O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta sexta-feira em Paris que os Brics se colocarão contra o estabelecimento de limites para o acúmulo de reservas internacionais. Ele acredita que, enquanto não houver um sistema financeiro seguro, os países emergentes terão de continuar acumulando reservas.

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– Se houver uma crise, quem irá nos socorrer? – questionou.

Os países membros do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) se reuniram hoje para buscarem posições a serem apresentadas na reunião do G-20, que começa hoje à noite, em Paris. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, também esteve presente. Após a reunião, Mantega seguiu para o Palácio do Eliseu, para recepção pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy. Amanhã, os ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do G-20 passarão o dia reunidos.

Os países também se opõem à imposição de regras e limites para o controle de fluxos de capital, como está sendo discutido por membros do G-20. Na última reunião de cúpula, em novembro do ano passado, o grupo havia dado sinal verdade para as medidas dos emergentes que estavam sofrendo forte entrada de recursos.

Para Mantega, cada país deve adotar as medidas que quiser.

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– O Brasil não abre mão de fazer o que achar necessário – afirmou.

Conforme o ministro, a expectativa é de que o fluxo de capital para os emergentes continue crescendo neste ano, depois do salto de 50% registrado em 2010.

Brasil, Índia, Rússia e China decidiram incluir a África do Sul ao Bric. O país, que representa a maior economia da África, já participou da reunião de hoje.

– O grupo fica reforçado e mais representativo – disse Mantega.

Dólar

Em Paris, o ministro avaliou ainda que se o Brasil não tivesse adotado medidas para conter o fluxo de recursos externos, o dólar estaria abaixo de R$ 1,50. Segundo ele, a volatilidade cambial foi reduzida no país. Mantega acredita que o fluxo de recursos continuará subindo, mas avalia que não necessariamente o Brasil terá de adotar novas medidas cambiais para conter o fluxo de capital estrangeiro.

– Temos certa estabilidade – afirmou.

Ele reiterou que seguirá observando os movimentos do câmbio e, se houver novo fluxo forte de dinheiro rumo ao Brasil, pode voltar a agir.

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Para Mantega, o real deveria ser incluído na cesta de moedas do Fundo Monetário Internacional (FMI) – os direitos especiais de saque (SDRs, na sigla em inglês). Ele acredita que o mundo precisa transitar para um modelo multipolar de moedas, como forma de criar alternativas ao dólar.

Mantega argumenta que os Estados Unidos perderam a posição de mais representativos para o comércio internacional, ultrapassados pela China e a Alemanha. Nesse sentido, uma solução seria dar mais importância e conversibilidade aos SDRs, hoje compostos por quatro moedas. Para isso, o FMI precisaria se transformar num banco global emissor.

O real deveria ter lugar na cesta do FMI porque está ganhando representatividade e supera as transações com o iene (moeda japonesa) no mercado de derivativos, alega Mantega. Ele também defende a entrada do yuan (moeda chinesa) nos SDRs.

– Isso também tiraria um peso das costas dos EUA, pois atrapalha na hora de fazer política monetária – afirmou o ministro.

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O Brasil possui uma visão diferente dos EUA sobre a questão do câmbio da China, disse Mantega. Ele acredita que os países avançados também têm responsabilidade pelos desequilíbrios globais.

– Não existe um único responsável – disse na entrevista após a reunião do Bric.

Conforme o ministro, diversos países possuem o câmbio administrado e o ideal seria que abandonassem ou limitassem a prática. Ele reiterou que a política monetária frouxa dos EUA provoca desequilíbrios.

Parâmetros

Não existe consenso entre os membros do G-20 sobre o tratamento dos desequilíbrios globais, um dos temas mais polêmicos em debate atualmente. Alguns países querem definir índices e estabelecer limites para os déficits e superávits. O ministro brasileiro da Fazenda acredita que é possível construir parâmetros, mas é preciso escolher quais seriam os melhores indicadores para mensurar a questão.

Os países do Bric concordaram hoje que, de qualquer forma, o controle desses indicadores não pode ser obrigatório.

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– Deve ser apenas uma recomendação aos países – afirmou.

Entre os Brics, existe o consenso de que a área fiscal deve ser considerada para a análise dos desequilíbrios globais. Entretanto, há divergências no que se refere ao lado comercial e de conta corrente.

No caso da conta corrente, existe uma restrição porque ela abrange também a conta financeira, que inclui aplicações financeiras no exterior, não necessariamente um sinal de desequilíbrio. Os Brics avaliam que seria melhor usar a conta de bens e serviços.

– Ainda temos desequilíbrios porque alguns países desenvolvidos não se recuperaram da crise – disse Mantega.