O país que tem o maior juro do mundo, o valor gasto com taxas em um ano seria suficiente para manter 10 programas como o Bolsa Família. São R$ 229,2 bilhões, segundo cálculo feito para ZH pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP). A quantia se aproxima do valor total que o Rio Grande do Sul produz em um ano: o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado é R$ 281,2 bilhões.
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E neste ano, o número ainda vai inflar, se for mantida a tendência do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) em aumentar a taxa Selic. Esse engolidor de orçamentos ajuda a criar uma legião de endividados e inadimplentes.
– O consumidor não percebe o aumento do juro porque não é expressivo em relação à taxa anterior. No longo prazo, pode comprometer o orçamento familiar – adverte Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Vídeo: entenda a relação entre juro e inflação
Se o valor em juro que todos os brasileiros pagam fosse dividido igualmente entre toda a população, cada cidadão seria obrigado a desembolsar R$ 1,1 mil por ano. Mas há quem gaste bem mais, como o desenhista mecânico Cláudio Fernando Paixão. Autônomo, ficou alguns meses sem trabalhar devido a um problema de saúde. Acabou caindo na teia do cheque especial, uma das modalidade com juro mais alto no país.
A dívida, que era de R$ 3 mil em agosto do ano passado, transformou-se em R$ 7 mil em janeiro. Recuperado, Paixão corre agora atrás do prejuízo e tenta tirar a conta do vermelho. Pretende negociar em 60 parcelas. Sabe que provavelmente terá de pagar ainda mais juros. Mas no momento está mais preocupado em quitar a conta.
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Se o brasileiro gastou muito com juro, as empresas não ficam atrás. Segundo as estimativas da Fecomercio-SP foram R$ 134,9 bilhões em 2013. Esse valor só não foi maior porque o empréstimo para pessoas jurídicas costuma ser mais barato.
– Junto com os tributos, a taxa de juro come boa parte da renda do país – afirma Altamir Carvalho, assessor econômico da Fecomercio-SP.
Se o juro médio de crédito para pessoa física caísse, por exemplo, de 2,6% por mês para 1% – mais próximo de padrões internacionais -, sobrariam R$ 140 bilhões que poderiam ser direcionados para o consumo.
Os recursos drenados dos orçamentos familiares e dos planos de investimentos das empresas recheiam cofres de bancos e até de redes de varejo, que nos últimos anos descobriram na oferta de crédito outra fonte de lucros.
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