Com Thy Womb o filipino Brillante Mendoza deixa seu hábitat natural, Manila, e vai buscar inspiração nos confins do sul do seu país. Na ilha de Tawi Tawi, os habitantes, os bajaus, são conhecidos como “ciganos do mar”. Vivem se deslocando, moram em palafitas e sobrevivem da pesca artesanal. A fé dominante é islâmica. Mendoza põe foco sobre um casal muito simpático. Ambos pescadores, mas ela também parteira. Aliás, o filme começa com um parto. Real. Acontece que a parteira (vivida pela atriz Nora Aunor) ajuda as crianças a virem ao mundo, mas não pode ter os próprios filhos.

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Assim, consente que o marido tome uma segunda esposa, mais jovem, que possa dar a ele o filho desejado. O problema será juntar o dinheiro do dote e achar a eleita. Haverá, no futuro, um problema com o qual ela não contava.

Esse é o fiapo de trama num filme de vocação documental e etnográfica.

– Mesmo nas Filipinas essa comunidade é pouco conhecida – diz Mendoza.

– Por isso resolvi fazer registro daquela realidade que me fascina.

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De fato, ele se demora longamente em imagens da pesca, da vida cotidiana, e também dos rituais, como a proposta de noivado e o casamento. O interessante são as “intervenções” da violência para mostrar que não estamos no Paraíso e sim num país com sérios problemas. Durante a pescaria, o barco do casal é atacado e o marido, ferido à bala. No casamento, sai outro tiroteio, talvez envolvendo o Exército e bandidos. Ninguém se queixa.

A vida continua. A dança prossegue quando cessam os disparos. É o cotidiano.

É um belo filme, no qual Mendoza, muitas vezes fascinado pela violência, se deixa seduzir pelo lado mais solar da vida.

-Procuro apenas registrar a realidade, seja ela sangrenta ou amorosa.

Outro concorrente, o belga La Cinquième Saison (A Quinta Estação), de Peter Brosens e Jessica Woodworth, também é ambientado na natureza. Não o mar, como no filme de Mendoza, mas no campo, naquele estereótipo idílico que se imagina seja a campanha belga, com suas vaquinhas de leite e campos bem arados. A história segue as estações do ano, de forma pastoril, com adolescentes se enamorando e colheitas fartas. Tudo muda sem muita explicação e o humor das pessoas também. A busca por bodes expiatórios, sob a forma de estrangeiros, parece a saída. Há algo de terrível e surpreendente na história. O excesso de formalismo e contenção prejudicam um pouco.