Wilfredo Brillinger quer contar a sua verdade ao torcedor do Figueirense. Ele colocou seu nome para assumir a presidência do clube e submeteu a possibilidade ao Conselho Deliberativo.

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Na próxima terça-feira, haverá a decisão e o empresário, que é um vitorioso nos seus negócios pessoais, e que viu seu projeto dentro do alvinegro naufragar, está engasgado. Ele quer que a torcida conheça o que ele passou nos últimos seis meses, para que possa aceitá-lo como o homem-forte:

– Esgotei todas as instâncias dentro do clube para tentar retomar o processo que faria do Figueirense dono de seu destino. Talvez tenha sido um erro. Muita coisa foi dita e que levou a um entendimento errado dos meus propósitos, chegou a hora de contar detalhes que o torcedor não sabe.

Estes pormenores, muitos deles de grande impacto, você confere na conversa exclusiva que Wilfredo teve com a reportagem do Diário Catarinense e que está na página ao lado. O investidor, que quer completar o que considera a obra inacabada junto ao clube, resolveu abrir o jogo.

Na visita à nova sede do Grupo RBS, mostrou estar aberto a qualquer pergunta. Nem os Iphones intimidadores colocados à mesa, para registro de todas as palavras, o inibiram. A informalidade, permeada com momentos de forte emoção ao relembrar determinadas saias-justas, foram as marcas da conversa de uma hora e oito minutos.

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Ao término deste longo depoimento, com muitos momentos em tom de desabafo, ficaram registrados pontos bastante importantes para os torcedores alvinegros conhecerem um lado que optou por ficar calado ante ao que julgava uma injustiça. Por exemplo, lá em 2010, no momento da transição para repensar o futuro do Figueirense pós-Prisco Paraíso, segundo o empresário, todos os investidores que prometeram ajudar o clube teriam “corrido da raia”.

– Eu não me retirei, mantive minha palavra e não abandonei o clube. ?

Denúncia de vazamento de informação privilegiada

Wilfredo, então, garante ter mergulhado de corpo e alma num projeto que deveria ser de quatro anos no mínimo. Só que, quando o que o empresário projeto começou a ganhar corpo, a partir do sucesso na Série A em 2011, na sua visão “cresceu o olho de muita gente”. E, então, na hora de o clube passar, no futebol, a ter mais autonomia, o processo travou. E, ao defender esta tese, Wilfredo, então, fez uma grave denúncia:

– Informações privilegiadas vazavam, atletas que estávamos interessados tinham a negociação atravessada e iam parar na mão do Uram.

Eis o estopim que gerou a instabilidade insustentável na relação entre Wilfredo, o ex-presidente Nestor Lodetti, e o empresário Eduardo Uram, que possui grande parte dos direitos de atletas dentro do clube.

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Amigos, amigos; negócios à parte no rompimento

Wilfredo reforça em vários momentos: jamais deixou salários atrasarem no Figueirense. Garante, ainda, que a dívida é totalmente controlada, tanto que está colocando a Alliance fora do processo e assumindo pessoalmente as garantias financeiras ao clube. Esperando ter seu nome referendado na próxima terça-feira, ele, tomado pela emoção, aparentou sofrer ao falar do ex-presidente Lodetti.

– Eu ainda me considero amigo dele, a divergência foi na gestão, na hora de o Figueirense deixar de ser reconhecido no mercado como um clube de aluguel, de livrar-se de um só investidor, a coisa parou. Me responda: como é possível ter só um fornecedor, e o clube não ter os direitos sobre nada no que é seu principal objetivo, o futebol? ?

Um capítulo ainda por escrever até a próxima terça-feira

Segundo Wilfredo, nem ele, nem seu filho, Rodrigo Brillinger, muito menos a Alliance se envolveram no processo que conduz o comitê de transição. Ele faz questão de deixar claro:

– Escreve aí para o torcedor entender: o processo para acertar uma nova fórmula para o clube evoluía de forma amigável com o grupo que assumiu, até porque as garantias financeiras eram todas minhas, pessoais, e então percebemos que, para ter controle da gestão e poder fazer o Figueirense recompor seu patrimônio, nada melhor do que eu assumir.

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E, então, assim está posto: Wilfredo terá o nome submetido ao conselho deliberativo, que pode referendá-lo, a partir de parecer, que deve ser favorável, do comitê de transição. Isso, se não aparecer um outro nome para aproveitar o clima de eleição no país e tentar vencê-lo no voto.

Detalhe: se houver um candidato, será preciso ter, além de aceitação do conselho, dinheiro no bolso. Neste quesito, Wilfredo garante estar preparado:

– A gestão financeira será uma marca em minha administração, com o meu aval. Sou um torcedor apaixonado do Figueirense, minha palavra eu não quebro nunca – promete. ?

Leia a entrevista com Wilfredo Brillinger ?

Diário Catarinense – Como o senhor virou candidato à presidência do Figueirense?

Wilfredo Brillinger – Estávamos negociando o novo contrato, mas era uma coisa complicada, porque nós não abríamos mão da gestão do clube. Essa era a nossa condição, trabalhar sem interferência. Aí a coisa foi afunilando e em uma discussão na quinta-feira chegamos nessa opção. O apelo foi muito grande dos conselheiros e do comitê, dizendo Wilfredo, se você assumir nós acertamos praticamente tudo. Você vai ter a gestão plena do clube e o contrato, você assumindo, com a Alliance será rescindido. Até por questão ética minha. Eu coloquei meu nome a disposição do conselho e vamos fazer um protocolo de intenções dizendo que se eu me eleger a Alliance está fora do Figueirense.

