O Brasil está longe de permanecer salvo da ameaça terrorista. Pelo contrário. Essa é a opinião do Analista de Assuntos Estratégicos André Luís Woloszyn. Gaúcho, o coronel reformado da Brigada Militar é um dos maiores especialistas brasileiros em contraterrorismo. Escreveu três livros sobre o tema (com destaque para Terrorismo Global – Aspectos Gerais e Criminais), fez cursos no Exterior e foi analista da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Nessa entrevista, ele analisa os atentados de Paris e os riscos para outros países, como o Brasil:

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AO VIVO: Siga a cobertura dos atentados em Paris

O que o senhor achou dos atentados em Paris? É uma nova fase do Estado Islâmico?

Eram previsíveis. Começou com o ataque ao jornal Charlie Hebdo, ocorreram mais uns três, pouco divulgados, e agora esse massacre. Encurralado, o ISIS (ou EI) passou um duro recado: não há lugar seguro para seus inimigos. É a velha mensagem terrorista, agora amplificada pela internet. Eles tentam inviabilizar a conferência mundial que ocorrerá na França, em alguns dias. Talvez consigam.

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O que deu errado no combate ao terrorismo

O senhor enxerga algum risco para o Brasil?

Sim. Vamos sediar as Olimpíadas no ano que vem. E o Brasil nem de longe está preparado para terrorismo, até por desconhecer esse problema em décadas recentes. Se a França, acostumada ao terror desde a Guerra de Independência da Argélia, foi miseravelmente surpreendida com esses ataques da sexta-feira, o que dirá de um país como o Brasil, sem tradição de combate a esse tipo de crime?

O Califado do Terror: um retrato do Estado Islâmico

Mas por que atacariam no Brasil, um país sem tradição de beligerância, sem engajamentos com guerras dos outros?

Porque o território é propício, sem maiores controles. E, veja, o Brasil vende armamento. Bombas cluster fabricadas no Brasil (do tipo que espalha pequenos projéteis explosivos), proibidas pela Convenção de Genebra, foram lançadas na Síria e no Iêmen, em áreas controladas pelo Estado Islâmico. Até coisas assim podem gerar vingança. Mas espero que não aconteça, para nosso bem.

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Atentados em Paris

Mais de cem pessoas morreram na noite desta sexta-feira, em Paris, na França, após uma série de ataques terroristas em diversos locais da capital francesa. Tiroteios e explosões ocorreram de maneira coordenada em pelo menos seis lugares, segundo o jornal Le Monde, que cita uma fonte judicial: no Boulevard Voltaire, em frente ao bar La Belle, Bataclan, na Rua de la Fontaine, no bar Carillon e no Stade de France. Pelo menos cinco terroristas foram “neutralizados” à noite. A informação foi anunciada por François Molins, procurador de Paris.

Logo após os ataques, o Itamaraty confirmou dois brasileiros entre os feridos nos atentados. Parisienses descrevem como “estado de guerra” a situação da capital francesa no momento, alertando para um possível crescimento da onda xenófoba, ultranacionalista e de extrema direita no país, que está a três semanas das eleições regionais.

O presidente francês, François Hollande, decretou estado de emergência e fechou as fronteiras do país. Moradores são aconselhados a não deixarem suas casas. Todos os locais públicos, como escolas, museus e bibliotecas, permanecerão fechados neste sábado em Paris. O presidente pediu confiança à população francesa e garantiu que as autoridades do país devem ser “duras e serenas” para “vencer os terroristas”.

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O presidente norte-americano Barack Obama também se pronunciou após os ataques, garantindo apoio à França e descrevendo as ações como “ataques contra a humanidade”. Pelo Twitter, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff,se disse “consternada pela barbárie terrorista” e expressou seu “repúdio à violência” e “solidariedade ao povo francês”.

Confira o mapa dos ataques:

*Zero Hora