O Brasil envolvido no evento do ano do vale-tudo mundial não é exatamente uma novidade. Mas em vez de nomes consagrados, como Vitor Belfort, Rogério Minotauro ou Anderson Silva, quem estará no ringue é uma paranaense de 24 anos.
Continua depois da publicidade
Na disputa de cinturão mundial de amanhã entre a brasileira Cristiane Cyborg Santos e a americana Gina Carano, a estrela maior, bem verdade, é a dona da casa. Em um país fanático por lutas, Gina, de 27 anos, se tornou musa.
A fama nacional veio em 2008, com a participação no reality show American Gladiator – uma espécie de gincana que mescla duelos e testes de resistência. Embora tenha um currículo inatacável no vale-tudo, sete vitórias (três nocautes) e nenhuma derrota, Gina, atleta de Muay Thai, lutará por respeito. Seus críticos a tratam como um golpe de marketing. Para calá-los, não poderia haver adversária melhor.
– É, talvez eu atrapalhe um pouco a carreira de modelo dela – declara Cris, com o bom-humor com que responde “sempre essa mesma pergunta”.
Cris falou sobre a beleza da adversária enquanto cuidava da própria. Conversou com ZH por telefone na saída do cabeleireiro, onde fazia as tradicionais trancinhas para a luta:
Continua depois da publicidade
– Levo na boa, minha questão com ela é só dentro do ringue.
E ali, o desempenho de Cris é avassalador. Por indicação de um amigo, o técnico e secretário de esportes de Curitiba, Rudimar Fedrigo, assistiu a um jogo de handebol em meados de 2005 para observá-la. Viu ali todos os pré-requisitos de uma lutadora. Foi convidada a ingressar na academia Chute Boxe, formadora de sete campeões mundiais de vale-tudo.
– Ela era atleta mesmo, sabe? Corria, tinha força e ainda ia treinar de bicicleta. Ela tem um desempenho cardiorrespiratório comparável a poucos homens – define Rudimar do aeroporto, de onde partiria para San Jose, Califórnia, para acompanhar a luta.
Para promover o evento, Gina treinou a céu aberto – invariavelmente contra homens – em frente ao Madison Square Garden, em Nova York. Na semana passada, teve publicado um longo perfil pelo The New York Times. Cris também faz sua parte pelo marketing. Rodou o mundo o vídeo em que um repórter questiona o tempo que demora para estrangular um adversário. Como resposta, dá uma gravata, conta até três e deixa o jornalista desacordado. Tudo combinado, mas o golpe foi verdadeiro, garante.
Cris perdeu apenas a primeira das suas oito lutas, em maio de 2005. De lá para cá, são sete vitórias (cinco nocautes) – todas com farta cobertura no YouTube. Em julho de 2008, nocauteou a americana Shayna Baszler faltando 15 segundos para o fim da luta. De olhos arregados, Gina assistia da plateia.
Continua depois da publicidade
– São as duas melhores lutadoras do mundo, e a Cris tem todas as condições de vencer – avalia Rudimar.
Otimista, o técnico detecta uma lenta mudança de mentalidade em relação ao esporte no Brasil:
– Só o que falta no Brasil é deixar o preconceito de lado. O país já é um celeiro impressionante de lutadores. Um dia chegará ao nível dos Estados Unidos, em que o vale-tudo é respeitado tanto como esporte quanto como entretenimento.
Elas no ringue |
O vale-tudo feminino tem poucas diferenças em relação ao masculino: |
– Em geral, o tempo dos três rounds de cinco minutos é diminuído para três. Como vale cinturão, Gina x Cris terá cinco minutos. |
– O protetor peitoral é opcional, mas poucas atletas usam, pois é desconfortável. Soco na região é considerado golpe baixo, passível de perda de pontos e desclassificação. Puxão de cabelo também. |
– O Strikeforce, evento que terá a luta como atração principal, não é transmitido para o Brasil. O site do evento vende a transmissão online, às 23h30min, por US$ 24,95 |