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DC – Qual é o real valor da dívida do clube?

Wilfredo – Hoje, nós temos de financiamento de R$10 a R$12 milhões. Isso é capital de giro, um crédito onde as empresas utilizam para evitar os vales de recebimento. É obrigatório ter esse valores. A Eletrosul não vai renovar, Tashibra também. E essa dívida é praticamente liquidada. Além disso, a gente tem umas contas a pagar dos últimos 45 dias, mas a dívida vai fechar abaixo de R$20 milhões.

DC – Você ainda é amigo do ex-presidente do Figueirense, Nestor Lodetti?

Wilfredo – Eu e o Lodetti continuamos amigos. Pelo menos da minha parte. Nós divergimos de métodos de administração. Não tem nada pessoal. Amigos, amigos, negócios a parte.

DC – Uma das discordâncias seria o clube manter uma exclusividade com o empresário Eduardo Uram?

Wilfredo – A gente só podia trazer as opções que ele tinha. E todos sabiam que o Figueirense não poderia levar sua vida usando somente produtos de uma prateleira. Muitas vezes outros empresários apareciam com jogadores para nós, com mais oportunidades para o clube ganhar dinheiro, mas não podíamos fazer negócio.

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DC – O senhor pode citar algum negócio que o Figueirense perdeu por causa dessa exclusividade?

Wilfredo – Posso te citar dois. O Eduardo e o Lima, ambos do Joinville. Porque qualquer tentativa de sair desse processo começou a inviabilizar o nosso trabalho. O pior é que começaram a vir jogadores sem direitos para o clube. Nós pagamos o salário e o Eduardo fica com o lucro. E, também, começaram a vazar informações privilegiadas de jogadores que a gente queria contratar.

DC – Existe algum exemplo desse vazamento?

Wilfredo – O Elsinho e o Claudinei são exemplos. Nós queríamos eles, estamos interessados. Mas, Eduardo Uram descobriu e colocou na Tombense. Pronto, lucro zero para o Figueirense. Nós não temos nada contra ele. Ele está no direito dele. Mas, isso prejudica o clube.

DC – E como ficava a imagem do time no mercado?

Wilfredo – O Marcos (Moura Teixeira) trouxe muitos jogadores para o clube, até para o Figueirense perder aquela áurea de clube de aluguel e que era controlado pelo Eduardo Uram. A gente sabia que tínhamos que passar por isso de no início manter os atletas dele. Em 2011, o Figueirense perdeu um pouco dessa imagem de time de aluguel. Mas, em 2012 isso voltou com força. Temos que abrir as portas para todos os empresários.

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DC – O que o senhor acha de mudar o estatuto do clube?

Wilfredo – Sou favorável e já disse isso a muito tempo. O Figueirense precisa urgente modernizar seu estatuto. Nós precisamos abrir o nosso conselho deliberativo. E tem que ser da maneira mais democrática possível. O Figueirense pode avançar nessa parte, só que cada clube tem o seu perfil e o Figueirense tem que achar o dele.

DC – E o projeto da Arena como está?

Wilfredo – Depois de romper o contrato com a Alliance, o projeto deve ter continuidade pela as mãos do clube. Está em andamento, e não vai voltar a estaca zero. É assim, também, com o fundo de atletas e o Jovem Furacão.

DC – Chico Lins e Renan Dal Zotto continuam no clube o senhor assumir?

Wilfredo – Bom, essa não é a principal questão agora. O Renan já saiu, foi demitido pelo atual presidente. Já o Chico continua no clube, não tem porque sair. Até porque quem contratou o Chico fui eu. E ele domina o vestiário, tem um bom trabalho.

DC – E o Marcos Moura Teixeira volta ao clube?

Wilfredo – Não existe a intenção do retorno do Marcos como diretor de futebol do Figueirense. Ele vai continuar na Alliance, que tem outros projetos. Já o Leonardo Moura, continua trabalhando comigo.

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DC – E o Loco Abreu continua até o fim do contrato em dezembro de 2013?

Wilfredo – Depende do animo dele e do nosso momento no fim do ano. E existe uma clausula no contrato que se o Figueirense for rebaixado ele tem que voltar ao Botafogo.

DC – Como o senhor pensa em trabalhar a rejeição da torcida ao seu nome como novo presidente?

Wilfredo – Isso é falta de informação. Talvez tenha sido uma falha minha, por não me defender. Eu sempre procurei resolver internamente. Nesse processo se passou muita informação errada para a torcida. Eu não peguei um centavo do clube. Primeiro porque o clube não tem condição de pagar. E os meus possíveis créditos eram para se pegos no projeto da Arena. Em 2010, praticamente bancamos tudo. Você pode chegar nos balanços do clube. E ainda estou levando porrada direto. Isso é uma loucura.

DC – O foco no primeiro momento e não deixar o Figueirense ser rebaixado?

Wilfredo – É claro que o nosso foco é tirar o time dessa situação. Não estamos pensando na Série B. E vamos entrar em campo e fazer um trabalho de incentivo aos atletas. E eu tenho uma relação muito boa com eles, coisa de credibilidade.

DC – Como será o perfil do senhor na presidência?

Wilfredo – Será primeiro de tudo um alvinegro de coração. E eu vejo que para tocar o clube você tem que ter paixão por ele. Agora, tem que usar da razão e para isso vou colocar o meu lado empresário na administração.

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