade de serralheria quando tinha só 14 anos, depois de ficar órfão do pai. Há 8, Carlos realizou o sonho de ter um filho.
— E o menino era a vida dele — diz Viviane.
Fazia todos os dias um bate-volta de Belo Horizonte a Brumadinho. O expediente começava cedo, às 7h, e só terminava às 17h. No trabalho, costumava almoçar no refeitório e, logo depois de comer, subia para um galpão, onde tirava um cochilo antes de retomar a função. A mulher de Carlos ficou sabendo do rompimento da barragem pela TV.
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— Pelo amor de Deus, é onde o Carlinhos está — disse à irmã ao telefone quando viu as imagens da destruição em Brumadinho.
A família tinha esperanças de encontrá-lo na mata, vivo, mas, no dia seguinte à tragédia, recebeu a notícia de Carlos não tinha resistido.
Cláudio José Dias Resende – Era funcionário da Vale há oito anos. Ele deixa o filho de 5 anos que teve com Dayane Medeiros Dias Soares, com quem era casado há seis anos.
Dayane conta que havia brincado com o marido pouco antes da tragédia, em conversa por telefone, sobre ter mais uma criança. De acordo com a mãe de Cláudio, Mercia, ele entrou na Vale como estagiário de técnico mecânico há oito anos.
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— A vida profissional dele, de técnico e de engenheiro, é toda dentro da Vale — disse a mãe, que também já havia trabalhado na empresa.
Cleosane Coelho Mascarenhas – Era mulher de Márcio Paulo Barbosa Mascarenhas, proprietário da Pousada Nova Estância. Localizado em uma área de mata perto da mineradora, o estabelecimento foi destroçado pela lama. O marido dela e o filho Márcio Mascarenhas continuam desaparecidos.
Cristiano Vinicius Oliveira de Almeida – Funcionário da Vale.
Daniel Muniz Veloso – Técnico em Eletromecânica, Daniel Muniz Veloso trabalhava para uma terceirizada da Vale. Deixou a mulher grávida de 8 meses.
David Marlon Gomes Santana – Morava com os pais e um irmão no Parque das Cachoeiras, em uma área rural de Brumadinho. A mãe foi a primeira a saber da morte do filho. Aos 24 anos, trabalhava como caldeireiro na Vale e, na hora do acidente, tinha retomado o trabalho depois de almoçar.
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De acordo com a prima Larissa Santana, 21 anos, ele estava perto da barragem que se rompeu.
— A gente fez o enterro dele hoje (segunda-feira). Estava todo mundo muito arrasado e estavam acontecendo muitos enterros na hora.
Djener Paulo Las-Casas Melo – Trabalhava na Vale e estava noivo.
Duane Moreira De Souza – Sem informações até o momento.
Edgar Carvalho Santos – Funcionário da Vale.
Eliandro Batista de Passos – Atuava para uma terceirizada da Vale. Deixou uma filha de 13 anos.
— Não era o dia de ele estar lá. Ele estava em Belo Horizonte. A Vale entrou em contato e ele foi de manhãzinha para a cidade de Brumadinho — conta a sobrinha Jéssica Passos, de 17 anos. A família era natural de Itaipé, no norte de Minas Gerais.
Fabrício Henriques da Silva – Funcionário terceirizado da Vale, tinha 26 anos e atuava na área de mecânica. De acordo com familiares, era o mais velho entre quatro irmãos e assumiu o papel "homem da casa", já que perdeu o pai em um acidente de moto quando tinha apenas 8 anos. Sua irmã mais nova, fruto de um outro casamento da mãe, tinha apenas cinco anos.
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Reservado, não gostava de falar de trabalho em casa. Entre as atividades preferidas, gostava de jogar vôlei, futebol e de malhar.
— O negócio dele era ter o corpo sarado — diz a prima Virlene Mercês, de 26, complementando que Fabrício era um "irmão e amigo confidencial". — De todos os ruins, a gente pelo menos conseguiu dar um enterro digno a ele — diz a prima.
Flaviano Fialho – Funcionário da Vale. Deixou a mulher e dois filhos.
Francis Marques da Silva – Tinha 34 anos e trabalhava na Vale. Deixou a mulher e uma filha pequena. O corpo foi localizado com politraumatismos causados pela avalanche de lama que escorreu morro abaixo quando a barragem da Vale se rompeu na mina do Córrego do Feijão.
Janice Helena do Nascimento – Funcionária da Vale.
Jonatas Lima Nascimento – Operador de equipamentos de instalação da Vale há 13 anos era natural de Congonhas. Trabalhou em mineradoras de Barão de Cocais e de Brumadinho, ambas em Minas Gerais.
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— Sempre tive orgulho de dizer que ele é trabalhador, decente, honesto. Nunca perdia o horário do ônibus, sabe? Pai de família mesmo, que tem gosto de trabalhar para sustentar os filhos — diz a mulher Daihene Nascimento, de 33 anos.
De acordo com a família, Jonatas estaria no centro de carregamento, uma área baixa, na hora do incidente. O local ficou coberto pela lama.
