Relatos repletos de medo de famílias que vivem nos Estados Unidos tem chego até o influenciador mineiro Junior Pena, popular entre a comunidade de imigrantes brasileiros nos Estados Unidos. As promessas de deportações em massa e blitz para capturar imigrantes ilegais de Donald Trump tem feito com que pessoas mudem a rotina, evitem sair de casa e até pensem em voltar ao Brasil.

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Pena tem mais de 1 milhão de seguidores no TikTok e vive nos EUA há 15 anos. As notícias das mudanças na política de imigração americana trouxeram um outro ar para os ambientes frequentados por imigrantes brasileiros, como mercados e igrejas evangélicas, de acordo com relatos da BBC Brasil.

— Os cultos estão bem mais vazios, as pessoas estão com medo até de ir para a igreja — afirma Fernanda*, estudante brasileira que mora em uma das cidades no país com maior número de brasileiros.

Uma série de medidas relacionadas à imigração foram anunciadas por Trump desde sua posse, em 20 de janeiro, com foco em migrantes sem documentos nos EUA. Em mais de 21 ações, Trump tomou medidas para reformular partes do sistema de imigração dos EUA, incluindo como os migrantes são processados e deportados do país.

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As ordens do presidente incluem liberação da detenção em igrejas, escolas e clínicas. Ainda, os policiais do Departamento Antidrogas do país ou os Marshals, como são conhecidos, têm recebido ordem de detenção de imigrantes irregulares.

Membros do governo americano e a Casa Branca têm falado que o foco das operações são imigrantes “criminosos” que ameaçam “a segurança pública e a segurança nacional”.

Porém, há relatos de pessoas que não cometeram crimes nos EUA, mas ainda assim foram detidas, o que tem assustado a comunidade brasileira. Há casos de detenção de cidadãos sem documentos, mesmo sem apresentação de mandado, e de pessoas que estavam em processo de conseguir a cidadania, com data da audiência marcada.

A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou nesta terça (28) que qualquer pessoa que tenha migrado irregularmente para os EUA é um “criminoso”. Segundo Leavitt, Trump quer que todos os imigrantes ilegais sejam removidos, o que engloba desde assassinos até migrantes que não tenham registros criminais.

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— Se eles violaram as leis da nossa nação, eles são criminosos — declarou.

Mensagens de alerta e clima de medo

Ainda que brasileiros entrevistados pela BBC Brasil tenham repetido que o governo Trump está em busca de imigrantes “criminosos”, mensagens que circulam pelo WhatsApp alertam sobre o chamado “dano colateral”.

O termo é usado para definir imigrantes sem documentos e sem ficha criminal, que acabam sendo levados junto aos alvos primários, com crimes.

— As pessoas estão bem assustadas e com muito medo. E a gente tenta cuidar, ver com quem está trabalhando, com quem está andando, porque se estiver próximo a alguém que tem problema, vai acabar sendo um dano colateral, né?! — conta Dinorah*, moradora da Carolina do Norte que entrou no país com um visto de turismo e nunca mais foi embora.

— Eu acredito que eles querem pegar bandidos para deportação. Mas se você estiver no lugar errado na hora errada, vai ser pego — acrescenta Ricardo*, brasileiro que é acompanhado por milhares de imigrantes nas redes sociais.

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Ele afirma que foi orientado por advogados a não ir em lugares com muitos imigrantes e nem conviver com pessoas que você não conheça o passado ou a ficha criminal.

— Se você mora numa casa com muitos imigrantes, eles podem ir lá pegar uma pessoa e levar todo mundo que está dentro da residência — diz Ricardo.

Entre outras recomendações estão evitar idas a supermercados brasileiros, festas de imigrantes e aglomerações, assim como redobrar o cuidado no trânsito, dirigindo dentro do limite e sem cometer infrações.

O influenciador Junior Pena vive no país sem documentos há 15 anos e costumava levar uma vida comum, trabalhando na construção civil, além de ser influenciador, podendo viajar de férias em voos internos, tirar carteira de motorista e alugar casas. Porém, agora o medo tem feito ele repensar os planos.

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— Eu tinha viagem marcada para visitar o Alasca, mas não vou mais. Não é o momento para a gente entrar no avião — conta.

Até quem está com documentos em dia tem sido afetado pelo novo momento vivido no país. Um pastor brasileiro com atuação em Orlando, que preferiu falar à BBC News Brasil reservadamente para não se associar ao tema afirmou que a sua igreja “não recomenda nem estimula ninguém a vir aos Estados Unidos sem as devidas autorizações”

— Lógico que causa pânicos nas pessoas, grande parte imigrante sem documento, que não são criminosos nem delinquentes. Depende do lado que se vê: para o cidadão americano que se viu mais pobre e inseguro, [as deportações] podem parecer ‘precaução’. Para os imigrantes indocumentados: tragédia, sem dúvida — afirma.

*Os nomes foram trocados a pedido dos entrevistados

*Com informações de g1 e BBC Brasil

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