São inúmeras as motivações para se desfazer de peças de roupa, acessórios e itens de decoração que algum dia a encantaram. Eles podem não servir mais, estar fora de moda, não combinar mais com o seu estilo. Você pode ter apenas enjoado do produto ou, simplesmente, ele não cabe mais em sua casa. Feita a limpa, diversas também são as motivações para encontrar um novo dono e passar adiante aquilo que descartou: solidariedade, renovar o armário, ganhar dinheiro, reciclar, despertar as pessoas para o consumo consciente, se diferenciar no meio da multidão, transformar a prática em negócio ou fazer da brincadeira um hobby.
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Para comercializar os desapegos, pipocam alternativas. Há profissionais que vivem de vender coisas alheias, organizando os famosos garage sales. Outros preferem negociar com os brechós e transformar em reais aquilo que não usa mais. Até pela internet o negócio pode dar certo. É só fotografar o produto que não se quer mais, esperar alguém em qualquer canto do mundo desejá-lo e despachar pelo correio em troca de um bom preço.
A tese que move esse mercado de usados é simples. Se eu não quero mais, mas você deseja muito, vamos fazer um negócio? Cobro mais barato pela peça, você paga por ela muito mais em conta do que na loja, e nós duas saímos ganhando. Pronto. Compra fechada, todo mundo sai satisfeito. Tem dado tão certo que, a cada dia, surgem novos brechós reais ou virtuais. Não existem no país dados precisos sobre esse tipo de comércio, mas, pela observação, é patente que ficou mais fácil esbarrar em uma dessas lojas que vendem artigos de segunda mão.
Além da percepção de que é possível fazer dinheiro com aquilo que antes era encostado, o preconceito com a moda reaproveitada também diminuiu. Celebridades, pelo mundo, fazem pose para revistas, exibindo looks de brechó. Isso contribuiu, e muito, para expandir o movimento pró-reutilização de roupas. A atriz Julia Roberts, por exemplo, já recebeu um Oscar trajando um Valentino de segunda mão.
Estilista e professor de estilo do curso de Design de Moda da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Lorenzo Merlino acredita que o sucesso dos brechós é justamente o diferencial das peças vendidas. Quem vai a esses lugares não quer saber de tendências pausterizadas, tampouco da massificação promovida pelo fast fashion. No acervo de peças antigas e usadas, é possível encontrar achados e criar produções únicas.
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– Quem compra em brechós tem estilo, gosta de moda e quer ter um diferencial – comenta o professor, frequentador assíduo de lojas do gênero. – O mais legal é quando se garimpa até encontrar uma peça incrível, bem diferente. A busca faz parte da brincadeira – considera.
Se o desejo de exibir um estilo diferenciado reforça o sucesso dos brechós, a moda que vai para a passarela também estimula o retorno ao passado. Professora do curso de moda da Faculdade Santa Marcelina, Walquíria Caversan aposta na retomada do conceito de vintage, resgatado por estilistas do mundo todo a partir dos anos 1990, e estimula uma espiada séria no armário da vovó. A tese é de que hoje não há novas tendências, mas uma releitura do que já foi usado em décadas anteriores. Nesse caso, mais exclusivo é usar um original, feito anos atrás.
– Antes, os brechós eram considerados um lugar de roupas velhas, hoje as pessoas sabem que podem resgatar a moda lá – afirma a professora.
Sem um grão de poeira
A mudança de mentalidade se traduz no número de brechós. Eles ainda não são tão populares como no exterior – onde muitos viraram verdadeiras paradas obrigatórias de turistas fashion, interessados em consumir marcas internacionais a preços mais acessíveis -, mas já atraem mais clientes, com menos medo de se deparar com mofo e cheiro de naftalina.
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O primeiro brechó do Brasil abriu as portas na década de 1970. Era de propriedade da cantora Maysa Monjardim, que trouxe a ideia da Europa. Conta-se que ela vendia roupas, sapatos, bolsas e acessórios dela e dos amigos. Apesar da ousadia, no entanto, a moda só pegou por aqui bem mais tarde. Hoje eles são corriqueiros e têm perfis diferenciados. Existem, por exemplo, aqueles de desova do armário, que vendem roupas atuais, fornecidas por consumidoras mais consumistas, que desgostam rápido do produto. São bons para quem quer renovar o visual e gastar pouco.
Tem os que são um verdadeiro museu da moda, com roupas de várias décadas e estilos. Nesses, dá para se divertir e abusar da criatividade, mesclando peças e criando looks personalizados. O recém-inaugurado Lolla Lab., no Conic, lembra mais um camarim de peça teatral. Nas araras, destaca-se um acervo de peças antigas, literalmente da vovó. Ali, tem roupas assinadas por gente importante da moda, como Clodovil e Issey Miyake.
Bom, barato e lucrativo
E os brechós dão dinheiro. Muitos trabalham com consignação. Ganha quem é dono da peça, ganha o dono da loja que vende a mercadoria sem precisar investir em estoque. Alguns lojistas preferem comprar as roupas e os acessórios que vão vender. Compram barato, vendem barato e ainda têm lucro. Mas o parâmetro do barato depende da marca. O ideal é que o produto custe menos da metade do que seria um exemplar novo. Nesse caso, ele sai muito mais em conta, independentemente do quanto vale.
Com um clique
Vender na internet não é nenhuma novidade. A publicidade é fácil, o custo de manutenção é próximo de zero, o público que se consegue atingir é enorme.
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A maioria dos brechós virtuais nada mais é do que um blog de plataforma gratuita, como o Blogger e o WordPress, com as fotos das peças das quais as meninas querem se desfazer, a preço justo – quase nunca na casa dos três dígitos – e um e-mail para encomenda. O frete é por conta do comprador. Já a atualização da página, a cargo da dona do blog.
No tapete vermelho
Apresentar Alexa Chung aos fashionistas e moderninhos mais antenados talvez seja desnecessário. Mas, a quem ainda não tenha ouvido falar da moça, eis a ficha: britânica, 28 anos, ex-modelo, ex-VJ da MTV, musa de Karl Lagerfeld, estilista da Chanel. Ela não se cansa de ser fotografada nas primeiras filas mais disputadas das semanas de moda e, pelas revistas e blogs de estilo, leva o título de it girl – por sinal, sempre contestado pela própria. Alexa é um tanto alternativa, com um pé no indie rock e outro no romantismo e, em pouco tempo, virou queridinha de estilo dos mais descolados.
Vive pelos tapetes vermelhos vestida de grifes, mas já disse algumas vezes em entrevistas que a maioria das peças caras que desfila são emprestadas e que os preferidos do seu guarda-roupa foram quase todos garimpados em brechós confusos pelo mundo – as thrift shops, como são conhecidos lá fora. Tanto que, entre o fim de 2010 e o início de 2011, Alexa esteve às voltas com as gravações do programa Thrift America, em que, como apresentadora, desenterrava tesouros de lojas de usados pelos Estados Unidos.
Com status de especialista, Alexa vive distribuindo dicas de compras em brechós em entrevistas. Algumas delas:
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# Invista em casacos escolares tipo high school norte-americana. São clássicos.
# Cheire a peça antes de comprar.
# Não use nada antes de lavar com cuidado.
# Não tenha medo de explorar a seção masculina. O andrógino pode ser chique.