O Brasil assistiu a um salto no número de ataques a creches e escolas nos últimos 12 anos. Em 2011, um homem de 23 anos invadiu uma escola com dois revólveres e disparou contra alunos, matando 12 crianças, com idades entre 13 e 15 anos. O caso ficou conhecido como Massacre de Realengo (RJ).

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Desde então, ao menos mais 12 casos foram registrados e chocaram a sociedade. A grande maioria dos atentados se concentrou nos últimos cinco anos, desde 2018. No total, os ataques já somam pelo menos 38 pessoas mortas, entre alunos, professores, funcionários e, em alguns casos, os próprios autores.

Um dos episódios de maior comoção para os catarinenses ocorreu em Saudades, no Oeste de Santa Catarina. Em maio de 2021, um adolescente de 18 anos invadiu uma creche com uma espada e matou cinco pessoas — três alunos, uma professora e uma funcionária.

A pesquisadora de violência nas escolas e professora do Cead Udesc, Júlia Siqueira da Rocha, avalia que crimes como o desta quarta-feira têm um histórico grande nos Estados Unidos, sociedade com forte defesa armamentista e de uso da força. Segundo ela, o aumento dessas culturas no país, somado ao crescimento de células neonazistas, pode explicar a alta de ataques a escolas.

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A especialista detalha que os ataques a escolas têm em comum o traço de covardia, por buscarem como vítimas crianças, adolescentes ou mesmo mulheres, maioria entre os funcionários de unidades de ensino.
Uma diferença do caso de Blumenau em relação ao perfil de outros casos ocorridos no país, segundo ela, é o fato de, até agora, não haver informações sobre um vínculo do criminoso com a unidade de ensino escolhida para o ataque.

— De qualquer forma, entendemos que não é uma escolha aleatória. Ali tem um traço de covardia imenso porque eram crianças muito pequenas, com pouca probabilidade de se defender. Era um desejo de que o ato fosse trágico, com mortes. Ele foi para matar. Achava que quanto “maior” o ato, mais apareceria — avalia.

Relembre abaixo outros ataques a escolas e creches

Realengo (RJ) — abril de 2011

Ataque em escola de Realengo (RJ) deixou 12 mortes em 2011 (Foto: Antonio Scorza/AFP/Arquivo NSC)

Em 7 de abril de 2011, um homem de 23 anos invadiu uma escola com dois revólveres e disparou contra alunos, matando 12 crianças, com idades entre 13 e 15 anos. O caso ocorreu na Escola Municipal Tasso da Silveira, localizada no bairro de Realengo, no município do Rio de Janeiro.

Na ocasião, a motivação do crime foi dada como incerta, mas uma nota de suicídio deixada pelo autor e relatos de pessoas próximas indicaram que ele pesquisava sobre atentados terroristas e grupos religiosos fundamentalistas.

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Goiânia (GO) — outubro de 2017

Um estudante de 14 anos sacou da mochila uma arma de seus pais, que eram policiais militares, e atirou contra colegas de classe numa escola particular de Goiânia. O ataque resultou na morte de duas pessoas e deixou outros quatro feridos em 20 de outubro de 2017.

O menino afirmou à polícia que decidiu fazer os disparos porque sofria bullying. Os dois adolescentes mortos tinham 13 anos. Outros quatro ficaram feridos, sendo três meninas e um menino.

Medianeira (PR) — setembro de 2018

Um estudante de 15 anos atirou contra colegas em um colégio no Paraná em 28 de setembro, deixando dois feridos. O adolescente e um colega que lhe deu cobertura, ambos apreendidos pela polícia, cursavam o primeiro ano do ensino médio no Colégio Estadual João Manoel Mondrone, em Medianeira, no Oeste do Paraná. Eles chegaram a gravar um vídeo horas antes do ataque.

Suzano (SP) — março de 2019

A tragédia voltou a se repetir em 13 de março de 2019. Dois atiradores invadiram a escola estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, região metropolitana de São Paulo (SP). A dupla havia estudado na escola e matou cinco estudantes e duas funcionárias da unidade de ensino. Antes de efetuarem o ataque, eles também mataram o tio de um dos assassinos. Após assassinarem os alunos, um dos atiradores matou o comparsa e se suicidou.

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São Paulo (SP) — setembro de 2019

Um estudante de 14 anos esfaqueou um professor e, na sequência, desferiu contra si uma facada nas dependências do Centro Educacional Unificado (CEU) Aricanduva, na zona leste da capital paulista, em 19 de setembro.

As facadas causaram ferimentos na região do abdômen da vítima e do agressor, que era apontada como bom aluno e discreto. Ambos foram socorridos.

Testemunhas disseram à polícia que o adolescente escondeu a faca debaixo da manga de sua camiseta. Ele aproveitou a troca de aulas, esfaqueou o professor numa sala, retornou ao espaço onde estudava e desferiu uma facada contra si. O ataque causou pânico e correria entre alunos e professores.

Caraí (MG) — novembro de 2019

Um estudante de 17 anos armado com um facão e uma garrucha (arma de cano curto) feriu dois colegas no dia 7, em Caraí, no interior de Minas Gerais. O crime ocorreu na escola estadual Orlando Tavares, em um distrito da zona rural da cidade.

