O debate sobre o espaço e o tempo de brincar nas escolas durante a Mostra de Cinema Infantil terá a participação da educadora e pesquisadora Renata Meirelles. Ela é coordenadora do projeto Território do Brincar, que registrou em filmes, fotos, textos e áudios brincadeiras em diferentes regiões brasileiras junto com o documentarista David Reeks. A Casa Amarela de Florianópolis foi uma das escolas visitadas e retratadas pela dupla. O trabalho revelou a Renata um Brasil que ainda se diverte muito, derrubando a ideia de que as crianças não brincam mais.

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Diário Catarinense – Como vocês perceberam o espaço dado ao brincar nas escolas brasileiras?

Renata Meirelles – Isso vai muito de escola para escola e de como lidam com o tema, a metodologia que utilizam. É difícil generalizar, mas tenho visto escola que não tem nenhum espaço para brincar, principalmente quando a criança está no ensino fundamental, como se ela não precisasse mais brincar, como se isso fosse do passado, e agora precisasse ter atividades sérias, como se brincar não fosse sério, e como se a criança não aprendesse no momento de brincadeiras. Por outro lado, a gente vê escolas que estão cada vez mais conquistando esse espaço.

DC – Por que é importante preservar um espaço para o brincar nas escolas?

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Renata – Primeiro as escolas são os espaços mais sociais que as crianças têm. Em muitos casos, não em todos, de um modo geral a escola é o espaço social da criança. Se a gente restringir a brincadeira para fora da escola significa que muitas crianças vão brincar solitárias, vão ter formas limitadas de brincadeira. Segundo porque a própria brincadeira é um espaço de aprendizagem para a criança, ela entra em contato consigo mesma. É absolutamente necessário para criança e a gente menospreza esse espaço, ou transforma numa atividade didática, para vender um conteúdo específico, ou deixando ela apenas no recreio, nos intervalos. A gente perde a oportunidade de mostrar a brincadeira como um espaço de aprender e de se relacionar com coisas que não são possíveis de serem ensinadas. A brincadeira é pura experiência, assim como a criatividade.

DC – Vale qualquer brincadeira?

Renata – A brincadeira é uma atividade livre. O que vier para a criança naquele momento de liberdade e autonomia pode se considerar de alguma forma brincadeira. Brincar pressupõe liberdade.

DC – E quais brinquedos?

Renata – A qualidade de brincar não tem nada a ver com o brinquedo. Ela pode ter nenhum brinquedo e ter uma variedade incrível de brincadeiras. Por outro lado, o brinquedo pode ser um facilitador, mas não precisa estar correlacionado.

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DC – O que o Território do Brincar revelou sobre o brincar no Brasil?

Renata – A gente viajou por muitas comunidades, que tem um brincar muito vivo, vigoroso, mesmo os adultos afirmando que as crianças daqueles lugares não brincam. Mostrou o quanto os adultos romperam com esse olhar do que as crianças fazem hoje. Eles não sabem o que dizer e caem no chavão de que gostam de tecnologia e de que se afastaram da brincadeira. A gente vai revelando um repertório gigantesco do que as crianças fazem. A gente viu muitas crianças construindo brinquedos e um repertório vasto de atividades educacionais.