— Não vai existir mais sobreviventes, só vítimas. Tenho que dar graças a Deus de conseguir enterrar o corpo dele — diz Daihene.
Em 10 de janeiro, o casal havia completado 15 anos de casados.
— A gente passou fome junto — afirma a mulher.
Eles tiveram dois filhos: Fernanda, de 10 anos, e Artur, de 6. Após a confirmação da morte, Daihene chamou os pequenos para conversar. Os meninos choraram muito, segundo ela.
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— E o que vai fazer com as coisas do papai? Não quero que doe as roupas dele — questionou o mais novo, complementando: — Quando crescer, quero ser igual a ele.
Leonardo Alves Diniz – Tinha 33 anos e trabalhava como técnico de manutenção na Vale. Ele estaria de folga no dia da tragédia, mas foi convocado para uma reunião. Em Sarzedo, na região metropolitana de Belo Horizonte, era conhecido por cumprimentar os vizinhos com um "ei, abençoado".
Vivia sorridente e não aparecia em fotos de cara fechada. A mulher não gostou, mas ele explicou que, se trabalhasse na sexta, teria o sábado e o domingo livres para ficar com a família.
A última vez que visualizou as mensagens no WhatsApp foi na sexta-feira, às 10h55min. Desde a notícia do rompimento da barragem, a família fez uma peregrinação atrás de informações sobre Leonardo, até que recebeu a notícia de que o corpo estava no Instituto Médico-Legal. A aliança de casamento foi o que conseguiram recuperar dos pertences. Leonardo deixou a mulher e um filho de 8 anos.
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Marcelle Porto Cangussu – A médica do trabalho de 35 anos foi a primeira vítima identificada na tragédia. No sepultamento, muita emoção no semblante de amigos e familiares. Marcelle trabalhava na Vale desde 2015 e não estava escalada para se apresentar na mina. Segundo familiares, ela foi chamada de última hora. Solteira, não tinha filhos e gostava de passar as noites com a avó, que mora a poucas quadras de sua casa.
— Morreu fazendo o que mais gostava. Estamos desolados. Completamente sem chão. A gente não se desgrudava, cuidava muito de mim, eu dela. Me ligava todos os dias, perguntava como eu estava — lamentou a mãe Mirelle Porto.
Marcelle fez aniversário um dia antes do rompimento da barragem.
— Estava feliz, com os amigos, parentes. A nossa menina adorava sorrir — afirmou o tio Denysson Porto. — Uma pessoa bonita, alegre demais, verdadeira. Vai deixar saudades — disse Valéria Rodrigues, amiga de profissão.
Marcelo Alves de Oliveira – Era de Santos. Engenheiro, formado em 2008, prestava serviço para a Vale. O corpo foi enterrado em São Vicente, na Baixada Santista.
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Maurício Lauro de Lemos – Motorista, tinha 53 anos. O corpo foi encontrado em um local que ficava em frente de onde funcionava o refeitório da Vale, destruído pela avalanche de lama. Desolada, a filha dele, Juliana, afirmou, durante o sepultamento, que o pai contava em casa que teria transportado sacos de areia para a área da barragem.
— Aquilo lá foi uma tragédia anunciada — disse Juliana.
Moisés Moreira Sales – Técnico de processos, tinha 41 anos e trabalhava na Vale há mais de uma década, conforme a família.
— Era uma pessoa alegre, brincalhona, muito bondosa. Tinha o coração muito bom. Desde a tragédia, minha cunhada fica repetindo que ele era um bom marido e um bom pai. Como vai fazer falta — diz o irmão Mateus Moreira Sales, de 33.
Ele também deixa um filho de três anos. Ciclista, Moreira Sales havia comprado uma bicicleta nova há duas semanas.
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— Ele estava muito feliz — revela o irmão.
O técnico era o mais velho de quatro filhos e havia passado por trauma recente. O pai morreu em abril de 2018, vítima de enfarte.
— A gente ainda estava se curando da perda. Pensamos que 2019 seria um ano de renovação e vem essa bomba.
Ninrode de Brito Nascimento – Funcionário da Vale.
Renato Rodrigues Maia – Funcionário da Vale.
Robson Máximo Gonçalves – Sem informações até o momento.
Roliston Teds Pereira – Era funcionário da Vale. Segundo familiares, deixa duas filhas.
— Ele queria parar para ver as duas crescer, mas preferiu aguentar mais o último ano pra dar uma vida melhor para elas — disse uma prima.
Wanderson Soares Mota – Funcionário da Vale.
Wellington Campos Rodrigues – Era analista de suporte da Vale, onde trabalhava desde 2013. Morava em Ibirité. Deixou a mulher e filhas. O corpo foi sepultado no cemitério municipal de Ibirité. "Obrigada, pai, pelo exemplo de caráter. Um homem íntegro e amado por todos", escreveu uma das filhas nas redes sociais.
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Willian Jorge Felizardo Alves – Funcionário terceirizado.