Antes de passarem sete meses na África, Flora Pereira e Natan de Aquino eram apenas estudantes prestes a se formarem na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Depois de 35 mil quilômetros rodados por oito países do continente, a jornalista e o designer se tornaram protagonistas de um processo de difusão da cultura africana aqui no Brasil.
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>> Veja as imagens do projeto Afreaka
No fio condutor desta transformação está o Afreaka: um site com financiamento colaborativo (via crowdfunding) com reportagens, fotografias, vídeos e ilustrações que são verdadeiros retratos das regiões Sul e Leste africanas. África do Sul, Namíbia, Botswana, Zimbábue, Zâmbia, Tanzânia, Quênia e Moçambique foram visitados por transporte público.
Os dois dormiam em acampamentos, albergues e quartos baratos, quando não contavam com couchsurfing (rede social que faz a ponte entre turistas que querem se hospedar e moradores que desejam receber pessoas gratuitamente em suas casas) ou até com a adoção temporária de algumas famílias.
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– O orçamento era bem modesto, mas estávamos dispostos e apaixonados pela ideia, então para nós não era nenhum problema. Sem contar que essas experiências nos proporcionavam uma aproximação muito maior com os cidadãos e a cultura local – explica a jornalista.
Um braço na educação
A ideia de Flora e Natan ao embarcarem para a África do Sul, ponto de partida da viagem, em agosto de 2012, era a de contar histórias do continente. Mas o site atrativo – com belas imagens e relatos instigantes de um mundo novo – chamou a atenção do público, e o projeto começa a ganhar novos rumos.
– Durante a viagem começamos a receber e-mails de estudantes e professores que nos contavam que estavam usando o conteúdo dentro das salas de aula. Assim fomos percebendo o potencial educativo do projeto – conta Flora.
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Com o site Afreaka no ar, além dos 24 mil curtidores da fanpage, surgiram convites para palestras e exposições, principalmente no Estado de São Paulo. Foi o suficiente para planejarem a segunda parte da expedição, desta vez pelo lado Oeste da África. A nova viagem inclui seis meses de apuração e uma ampliação no site – com seção de notas e artigos, dicas de artistas e eventos ligados ao tema – e uma página colaborativa de cultura africana. Para conhecer mais e colaborar, acesse o site do projeto.
África múltipla
Marrocos foi o aperitivo para a viagem que Flora e Natan fariam meses mais tarde.
– A nossa visita àquele país anos antes foi um choque em relação à quebra de estereótipos. Encontramos uma terra social e culturalmente rica, plena de histórias – conta Flora.
Mas o interesse pela África sempre foi percebido por ambos.
– Éramos apaixonados pelo continente, tínhamos planos de morar na África e fazer uma experiência de trabalho. Quando começamos a planejar a mudança e pesquisar mais a fundo, percebemos o quão forte era essa visão estereotipada – diz a jornalista.
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Sem pautas
Não havia pauta ou qualquer definição de assuntos. Os temas surgiam à medida que avançavam pelo território.
– Artistas, iniciativas inovadoras, projetos exemplares pipocavam por todos os lados. Precisávamos filtrar para cobrir o máximo. A qualidade do material, a importância da pauta para o tema e o impacto social predominavam. A ideia era mostrar a capacidade e o protagonismo local – lembra Flora.
No trabalho dos dois, ficou evidente a ponte entre Brasil e África. Semelhanças que vão além de detalhes:
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– A formação urbana das cidades é a proximidade mais evidente. Os hábitos alimentares também são os mesmos. A linha de pensamento, a forma como se estrutura o convívio na sociedade, a relação de amizade e família. Nos sentíamos em casa nos países em que passamos – completa.
África urbana
Na volta ao Brasil, a percepção de como olhamos a África foi um fator de estímulo para manterem o site no ar.
– Falta informação. A África é mais urbana do que acredita o imaginário coletivo. O 3G em qualquer país que passamos é infinitamente mais eficaz do que por aqui, e o 4G já era realidade na Namíbia. Setores da medicina e a tecnologia utilizada nas estradas da África do Sul são referências para profissionais brasileiros. A Tanzânia está reescrevendo sua constituição de maneira participativa com o apoio e interferência direta da população. Sem contar a inovação e qualidade artística que encontramos. Jim Chuchu, do Quênia, é um artista digital que faz um trabalho fantástico com fotografias. A revista Chimurenga e a música kwaito – uma espécie de house africano -, da África do Sul, entraram para nossas vidas – relata a jornalista.
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