Os eleitores de Criciúma devem estar sentindo um inevitável déjà vu com essa situação que vive o Brasil – um candidato a presidente com registro negado pela Justiça Eleitoral liderando as pesquisas e fazendo da disputa um verdadeiro plebiscito sobre ele. Foi isso que a cidade do Sul do Estado viveu em 2012 quando o prefeito Clésio Salvaro (PSDB) tentava a reeleição com enorme popularidade, mas com uma condenação em segunda instância que inevitalmente barraria sua candidatura.
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De recurso em recurso, o tucano conseguiu chegar à eleição como candidato, com direito ao nome na urna e a receber 63% dos votos válidos dos criciumenses. A disputa foi marcada por adversários tentando fazer a população entender que Clésio era inelegível e pelos governistas garantindo que o resultado valeria. Não valeu. Os votos do tucano foram anulados e como somavam mais de metade do eleitorado que compareceu às urnas, outra eleição foi realizada cinco meses depois.
Venceu o então vice Márcio Búrigo (PP), apoiado por ele, com quase o mesmo percentual de votos, empurrado pelo popular ex-prefeito – romperiam pouco tempo depois, mas isso é outra história. O episódio foi o ápice da judicialização da política na cidade, que só normalizou em 2016, quando finalmente Clésio foi eleito e assumiu – já livre do prazo de inelegibilidade imposto pelo Lei Ficha Limpa.
Voltemos à eleição presidencial de 2018, ao ex-presidente Lula (PT) preso em Curitiba e condenado pelo Tribunal Regional da 4a Região, ao julgamento do Tribunal Superior Eleitoral que negou seu registro de candidatura – encerrado na madrugada do último sábado. Líder nas pesquisas, Lula foi lançado pelo PT em uma estratégia de reter até o último instante o eleitor lulista, impedir que ele identificasse outras opções à esquerda do partido e promover depois a migração para o plano B – o vice Fernando Haddad (PT).
O vigor de Lula nas pesquisas, a dificuldade dos tucanos de Geraldo Alckmin (PSDB) de recuperarem o eleitor perdido para Jair Bolsonaro (PSL) e a fragilidade das demais candidaturas, no entanto, parecem ter acendido no ex-presidente e no PT um sentimento semelhante ao que acometeu Clésio em 2012. Os movimentos jurídicos e políticos dão a impressão de que eles estão convencidos de que o melhor caminho é deslegitimar a eleição com uma vitória contundente do candidato que não pode assumir. Um risco alto – visto que se Lula não alcançasse mais de 50% do eleitorado, a eleição seria válida.
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A decisão do TSE no último sábado tem com pano de fundo uma tentativa de evitar esse cenário, de forçar o PT a trocar logo a candidatura e normalizar a eleição. Os petistas vão espernear, direito deles, e tentar usar o horário eleitoral para isso, o que deve ser questionado. Mas quem viu a confusão política que viveu Criciúma naquela época em que Clésio Salvaro decidiu que eleição sem ele era golpe, não pode querer essa situação ampliada a todo o país.