A proposta é espetacular: em cinco volumes, 179 colaboradores, incluindo Mario Vargas Llosa, Peter Burke, Umberto Eco e figuras mais conhecidas no mundo acadêmico, como o brasileiro Roberto Schwarz, dissecam a história (quase) milenar do romance. A coordenação é do crítico italiano Franco Moretti.
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O problema é que nós, brasileiros, ganhamos apenas o primeiro volume, A Cultura do Romance. A editora Cosac Naify o traduziu em 2009, prometendo para o ano seguinte a continuação, e até hoje nada. A série original saiu em italiano, entre 2001 e 2003. Em 2006, foi publicada uma versão reduzida em inglês, em dois volumes. Admiro as edições ambiciosas da Cosac Naify, e tanto a qualidade gráfica como a extensão do primeiro volume (1120 páginas) justificam o preço salgado (R$ 149,90), embora não pareçam tornar a série comercialmente muito viável. Talvez não seja por acaso que a editora às vezes faça promoções com descontos de até mais de 50%.
Como sintetiza Moretti, o romance é “um grande acontecimento cultural, que redefiniu o sentido da realidade, o fluxo do tempo e da existência individual, a linguagem e as emoções e os comportamentos”. Já no primeiro volume temos um mapeamento complexo do gênero, incluindo suas manifestações orais, sua história na China, seu enraizamento na Europa. Lemos uma resenha da época do lançamento de Os sofrimentos do jovem Werther (1774); o processo jurídico contra Madame Bovary (1857); uma avaliação das “patologias da leitura romanesca” dos leitores modernos, como o próprio bovarismo; ensaios sobre como os romances construíram a “paisagem interior” dos personagens; sobre best-sellers remotos, escrita feminina, ou a relação do romance com o cinema e com a paisagem urbana.
O livro já chega a alguns romances do século 20, porque a ideia não é uma divisão temporal, e sim temática entre os volumes. Para quem não puder gastar 150 patacas, a Biblioteca da UFSC tem exemplares. Quem não dispõe de uma carteirinha pode simplesmente ficar lendo por lá.
O Capital
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Um dos livros mais imperdíveis de 2013 (no Brasil, publicado em 2014) foi O Capital no século XXI, de Thomas Piketty. O livro parte de um estudo inédito, abrangendo mais de 20 países e 200 anos, e embora ressalte uma piora recente geral da distribuição de renda (os EUA, por exemplo, voltaram à sua concentração mais infame, pré-crise de 1929), chega a conclusões menos apocalípticas que Marx. Para quem lê esperando aprender algo, em vez de reforçar obstinações, é imperdível. Espero comentá-lo aqui em breve.
Festival Nacional do Conto
Começa na terça-feira e vai até domingo (24), no Teatro Sesc Prainha, em Florianópolis, o 5º Festival Nacional do Conto. Nos dias de semana há painéis gratuitos com contistas sempre às 20h. No final de semana os eventos, que incluem uma oficina de escrita, se distribuem ao longo do dia. A edição homenageia o baiano Hélio Pólvora, tido como um dos grandes contistas brasileiros e falecido em março, aos 86 anos. Mais informações sobre o festival pelo fone (48) 3229 2200 pu no site