Um ano depois de a população decidir em um referendo deixar a União Europeia, o Reino Unido iniciou oficialmente as conversações para o chamado Brexit há duas semanas. O assunto parece distante, mas pode ter um impacto positivo na economia catarinense. A explicação é dada por especialistas em comércio exterior: ao deixar a União Europeia, os britânicos e norte irlandeses provavelmente sairão também do mercado comum europeu, abrindo-se para outros países. É nesse filão que os exportadores de Santa Catarina apostam.

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Nos últimos três anos, a crise brasileira fez a corrente de comércio diminuir entre o Estado e o Reino Unido. O pico ocorreu em 2014, quando foram exportados US$ 377 milhões. No ano passado, esse número caiu para US$ 265 milhões, porém o Reino Unido continua entre os dez maiores destinos dos nossos produtos no exterior.

Para o professor de economia e doutor em relações internacionais Baltazar Guerra, da Unisul, já se nota uma aproximação dos britânicos com países como a Índia e outros emergentes. Ele lembra, no entanto, que o processo será lento e só deverá ser totalmente concluído em 2019.

— É tudo muito novo, sem precedentes. Mas trata-se de uma oportunidade para o nosso mercado. Acredito que seja a hora de a nossa diplomacia econômica entrar em ação — diz Guerra, acrescentando que, para o Reino Unido, o Brexit não deve ser positivo, por conta de um provável isolamento dentro da Europa.

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Já o professor Adriano Amarante, da Udesc, lembra que, com uma saída do mercado europeu, o Reino Unido passará a pagar tarifas para importar e exportar produtos dos outros países europeus, embora os valores ainda não tenham sido definidos. Com isso, os produtos catarinenses e brasileiros ficarão mais atraentes.

— Hoje existe essa barreira para as importações de fora do bloco. Além dos impostos, existem os subsídios internos. A saída terá um viés positivo para o nosso setor exportador — aposta Amarante.

Necessidade de se fazer presente

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Como trata-se de um processo arrastado, os resultados devem demorar a aparecer. Apesar disso, a presidente da câmara de comércio exterior da Federação das Indústrias (Fiesc), Maria Teresa Bustamante, defende a necessidade de os empresários catarinenses se fazerem presentes agora no Reino Unido.

— É algo que tenho defendido junto ao presidente Glauco (Côrte). Esse é o momento de mostrarmos que podemos entregar produtos com qualidade e prazos similares.

Setor da carne se anima

Entre os produtos que Santa Catarina mais exporta para o Reino Unido, o principal destaque fica para o setor de carne e derivados. Os empresários do setor estão com um otimismo moderado, conforme explica José Antônio Ribas Junior, diretor do sindicato da indústria da carne (Sindicarne). Segundo ele, o mercado europeu é o maior do mundo para a carne suína e trabalha com sistema de cotas. No caso da União Europeia, as restrições continuarão, mas o Reino Unido pode aumentar o volume importado de Santa Catarina.

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— Uma vez que o Reino Unido saia UE, ele deixa de fazer parte do mercado comum e abre um outro regime de negociação. Trata-se de um mercado exigente e caberá a nós sermos competentes em atender o que eles querem — diz Ribas.

Ainda de acordo com o dirigente, o primeiro passo é um acordo entre governos, para então as empresas poderem negociar entre si.

— Em tese, é uma boa notícia. Abre-se uma discussão que não haveria antes, mas da possibilidade à efetividade depende de todo um processo diplomático — diz, acrescentando ainda que o atual governo federal tem priorizado parcerias com países com maior peso econômico.

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