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De acordo com a Polícia Militar, o estudante, que cursa o 3º ano do ensino médio e acabou detido, pulou o muro da escola e invadiu uma das salas de aula, onde desferiu golpes contra os colegas. Um dos estudantes foi atingido por um tiro no pescoço e o outro foi ferido com golpes de facão nos braços. As duas vítimas foram socorridas.

Saudades (SC) — maio de 2021

Creche de Saudades foi alvo de ataque com cinco pessoas mortas em maio de 2021 (Foto: Sirli Freitas, arquivo NSC)

Outro ataque a unidades de ensino impactante para os catarinenses foi a chacina de Saudades, no Oeste de Santa Catarina. O caso ocorreu em 4 de maio de 2021. Um rapaz de 18 anos invadiu a Escola Aquarela com um facão e matou três crianças, uma professora e uma funcionária. Todas as vítimas sofreram ao menos cinco golpes do criminoso. Ele ainda teria tentado se matar com cortes no próprio corpo, mas foi levado ao hospital em estado gravíssimo e sobreviveu.

Em outubro do ano passado, a Justiça determinou que ele seja levado a júri popular. O autor responderá por cinco assassinatos e 14 tentativas de homicídio. Atualmente, ele permanece preso.

Rio de Janeiro (RJ) — maio de 2022

Três adolescentes foram esfaqueados em uma escola municipal na Ilha do Governador, zona norte do Rio, em 6 de maio. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, um menino e duas meninas com idades entre 13 e 14 anos tiveram ferimentos leves.

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De acordo com a pasta, os jovens da Escola Municipal Brigadeiro Eduardo Gomes foram feridos por um outro estudante. Na época, o prefeito Eduardo Paes (PSD) disse que o jovem de 14 anos apresentava problemas psicológicos e comportamento agressivo.

Barreiras (BA) — setembro de 2022

Um adolescente de 14 anos usando um revólver e armas brancas invadiu uma escola, atirou contra estudantes e matou uma aluna no dia 26 de setembro do ano passado, na cidade de Barreiras, a 875 quilômetros de Salvador (BA). A vítima tinha 19 anos, era aluna do colégio e cadeirante. O autor do disparos também estudava no local.

Antes do ataque, o adolescente disse em uma rede social o que faria. “Irá acontecer daqui quatro horas e eu estou bem de boa. Estou tão calmo, nem parece que irei aparecer em todos os jornais”, afirmou o no Twitter.

Dias antes, o garoto havia publicado uma carta de despedida e postado mensagens em que disse que “o dia do massacre está chegando” e dava a entender que estaria morto nos próximos dias.

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Na tentativa de fuga, o autor dos disparos foi atingido por um tiro que partiu de uma outra pessoa e foi hospitalizado. Segundo informações do portal g1, ele ficou tetraplégico e atualmente cumpre medida socioeducativa em casa.

Sobral (CE) — outubro de 2022

Em 5 de outubro de 2022, um adolescente de 15 anos foi apreendido por suspeita de atirar em três colegas dentro da escola estadual Professora Carmosina Ferreira Gomes, em Sobral (CE). Uma das vítimas foi atingida na cabeça. As outras ficaram feridas na perna e de raspão na cabeça. A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social no Ceará disse que a arma utilizada no crime estava registrada em nome de um CAC (Colecionador, Atirador e Caçador).

Inicialmente, a polícia declarou que a arma pertencia ao pai do adolescente, que havia afirmado isso em depoimento. Mas, ao checar informações, descobriu-se que ela pertence a uma terceira pessoa, cuja relação com o jovem não foi informada.

O adolescente teria contado à polícia que sofria bullying na escola e, devido a isso, teria premeditado o ataque.

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Aracruz (ES) — novembro de 2022

Em 25 de novembro de 2022, um assassino atacou duas escolas e matou três pessoas em Aracruz, no Espírito Santo. Outras 13 pessoas foram atacadas e ficaram feridas. O autor, de 16 anos, invadiu uma escola estadual com uma pistola e efetuou vários disparos, matando duas professoras. Em seguida, deixou o local de carro e foi para uma escola particular, que fica na mesma rua. No novo local, uma aluna foi morta. No crime, ele usou as armas do pai, um policial militar. O autor das mortes tinha 16 anos e vai cumprir até três anos de internação.

São Paulo (SP) — março de 2023

No dia 27 de março deste ano, quatro professoras e um aluno foram esfaqueados na Escola estadual Thomazia Montoro, no bairro Vila Sônia, em São Paulo (SP). Uma professora de 71 anos morreu e as outras ficaram feridas. O agressor era um rapaz de 13 anos que cursava o oitavo ano do ensino fundamental. Ele foi contido por uma educadora.

Blumenau (SC) — abril de 2023

Ataque a creche em Blumenau nesta quarta-feira (5) deixou quatro crianças mortas (Foto: Tiago Ghizoni, Jornal de Santa Catarina)

No dia 5 de de abril de 2023, um homem de 25 anos invadiu a creche Cantinho Bom Pastor, no bairro Velha, em Blumenau. Ele pulou o muro da instituição e matou a golpes de machadinha quatro crianças que brincavam no parque. As vítimas tinham idade entre 4 e 7 anos. Outros quatro alunos ficaram feridos e foram levados a hospitais. Após o crime, ele se deslocou com uma moto até a um batalhão e se entregou à Polícia Militar. O caso é investigado pela Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), da Polícia Civil.

* Com informações da Folhapress

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